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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Um PIB não tão magro como esperado

Mas, com a engrenagem da economia emperrando e a crise promovida pela paralisação dos caminhoneiros, o que vem pela frente tira o fôlego

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Atualização:

Apesar do agravamento do quadro geral, o desempenho da atividade econômica no primeiro trimestre até que não foi tão ruim.

Há duas semanas, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), do Banco Central, apontava resultado de -0,13% comparado ao último trimestre de 2017. Mas o IBGE, o organismo encarregado das Contas Nacionais, contou outra história: avanço de 0,4% no mesmo período, com a vantagem dos cálculos serem feitos sobre base mais alta, porque foi revisto para mais forte o desempenho dos dois trimestres anteriores. Em vez de terem crescido 0,2% e 0,1%, respectivamente, o terceiro trimestre de 2017 avançou 0,3% e o quarto, 0,2%.

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As boas surpresas na ótica do consumo foram o investimento (Formação Bruta de Capital Fixo), que se expandiu 0,6% no trimestre, pouco acima do previsto, e o Consumo das Famílias, com alta de 0,5%. No mais, a indústria continua capengando, com avanço de só 0,1%, e o setor de serviços teve desempenho decepcionante, também de apenas 0,1%.

Mas isso é passado. O pra frente, que mais importa e já vinha devagar, está agora contaminado pela crise de abastecimento que durou dez dias, mas cujas consequências ainda devem ser avaliadas.

O ano começou relativamente otimista, com projeções de crescimento do PIB de 3,0%. Agora, consultorias e analistas já começam a trabalhar com metade disso. E, como estão todos com o breque de mão puxado, sabe-se lá se as projeções já revisadas não voltarão a ser revistas, também para baixo.

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A paralisação dos caminhoneiros mostrou que não apenas eles, mas boa parte da população enfrenta uma onda de desânimo. Talvez não seja capaz de avaliar adequadamente o que está acontecendo, mas sente que a esperança lhe é sonegada por tanta coisa: desemprego, mais impostos, alta de preços, corrupção, governo fraco... A essas frustrações ou a esse malaise, como dizem os franceses, devem ser somadas as incertezas do quadro eleitoral, que persistem a apenas quatro meses do primeiro turno.

Nem tudo caminha mediocremente. A inflação, por exemplo, uma das mais graves chagas da economia, segue abaixo dos 3% ao ano e há muitos anos não se viam juros tão baixos. O agronegócio continua dando show e foi o setor que mais cresceu no primeiro trimestre sobre o trimestre anterior (1,4%). O comércio exterior e as demais contas externas seguem apresentando excelente desempenho. Mas quando a dominância é de desalento, como agora, é mais difícil enxergar pontos positivos.

Esse é um estado de espírito que pode contribuir para piora adicional da atividade econômica. Quem perde a confiança parte para a retranca, adia compras e retém a circulação da renda. Quem sabe a Copa do Mundo possa mudar o astral...

No mais, é preciso conferir o que há de errado com o IBC-Br. Trata-se de um indicador construído para antecipar os resultados do PIB e, assim, para medir a pulsação da economia. Mas o descasamento com as contas do PIB mostra que esse medidor não é suficientemente confiável. Para passar mais segurança, pede boa revisão metodológica.

Confira

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» Investimento insuficiente

O gráfico ao lado mostra o comportamento do investimento e da poupança do brasileiro. Como ficou dito no texto acima, o investimento teve um desempenho acima das expectativas (0,6% ante o último trimestre de 2017). Mas está longe de garantir crescimento econômico sustentável de 3% ou 4% ao ano, como se pede da economia. Para isso, seria preciso um investimento equivalente a 22% do PIB. No entanto, apenas 16,3% da renda nacional vem sendo separado para aumento da produção futura.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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