Além de ter pedido recuperação judicial nos Estados Unidos (Chapter 11), em um processo que a protege de mais de cem mil credores e de uma dívida de cerca de US$ 18 bilhões, a Latam ainda precisará receber ajuda dos governos dos países onde opera para conseguir sobreviver à crise causada pela pandemia da covid-19. “A única coisa que é inviável é achar que não vai ter ajuda governamental. A ajuda dos governos, não só do Brasil, precisa vir, assim como vimos acontecer na Alemanha e nos Estados Unidos. Para mim, é inegável que virá”, disse o presidente da Latam no Brasil, Jerome Cadier, em entrevista ao Estadão.
O pacote de socorro brasileiro para as companhias aéreas, desenhado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), prevê um socorro de R$ 4 bilhões para ser dividido entre Latam, Gol e Azul e exige que as empresas estejam listadas na B3, a bolsa paulista. A Latam, no entanto, tem ações negociadas em Nova York e em Santiago, no Chile.
Segundo Jerome, as conversas com o governo Jair Bolsonaro estão avançando para que se chegue a uma solução que atenda também a Latam. “Tem a opção de encontrar um financiamento que não obrigue a companhia a se listar aqui e tem outras opções. A gente ainda não convergiu, mas estamos analisando os prós e contras de cada opção.”
O executivo afirmou ainda que a empresa poderia colocar ações para serem negociadas no Brasil, o que facilitaria para que a ajuda do governo não fosse destinada à operação da companhia em outro país. O entrave, porém, é que esse processo demoraria tempo e recursos financeiros.
Para Jerome, o governo brasileiro “entrou em uma cilada” ao divulgar que a ajuda para as aéreas poderia chegar a R$ 10 bilhões. “Isso gerou expectativa, e o que veio (R$ 4 bilhões) é inferior. Fica a sensação de que o número é pequeno. Mas temos de entender que a capacidade do governo brasileiro não é a mesma da Alemanha.” Berlim anunciou na segunda-feira, 25, que concederá um socorro de 9 bilhões de euros (cerca de R$ 53 bilhões) para a Lufthansa atravessar a crise.
A Latam espera ainda receber ajuda do governo do Chile, país sede da empresa. O presidente chileno, Sebastián Piñera, já foi um dos principais acionistas da companhia aérea e é próximo da família Cueto, controladora da empresa. Um auxílio financeiro, portanto, poderia ser mal visto no país. Nesta terça-feira, o Ministério da Fazenda do Chile, porém, divulgou uma nota em que afirma avaliar a “conveniência e a oportunidade de contribuir com o processo de reorganização da Latam”. De acordo com Jerome, as conversas com o governo Piñera “estão andando”.
Ainda segundo o executivo, não há, neste momento, intenção de entrar no Brasil com um pedido semelhante ao feito nos Estados Unidos. A maioria das dívidas e dos contratos com arrendadores de aviões da Latam foi feita por meio da empresa no Chile. Como a unidade chilena entrou no Chapter 11 (ao contrário da brasileira), a companhia acaba estando quase toda protegida. A decisão de concentrar esse processo nos EUA ocorreu porque o país permite que se negocie compromissos com arrendadores de aeronaves -- no Brasil, isso não é permitido.
Operações
Em coletiva com jornalistas de toda a América Latina na manhã desta terça-feira, o presidente do grupo Latam, Roberto Alvo, destacou que as operações da empresa continuam normalmente, apesar da reestruturação. Segundo ele, a estimativa inicial é que o processo de recuperação leve de 12 a 18 meses.
Alvo calcula ainda que, com a covid-19, as operações da empresa no fim deste ano ainda estarão reduzidas a 50% do que eram antes da pandemia. “É correto pensar que a indústria não vai voltar a seu tamanho original por alguns anos. Acho que vamos ter dois ou três anos de queda quando se compara com 2019."
O executivo afirmou também que a empresa terá flexibilidade para aumentar a oferta de voos caso surja uma vacina e a demanda por viagens volte a crescer rapidamente.
O que muda para o passageiro?
1. Meu voo será cancelado?
Em nota, a empresa afirma que todas as passagens já compradas e futuros bilhetes vão ser honrados. A Latam diz que vai continuar a oferecer voos para transporte de passageiros e cargas de acordo com a demanda e restrições de viagem. Segundo a Anac, a recuperação judicial solicitada nos EUA não irá afetar as operações da empresa no Brasil.
2. É seguro comprar passagens da empresa a partir de agora?
De acordo com Fernando Capez, secretário de defesa do consumidor do Procon-SP, “é seguro comprar por enquanto porque a situação da empresa aqui não é de recuperação judicial e é independente do pedido feito fora do País.” Para ele, não há motivo para alarde por parte dos consumidores, apenas atenção.
3. Tenho milhas acumuladas. Vou perdê-las?
Segundo a Latam, não haverá nenhuma alteração quanto ao programa de milhagens, vouchers e benefícios da companhia.
O que muda para o passageiro
Meu voo será cancelado?
Em nota, a empresa afirma que todas as passagens já compradas e futuros bilhetes vão ser honrados. A Latam diz que vai continuar a oferecer voos para transporte de passageiros e cargas de acordo com a demanda e restrições de viagem. Segundo a Anac, a recuperação judicial solicitada nos EUA não irá afetar as operações da empresa no Brasil.
É seguro comprar passagens da empresa a partir de agora?
De acordo com Fernando Capez, secretário de defesa do consumidor do Procon-SP, “é seguro comprar por enquanto porque a situação da empresa aqui não é de recuperação judicial e é independente do pedido feito fora do País.” Para ele, não há motivo para alarde por parte dos consumidores, apenas atenção.
Tenho milhas acumuladas. Vou perdê-las?
Segundo a Latam, não haverá nenhuma alteração quanto ao programa de milhagens, vouchers e benefícios da companhia.