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Uma aliança para a inovação agropecuária

Para alimentar mais 3 bilhões de pessoas em 20 anos, oBrasil deve reforçar parcerias entre a pesquisa pública e oempreendedorismo privado

Por Maurício Antônio Lopes
Atualização:

Em 1960, o Brasil colheu 17,2 milhões de toneladas de grãos, em 22 milhões de hectares, para alimentar 70 milhões de habitantes. Cada hectare produzia 782 quilos e ofertava 246 quilos a cada cidadão. Era pouco. Importações de alimentos, a preços altos, e custos de energia consumiam a poupança interna. O diagnóstico era claro: produzir nas fazendas para abastecer as cidades, reduzir o custo da cesta básica, substituir importações e exportar para gerar divisas. Requeria tecnologia para elevar a produtividade e tornar viável uma agricultura de alto rendimento principalmente nos solos pobres dos cerrados.

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Em 2015, já com mais de 200 milhões de habitantes, o Brasil produziu 206 milhões de toneladas de grãos, em cerca de 57 milhões de hectares: 3,6 toneladas de grãos por hectare e cerca de mil quilos por pessoa, a preços acessíveis. Assim, conjugando tecnologias, iniciativa privada e políticas públicas, alimentou sua gente e tornou-se um exportador de alimentos. Para o Brasil e o mundo há um novo diagnóstico, marcado por concentração da produção, urbanização massiva, pressão sobre os recursos naturais, aumento dos estresses bióticos (pragas e doenças) e abióticos e os consequentes e rápidos avanços no desenvolvimento tecnológico. Estudos da Embrapa registram que em 20 anos teremos no mundo mais 3 bilhões de consumidores, mais idosos, ricos, interessados em proteína animal, frutas e hortaliças.

E esses consumidores estarão distantes: 60% da classe média estará na Ásia-Pacífico, em cujo entorno há baixa oferta de terras agricultáveis. África, Ásia, Rússia, Leste Europeu e Canadá têm terras, mas também restrições à produção, sejam políticas, de clima ou de infraestrutura, além de desertos. Só a América do Sul, especialmente o Brasil, reúne condições para a expansão sustentável da agricultura. Esse quadro define a agenda pública e privada de desenvolvimento de tecnologia.

Sem novas tecnologias, bilhões de novos consumidores prenunciam pressão adicional sobre os recursos naturais. Enfrentar tal desafio demandará tecnologia que amplie a eficiência no uso de recursos como água, solo e biodiversidade e que garanta adequados serviços ambientais, como reciclagem de resíduos, recomposição hídrica e melhoria da atmosfera, de maneira a minorar as alterações climáticas e seus impactos e conservar tais bens para as gerações futuras. Menor custo e menor margem de lucro continuarão concentrando a produção em poucas regiões e produtores, intensificando a especialização das fazendas. Tecnologias serão necessárias para reduzir esse custo social. Competitividade estará cada vez mais atrelada à sustentabilidade ambiental e social. Para que se tenha tal sofisticação tecnológica e políticas públicas adequadas, a velha parceria entre pesquisa pública e empreendedorismo privado, que criou a agricultura tropical, deve se tornar uma “Aliança para a inovação agropecuária no Brasil”, que já estamos construindo.