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Um dia após cassar vôos da Vasp, governo recebe Varig

Por Agencia Estado
Atualização:

Menos de 24 horas depois de cassar os últimos vôos que a Vasp ainda vinha operando, o governo recebeu em audiência a cúpula da Varig para debater o programa de recuperação da empresa. Os dois fatos exemplificam a diferença de tratamento oficial que as concorrentes têm recebido na busca de solução para suas crises. Para analistas e funcionários da Vasp, a expressão "dois pesos, duas medidas" resumiria o cenário atual. Eles reconhecem, contudo, que os problemas das duas empresas são bem diferentes. "Quem é perdedor tem mesmo que sair do jogo, não adianta ficar só piorando", disse o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia. Para ele, no entanto, não existe diferença no tratamento dado à Varig e à Vasp. O próprio governo já indicou, porém, que a Vasp não vem adotando medidas práticas, a exemplo da Varig, como a contratação de um banco e o apoio de uma consultoria na tentativa de encontrar uma saída para continuar no mercado. Em novembro passado, o isolamento do presidente da Vasp, Wagner Canhedo, durante a cerimônia de posse do ministro da Defesa, José Alencar, refletia a situação da empresa. "O que a Vasp sente é que não existe isonomia de tratamento. Parece que o que se vê é um sentimento pragmático de que o fim da Vasp, sendo pequena, não causaria tanto problema quanto o da Varig", diz um diretor da Vasp, que pediu para não ser identificado. Um aeronauta da empresa tem opinião parecida, mas admite que o obstáculo para a salvação tem nome. "O maior problema que a gente tem é o Wagner Canhedo. A única solução é enfrentarmos esse senhor, que impede que consigamos apoio", diz. Segundo outra fonte do setor, o executivo teria perdido toda a credibilidade que tinha em Brasília, onde iniciou carreira transportando madeira. Wagner Canhedo foi procurado pelo Estado, mas não quis se manifestar. A influência do empresário não impediu que ele ganhasse a fama de mau pagador. Só ao INSS, deve R$ 630 milhões em cobrança judicial. "Eles (o governo) levam o Canhedo pouco a sério. Ele é um aventureiro no sentido amplo da palavra", diz uma pessoa próxima a Alencar. Do outro lado, fonte do setor que acompanha a trajetória de Canhedo conta que a família do executivo teria receio até de que ele eventualmente decidisse oferecer seus bens como parte da solução da Vasp. Consultor de aviação, Paulo Sampaio destaca que são duas situações bem distintas as da Varig e da Vasp. Enquanto uma empresa vem cumprindo sua programação de vôos, a outra vinha cancelando todos. Os dados do DAC mostram a diferença de performance, apesar das crises financeiras semelhantes. Em dezembro, o índice de regularidade de vôos da Varig era de 89% diante dos 10% da Vasp, cuja eficiência operacional ficou em 5%, ante os 82% da concorrente. "A Varig é infinitamente maior, não tem frota geriátrica e atende a todos os momentos as exigências do governo. A Vasp tem uma administração irresponsável", reconhece a presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários, Selma Balbino. Falta de prioridade foi a definição usada pela líder dos Aeronautas, Graziella Baggio, ao avaliar a relação do governo com as duas empresas. Para ela, não há diferença. "O governo não deu a prioridade necessária ao setor. Reconheço que o presidente Lula recebeu o Brasil com sérios problemas, mas a aviação é muito importante para o País", diz.

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