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Uma cidade à mercê da crise do aço

Em Volta Redonda, foram cortados 3,9 mil postos de trabalho até maio

Por Vinicius Neder (textos) , Marcos Arcoverde (fotos) e Enviados Especiais a Volta Redonda
Atualização:
  Foto: MARCOS ARCOVERDE | ESTADÃO CONTEÚDO

Em meio à recessão, a crise da indústria do aço atingiu em cheio a economia da região onde ela nasceu, no Médio Paraíba, sul do Estado do Rio. Um retrato disso pode ser visto no Cine 9 de Abril, em Volta Redonda, maior cidade da região, com 263 mil habitantes. As escadas que dão acesso à sala ficam sob um vão sustentado por pilotis, numa clássica construção da década de 50, auge dos cinemas de rua. Na quinta-feira, o abrigo da chuva e do sol atraía um grupo de trabalhadores em busca de emprego. O número de desempregados por ali pode chegar a dezenas em alguns dias, segundo Eli de Souza Fernandes, aposentado cuja esposa dirige o restaurante no mezanino do cinema.

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Desempregados não faltam. De janeiro a maio, foram fechadas 7 mil vagas de emprego formal nas cidades da região, segundo dados do Ministério do Trabalho e Previdência Social. Setenta anos após a inauguração da Usina Presidente Vargas, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a dependência da indústria do aço segue relevante na região. Em Volta Redonda foram cortados 3,9 mil postos de trabalho até maio, 41% deles nas atividades de siderurgia e metalurgia, segundo dados levantados pelo Observatório de Estudos do Rio de Janeiro da UFRJ.

De janeiro a junho, a CSN cortou 757 postos na usina de Volta Redonda – reflexo da situação financeira da companhia, que saiu de um lucro de R$ 1,6 bilhão no ano passado para um prejuízo de R$ 831 milhões no primeiro trimestre deste ano.

Depois de sete anos na CSN, o técnico em eletroeletrônica Evanyr Rodrigues Ferreira, de 26 anos, pediu para ser incluído no corte mais recente. Já estava sem motivação. “E se a gente trabalha desmotivado, o risco de acidente é maior.”

O peso dessa indústria na economia local amplia o efeito cascata. Sozinha, a usina da CSN emprega cerca de 10 mil funcionários diretos e outros 7 mil em terceirizadas. O economista Mauro Osório, do Observatório de Estudos do Rio de Janeiro da UFRJ, destaca que um dos problemas da economia fluminense é a pouca densidade das cadeias. “A estrutura produtiva do Rio é oca”, diz Osório.

O Médio Paraíba ilustra isso. A região sedia usinas siderúrgicas, que produzem aço bruto, e, mais recentemente, um polo automotivo, que usa o aço acabado para produzir caminhões e carros, mas tem poucas fábricas de produtos como latas e tampas, produtos de aço de maior valor agregado, em geral produzidos em São Paulo.

A Prefeitura de Volta Redonda tem um projeto de construir um condomínio industrial dedicado à cadeia do aço num terreno que pertence à CSN. A ideia é a empresa alugar ou vender as áreas, a Prefeitura construir a infraestrutura e o governo estadual dar incentivos tributários, segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Jessé de Hollanda Cordeiro Jr.

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O efeito cascata se mostra tanto na queda da demanda da indústria por serviços e obras quanto no tombo do consumo das famílias no comércio. A CSN informa que investiu cerca de R$ 900 milhões em modernização nos últimos cinco anos. No momento, está apenas reformando a área de coqueria e, na quinta-feira, iniciou a reforma do alto-forno parado, que custará R$ 80 milhões e gerará 800 empregos.

O número parece insuficiente para os trabalhadores que se encontram no Cine 9 de Abril. No Médio Paraíba, foram fechadas 579 vagas na instalação de máquinas e equipamentos industriais, 525 em Volta Redonda.

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