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Um setor cheio de dívida e de dólares

Quebradeira das usinas aumenta o apetite de investidores que estão de olho na expansão internacional de etanol

Por Paula Pacheco
Atualização:

O setor da cana-de-açúcar vive um momento paradoxal. Ao mesmo tempo em que pipocam casos de recuperação judicial de usinas e os empresários reclamam da falta de crédito e da tradicional ajuda governamental, o negócio virou alvo de bilhões de dólares. Em jogo, um mercado com grande potencial dentro e fora do Brasil. No primeiro bimestre, o BNDES já liberou R$ 1,5 bilhão para as usinas. O volume de recursos deve aumentar quase 10% neste ano em relação a 2008, chegando a R$ 7 bilhões. A maior demanda tem sido por recursos para financiar fusões e aquisições. A pedido do governo, a direção do BNDES esboça uma linha de recursos para capital de giro. A Cosan, líder do setor, anunciou na segunda-feira um acordo de R$ 1,2 bilhão entre a Rumo, sua empresa na área de transportes, com a ALL, de logística, para construir um corredor de escoamento de açúcar e álcool do interior paulista até o porto de Santos. Bernardo Hees, presidente da ALL, está animado: "O potencial do mercado sucroalcooleiro é muito grande e o Brasil é o país mais competitivo do mundo." Na sexta-feira, outro lance de peso. A mesma Cosan assumiu o controle da endividada concorrente NovAmérica sem desembolsar um centavo, apenas com a troca de ações. O bilionário Eike Batista acaba de anunciar a criação de um fundo para investir na compra de empresas da cadeia de exportação de etanol, da indústria naval e unidades de tancagem nos portos. A intenção é captar de US$ 5 bilhões a US$ 10 bilhões. A Petrobrás é outra protagonista. A empresa aportará no etanol R$ 2,4 bilhões até 2013. Há 17 projetos nos planos. O objetivo é investir na produção de etanol, seja com a construção de usinas ou por meio da participação de até 40% no capital de projetos existentes, com o objetivo de abastecer o mercado internacional. "Temos recebido vários grupos com o caixa baixo. Infelizmente não somos banco e não vamos entrar numa sociedade para pagar dívida", diz Fernando Cunha, diretor da Petrobrás Biocombustível, o braço da estatal para o setor. A empresa tem ainda o projeto de um alcoolduto entre Goiás e o litoral paulista com a Camargo Corrêa e a japonesa Mitsui. A conclusão está prevista para 2015, com investimento de R$ 1 bilhão. Um outro grande negócio deve ser anunciado ainda este mês e envolve o futuro do grupo Santelisa Vale, de Sertãozinho (SP). Com uma dívida na casa dos R$ 3 bilhões, a solução foi encontrar um sócio. Estão na disputa os grupos ETH (da Odebrecht), ADM, Cosan, São Martinho, GP, Louis Dreyfus e a gestora de investimentos BTG. José Carlos Grubisich, presidente da ETH, tem R$ 1 bilhão em caixa para investir em usinas em 2009. E os recursos podem aumentar se a empresa arrematar a Santelisa. "A intenção até 2015 é chegar à coliderança no setor de bioenergia no Brasil", diz o executivo. Criada na mesma época da ETH, há dois anos, a Brenco já investiu R$ 1 bilhão. Rogério Manso, vice-presidente, conta que o grupo tem quatro usinas em construção que começam a operar em 2010 e absorverão R$ 1,8 bilhão. Há a previsão de mais US$ 1 bilhão para um duto de escoamento do etanol de Alto Taquari (MT) a Santos. Secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Manoel Bertone defende que, diante de tantos investimentos, o setor tenha um marco regulatório. "Se a cotação do açúcar está boa, todo mundo produz e derruba os preços internacionais. Está na hora de passar mais segurança aos investidores e consumidores", sugere Bertone.

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