PUBLICIDADE

Publicidade

Um longo caminho até sua empresa

Por Ligia Aguilhar
Atualização:

Economia aquecida aumentou o interesse por franquias em São Paulo e no Rio de Janeiro. Resultado: é preciso esperar para ser empreendedor

Dizem que os paulistanos adoram uma fila. E a julgar pelo mercado de franchise, os cariocas também. As duas cidades são campeãs de espera, que chega a dois anos, para a abertura de novas unidades das principais redes em atividade no País.

PUBLICIDADE

Há um conjunto de fatores que explicam as filas atuais: o crescimento da economia, o aumento da procura por esse modelo de negócio, o aquecimento imobiliário - e a consequente elevação dos preços dos imóveis -, além da falta de espaço para a expansão de empresas que já reúnem expressivo número de franqueados. Isso tudo sem levar em conta o fascínio do candidato a empreendedor pelas marcas mais famosas.

É o caso do Spoleto. Há cerca de um ano a empresa acumula interessados em abrir unidades da rede em São Paulo e Rio de Janeiro. Com lojas espalhadas nos principais shoppings dessas cidades, falta espaço para novos negócios. Cenário que torna o trabalho da diretora de expansão, Renata Rouchou, cada vez mais difícil.

Sua primeira ação é apresentar alternativas aos interessados. "Há muitas possibilidades imediatas no interior e em outros estados", explica.

Quando a ideia não é bem recebida pelo interessado, ela sugere outras duas empresas do grupo Umbra (do qual faz parte o Spoleto) com espaço para expansão: a Domino's Pizza e a Koni Store. Ainda assim, há quem prefira esperar até dois anos para comandar uma unidade da rede - algo em torno de 50 pessoas atualmente.

Para esse grupo, a esperança é surgir alguma oportunidade de repasse de loja ou o anúncio da construção de um novo shopping, o que abriria espaço para mais um restaurante. Mas nem isso é garantia de diminuição da fila, afinal, os atuais franqueados contam com a preferência da marca na abertura de novas unidades.

Publicidade

Relacionamento

Foi assim que Élio Zafalão Juliano, de 61 anos, conseguiu sua quarta unidade do Spoleto. Ela será no shopping Mooca, que deve ser inaugurado em novembro na cidade de São Paulo. E mesmo a preferência conferida ao empreendedor pela rede não o livrou de esperar um ano e meio, situação oposta a que enfrentou com os outros três restaurantes administrados por ele e abertos sem espera. "Se uma pessoa se identifica com uma marca e está pensando no futuro, vale esperar porque o retorno será muito melhor."

Renata Rouchou concorda. "Para abrir a franquia de uma marca consagrada a pessoa precisa ter um plano para o futuro. Quem quer algo imediato acaba migrando para outras oportunidades." Para reduzir a fila, o grupo Umbra testa atualmente um novo modelo de negócios. A ideia da empresa é que os três restaurantes da marca funcionem em um mesmo imóvel.

A rede de acessórios femininos Morana tem mais de 300 cadastros de potenciais empresários. No caso da empresa, o problema central está na existência de 25 lojas na capital paulista e de 15 franqueados com preferência para comprarem novas unidades.

O grupo ainda tem dificuldade para encontrar bons pontos comerciais, com tamanho, custo e localização que favoreçam a lucratividade do negócio. "Oferecemos outras regiões e empresas da nossa rede (a loja Balonè e o fast food Jin Jin Wok) para os interessados e deixamos aqueles que não aceitam à vontade para procurar outros negócios porque talvez eu não consiga atender essa pessoa ainda que ela espere por anos", diz o diretor de negócios da rede, Eduardo Morita. "O segredo é se associar a uma marca no início porque quando ela cresce, as portas se fecham", afirma.

O Boticário também dá preferência para os atuais franqueados abrirem novas lojas, o que dificulta a redução da fila de espera. Embora a empresa não se pronuncie sobre o assunto, estima-se no mercado que a rede receba cerca de 2 mil cadastros de interessados todos os meses. Recentemente, a compra de uma participação minoritária na Scalina, proprietária das marcas de lingerie Trifil e Scala, foi avaliada por especialistas como possível saída para atender à demanda de interessados em uma loja da rede.

A Cacau Show, que recentemente comemorou a abertura de mil lojas no País, também enfrenta as dores do crescimento. Para continuar a expansão, a empresa criou um modelo alternativo de venda em quiosques. Ainda assim, o criador da marca, Alexandre Tadeu da Costa, acredita que existam 600 pessoas cadastradas para abrir uma unidade da rede.

Publicidade

Espaço

E não é só a falta de espaço para novas unidades que dificulta a abertura de uma franquia nas principais cidades do País. A demanda aquecida por interessados neste mercado torna mais longa a espera.

A Subway, por exemplo, tem 258 contratos fechados esperando a abertura de lojas. Desse total, 120 unidades serão inauguradas até o fim do ano, mas as outras 138 podem ter de esperar até um ano - o tempo normal estimado seria de apenas quatro meses. "Além de o mercado estar muito aquecido, precisamos fazer uma procura bem detalhada pelo ponto", explica Roberta Damasceno, gerente de operações da Subway.

No Bob´s, a competição também aumentou muito e a rede recebe cerca de 200 cadastros de investidores por mês. "Tem muito executivo em fim de carreira que vê no momento atual uma boa oportunidade de investir", afirma o diretor da empresa, Marcelo Farrel.

Para controlar a demanda e evitar atrasos na abertura de franquias, a empresa tornou seu processo seletivo mais rigoroso. Dessa maneira, apenas 9% dos interessados são aprovados e efetivamente fecham contrato para abrir uma unidade da rede de lanchonetes.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.