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Uma saga de sucesso

Em seis décadas o Brasil se transformou numa potência consumidora e exportadora de soja

Por Josef Barat
Atualização:

Em 1960, quando os EUA produziam 22,6 milhões de toneladas de soja, o grão ainda não havia sido aclimatado no Brasil e nossa produção era inexpressiva. Um esforço sistemático de pesquisa, aclimatação e seleção de sementes pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), bem como o aproveitamento e a fertilização de grandes áreas do Cerrado, tornaram o Brasil uma potência consumidora e exportadora. O crescimento exponencial da produção nos fez alcançar níveis de produção e produtividade próximos aos dos norte-americanos. Uma longa saga de seis décadas, extremamente bem-sucedida, envolveu produtores rurais, pesquisadores e governo. O nosso Centro-Oeste se transformou no competidor mais forte do Meio-Oeste norte-americano, com a vantagem climática para plantio e colheita, bem como a incorporação de inovações tecnológicas em larga escala.

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Os EUA lideram a produção mundial do grão, com 123,7 milhões de toneladas, área cultivada de 35,7 milhões de hectares e nível de produtividade média de 3,47 kg por hectare. O Brasil é o segundo maior produtor mundial, com 117 milhões de toneladas e área plantada de 35,8 milhões de hectares. A produtividade média é de 3,24 kg por hectare. Cabe lembrar que, em 1990, produzimos 24 milhões de toneladas utilizando 11,3 milhões de hectares, ou seja, em média 2,12 kg por hectare. Enquanto a produção aumentou cinco vezes, a área cultivada expandiu apenas três vezes, evidenciando o extraordinário aumento da produtividade média. Os maiores produtores, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, têm índices de produtividade (3,34 kg e 3,32 kg por hectare) mais elevados que a média norte-americana.

Mas, como dizia Tom Jobim, sucesso no Brasil é ofensa. Ao contrário dos norte-americanos, não fomos educados para ganhar. Daí as frequentes hostilidades contra o agronegócio, como se uma agricultura primitiva e predadora fosse salvar o País. E, no entanto, a agricultura moderna é vencedora. A indústria e os serviços (com poucas exceções) já perderam competitividade faz tempo. Em boa medida, quem segura a balança comercial brasileira é o agronegócio, soja à frente. Ele gera renda e emprego por meio de uma complexa cadeia produtiva, envolvendo ampla gama de serviços e a indústria de equipamentos, máquinas, instalações e veículos.

Apesar do sucesso, o agronegócio brasileiro tem – além dos juros elevados e tributação irracional – um grave gargalo: a logística de abastecimento de insumos e escoamento da produção. É aí que a competitividade fica comprometida e os sucessivos fracassos e descasos dos governos por décadas acabam não desapontando os que odeiam o sucesso. Os altos custos de transporte têm graves reflexos negativos sobre os preços recebidos pelos produtores, especialmente aqueles localizados em regiões mais distantes dos portos. Os sojicultores de Sorriso e Campo Novo dos Parecis (MT), por exemplo, distantes cerca de 2.000 km de Paranaguá ou Santos, pagam frete mais elevado em cerca de 1/3 que o produtor norte-americano na mesma distância, pois escoam seu produto por caminhão. O norte-americano se vale da ferrovia ou da hidrovia para o porto de Nova Orleans. Altos custos de transporte, deficiências de armazenagem e congestionamentos portuários vêm se tornando o principal fator limitante da competitividade brasileira e da remuneração do produtor.

O escoamento concentrado logo após a colheita, por causa da falta de armazenamento nas propriedades ou próximo aos locais de produção, acarreta problemas de congestionamento nas rodovias e nos terminais exportadores. Os custos de escoamento da safra e tempos de espera nos acessos aos portos acabam por anular as vantagens territoriais, climáticas e tecnológicas na produção da soja. O enfrentamento dessas dificuldades deveria nos fazer ter mais admiração por esta saga de sucesso. Ajudaria muito se o governo federal coordenasse com Estados e municípios “pacotes” de projetos envolvendo estradas vicinais, centros de armazenamento, infraestrutura viária e melhorias de acesso aos portos nos principais corredores de escoamento.*ECONOMISTA, CONSULTOR DE ENTIDADES PÚBLICAS E PRIVADAS, É COORDENADOR DO NÚCLEO DE ESTUDOS URBANOS DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO

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