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''''Um longo período de oscilações está por vir''''

Por Claudia Ribeiro
Atualização:

O ex-diretor do Banco Central e sócio da MCM Consultores José Júlio Senna avalia que dois cenários podem agravar a situação nos mercados: uma redução do patrimônio líquido dos consumidores, que provocaria queda do consumo e, por conseqüência, desaceleração da economia americana; e uma piora da saúde dos bancos comerciais. Ouça áudio da íntegra da entrevista Segundo ele, as intervenções de bancos centrais podem ser vistas como um sinal de alerta, mas antes de tudo são práticas normais no mercado quando falta liquidez (volume de negócios). Ele destaca que o Brasil está preparado para passar por esse chacoalhão no mercado e não faz previsões sobre quando o período deve terminar. "Um longo período de oscilações está por vir, pois o centro da crise, o mercado imobiliário americano, ainda deve demorar para se tranqüilizar." A seguir, os principais trechos da entrevista. Qual a extensão da crise atual? Ninguém tem essa resposta. Mas, para que o final dessa história seja infeliz, o que significa uma recessão da economia americana, dois cenários deveriam se materializar. O primeiro deles é uma diminuição do patrimônio líquido das famílias americanas, pois isso provocaria uma redução do consumo e afetaria a economia do país. Contudo, olhando para os dados de patrimônio das famílias (ações e imóveis), se vê um recuo expressivo, mas não uma desabada colossal. A segunda questão é a saúde do sistema bancário comercial. São esses bancos que suprem o sistema de crédito. Dados apontam que 85% dos recursos ofertados são desses bancos. A última grande crise de bancos aconteceu no fim dos anos 80, mas naquela época o índice de capitalização dos bancos era muito baixo e o índice de inadimplência geral ficava entre 5% e 6%. Hoje, fica abaixo de 2%. Ou seja, o sistema bancário está muito melhor. Além disso, o mundo já não depende só do crescimento econômico americano. Os emergentes deixaram de fazer parte do problema para fazer parte da solução. Eles têm reservas em volumes elevados. As empresas nos EUA estão muito lucrativas e não precisam dos bancos para continuar investindo. As intervenções dos BCs devem ser vistas como sinal de alerta ou como uma atitude para um problema que dá para resolver? É um pouco dos dois. No Brasil, os bancos maiores doam para os menores. Nos EUA, os menores dão para os maiores. Agora, lá, eles decidiram não passar esses recursos, porque o dinheiro não tem colateral (garantia). Isso pode ser visto como um alerta. De outro lado, intervenções de BCs são normais, pois a instituição tem de suprir o mercado com liquidez e trazer a taxa do mercado para o alvo definido. No caso americano, nesses dias, só houve um aumento do lote de dinheiro que já é oferecido. Quem já tinha dinheiro continua com dinheiro, quem não tinha recebeu do BC. E para o Brasil, o que esperar? No Brasil, a variável chave é a percepção de risco. É isso o que mexe com câmbio, juros e bolsa. Se o risco aumenta, o fluxo cambial cai e provoca uma depreciação da moeda. Se o risco aumenta, precisa descontar esse risco e as cotações de ações caem. Se o risco aumenta, há uma redução no prazo das aplicações e os juros sobem. Mas, hoje, a percepção de risco é boa, a solvência do País é excelente. O que temos em reserva é superior à dívida de médio e longo prazo. Isso se deve à fase de ouro da economia mundial, mas é fato que a solvência do Brasil é boa. Um stress desse tipo provocaria um expressivo aumento do risco e impacto forte em ações, câmbio e juros. Hoje isso ocorre, mas com menos força.

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