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Um fast food em cada esquina

McDonald’s, Bob’s, Subway e Burger King inauguram o maior número de lojas da última década em busca de espaço no mercado brasileiro 

Por Melina Costa
Atualização:

Está em curso uma guerra não declarada entre as redes de fast food no Brasil. Em uma corrida para conquistar territórios, algumas das principais cadeias fecharão 2012 com o maior número de novas lojas registrado na última década. Juntos, McDonald’s, Bob’s, Subway e Burger King terão inaugurado 782 pontos de venda, um aumento de 23% em relação ao ano passado. "Comparo esse período com o início do Plano Real, quando houve um salto na alimentação fora de casa", diz Tupa Gomes, presidente da Martin-Brower na América Latina, distribuidora logística que atende McDonald’s, Bob’s e Subway.

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O caso do McDonald’s, líder no mercado, é exemplar. Serão mais de 70 novos restaurantes em 2012, contra 47 no ano passado e 40 em 2010. O concorrente Bob’s, depois de registrar o maior crescimento dos últimos dez anos em 2011, promete repetir o feito agora. Já o Burger King dobrou de tamanho no Brasil desde que o grupo de investidores Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira assumiu o comando da rede global há dois anos. Para os próximos quatro, a meta é passar de 300 para mil pontos de venda.

Mas o caso mais impressionante é o da rede Subway, que tem aberto uma loja por dia no segundo semestre. "O Brasil é o mercado onde a empresa mais cresce fora dos Estados Unidos. Vamos chegar à nossa loja de número mil em 15 dias", diz Roberta Damasceno, gerente nacional do Subway. Por trás desse resultado estão as características das lanchonetes da rede (bem menores que as dos concorrentes e sem equipamentos como chapas e fritadeiras) e o modelo de negócios, baseado em um grande número de franqueados.

Até agora, a rede conta com 490 empresários parceiros no País, sendo que a maioria tem apenas uma loja. Trata-se de um esquema diferente do McDonald’s e do Burger King, por exemplo, que preferem concentrar mais lojas em um número menor de franqueados. No caso do primeiro, são 63 parceiros e, no caso do segundo, são 10.

Efeito manada. O mercado de fast food, que movimentou R$ 55 bilhões no ano passado, deve crescer a um ritmo de 56% até 2016, segundo a consultoria Euromonitor. Nesse cenário, as principais redes de franquias de alimentação no Brasil, hoje com 3,1 mil lojas, já têm planos de quase dobrar de tamanho até 2014, com a inauguração de mais 2,5 mil unidades.

A explicação para tanta euforia está em uma mudança de comportamento dos consumidores: com o aumento do poder aquisitivo e um baixo índice de desemprego, os brasileiros se rendem cada vez mais à alimentação fora de casa. Em 2004, foram servidas diariamente 56 milhões de refeições em lanchonetes, restaurantes, bares e padarias. Hoje, esse número já chega aos 63 milhões e a expectativa é de que alcance os 70 milhões em 2014, segundo a ECD, consultoria especializada em food service.

Não bastasse a expansão do setor como um todo, o mercado de fast food é fragmentado o suficiente para permitir o crescimento das redes apenas roubando participação dos concorrentes. O McDonald’s, por exemplo, é líder com 8% das vendas, segundo a Euromonitor. Do jeito que as oportunidades se apresentam, a estratégia das empresas tem sido ocupar espaço rapidamente para abocanhar o maior pedaço possível do mercado. "As redes pensam mais ou menos assim: se meu concorrente está abrindo lojas, eu também tenho de abrir", diz o consultor especializado em franquias Marcelo Cherto.

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Desafios. Mas essa não é uma tarefa fácil. O principal obstáculo das cadeias é encontrar áreas disponíveis e a preços razoáveis. Segundo estimativa de Mauricio Itajyba, gerente de locações da Cushman & Wakefield, o aluguel de espaços em praças de alimentação em shoppings de São Paulo subiu de uma faixa de R$ 70 a R$ 200 por m² para R$ 100 a R$ 300 nos últimos quatro anos.

O McDonald’s, por exemplo, tem um time de 50 pessoas espalhadas pelo País em busca de terrenos de 2 mil m² para seus restaurantes de rua - nessa categoria, a empresa concorre com outros segmentos aquecidos do varejo, como farmácias e supermercados. A rede também desenvolveu um software para ajudar nessa missão. Mesmo com toda a infraestrutura, porém, tem sido cada vez mais raro encontrar terrenos ideais. Recentemente, o McDonald’s comprou cinco áreas - uma ao lado da outra - para dar lugar a uma só loja e, em outro imóvel, precisou construir mais de 30 colunas para alinhá-lo com o nível da rua.

Outra tática usada pelas redes tem sido ampliar sua presença territorial para além de um grupo de 150 cidades que sempre foram o foco. O Bob’s, por exemplo, fez um roadshow por 15 municípios neste ano para atrair franqueados do interior. "Nosso ritmo de inaugurações não aconteceria sem o modelo de franquias", disse Marcelo Farrel, diretor da marca Bob’s, logo depois de participar da inauguração da primeira loja Bob’s em Rio do Sul, cidade catarinense com 61 mil habitantes. Enquanto nas capitais a rede cresce 12%, no interior o ritmo chega a 26%.

Em outra frente, as redes em expansão precisam lidar com a escassez de mão de obra, mesmo para as vagas que exigem pouca qualificação. Segundo o Estado apurou com executivos do setor, é comum que candidatos a atendentes de lojas desistam do emprego depois de 20 dias de treinamento porque receberam propostas melhores. No segmento de fast food, os salários iniciais variam entre R$ 400 e R$ 800 - compatíveis com valores oferecidos por empresas em que não é necessário trabalhar aos fins de semana. Em média, a rotatividade de mão de obra no setor de alimentos é de 80% ao ano.

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Por fim, o crescimento é apenas parte da equação para as empresas de fast food. A outra é a rentabilidade. No terceiro trimestre, as vendas da Arcos Dorados, operadora do McDonald’s na América Latina, caíram 2,2% na comparação com o mesmo período do ano passado. Também houve redução de 12% no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização).

O principal responsável pela queda foi o Brasil, onde as vendas "moderadas" não compensaram a depreciação do real. Nesse período, o maior motor de crescimento da companhia foram as promoções de sanduíches como o Big Mac, chamado de "ícone" pela rede. Em conferência com analistas, a empresa destacou que a estratégia pode reduzir margens em um primeiro momento, mas que os consumidores devem gastar mais no futuro. Apesar disso, as promoções devem continuar. "A obsessão dessas redes agora é ganhar mercado. Só numa segunda etapa é que elas vão concentrar esforços para melhorar as margens", diz Enzo Donna, da ECD. /COLABOROU NAIANA OSCAR 

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