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Cientista político e economista

Opinião|Uma semana especial

Os desdobramentos nos próximos meses serão importantes para o futuro desenvolvimento político e econômico dos Estados Unidos e do Brasil

Atualização:

Esta foi uma semana especial nos Estados Unidos e no Brasil. Seus desdobramentos nos próximos meses serão importantes para o futuro desenvolvimento político e econômico dos dois países.

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A Câmara americana deu início às audiências sobre o possível impeachment do presidente. O Partido Republicano de Trump procurou contestar as evidências substanciais, argumentando que não há justificativa para o impeachment. Os presidentes têm autoridade para lidar com os assuntos externos. Trump não violou suas responsabilidades constitucionais, a menos que tenha mentido consciente e deliberadamente.

Os democratas tentaram compor a imagem de um presidente intensamente implicado na quebra de todas as regras, tendo em vista sua reeleição. O resultado desse processo é previsível: acolhimento do impeachment seguido de absolvição. Os democratas têm maioria na Câmara. Mas é quase certo que os republicanos no Senado não darão o apoio à remoção. A decisão só aparecerá após as eleições, em um ano. Enquanto isso, Trump tem outro problema: a decisão sobre a divulgação de suas declarações fiscais em Nova York agora vão para a Suprema Corte. 

Trump tem a vantagem de uma economia excepcionalmente forte: os alertas do mercado sobre o risco de uma futura recessão estão diminuindo. Ele também nunca se mostrou hesitante em usar sua habilidade oratória para atacar adversários. Após uma vitória no Senado, certamente ficará ainda mais encorajado.

Enquanto isso, os democratas tentam escolher seu candidato. Os jovens ativistas preferem Warren e Sanders. Os mais velhos e os negros continuam torcendo por Biden. Outros dois entraram na corrida: Bloomberg e Patrick. Ambos são centristas, mas é improvável que consigam vencer em Estados cruciais.

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A política brasileira se deparou com um desafio semelhante. Em consequência de uma alteração no entendimento anterior, por maioria de apenas um voto, o Supremo Tribunal Federal possibilitou a soltura de Lula, que agora aguarda decisão do mesmo STF sobre seu caso. Mais de 4 mil pessoas condenadas poderão recorrer em liberdade; poucas terão recursos para consegui-la.

Lula já esteve na reunião de líderes do PT em Salvador. Falou da necessidade de ressuscitar o PT como força política e de preparar um avanço nas eleições municipais de 2020. Lula indicou seu desejo de comandar esse esforço. O próximo item da agenda é a preparação para 2022. Lula criticou os potenciais candidatos Bolsonaro, Doria e Huck. É provável que Lula use os próximos anos para escolher um sucessor e fazer campanha em seu nome. Já teve sucesso uma vez. Agora tem tempo para ouvir e decidir.

Que efeito tudo isso terá nas questões nacionais? Após o êxito na alteração das regras da Previdência, o Congresso enfrenta outros desafios. O confronto com as regras constitucionais dificulta a resposta às necessidades sociais. Pobreza, altos níveis de desigualdade e espaço para investimentos federais exigem atenção urgente. O crescimento contínuo sempre é visto como a solução. Mas isso passa ao largo do verdadeiro problema: a necessidade de um desempenho de investimento muito melhor. A única maneira de alcançar isso é mais participação pública e privada. A insistência no Estado mínimo contradiz a realidade brasileira. O verdadeiro objetivo deve ser um Estado muito mais eficiente e produtivo – o que não ocorreu na última década.

Uma democracia eficaz só poderá perdurar quando a atual rigidez se enfraquecer. Os dois países devem encontrar uma saída para sua insistência em soluções parciais, em busca de colaboração e compromisso. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU *ECONOMISTA E CIENTISTA POLÍTICO, PROFESSOR EMÉRITO NAS UNIVERSIDADES DE COLUMBIA E DA CALIFÓRNIA EM BERKELEY. ESCREVE MENSALMENTE

Opinião por Albert Fishlow
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