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Uruguai autoriza construção de fábrica perto da Argentina

Desde agosto do ano passado os dois países se engalfinham na "Guerra da Celulose"

Por Agencia Estado
Atualização:

A tensão entre os governos do Uruguai e da Argentina - desde agosto do ano passado engalfinhados na "Guerra da Celulose" - pode entrar nesta semana em uma nova escalada, já que o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, anunciou que autorizará a construção de uma nova fábrica de celulose, que será instalada no rio Negro. Vázquez comunicou a intenção a seus ministros na noite da segunda-feira, durante uma reunião de gabinete. Nesta terça-feira, em Buenos Aires, a notícia foi recebida com desagrado, já que o rio Negro desemboca no rio Uruguai e, portanto, a eventual poluição produzida pela empresa chegaria à fronteira argentina. Esta fábrica, a terceira a ser construída em território uruguaio próximo à fronteira da Argentina, promete irritar o presidente Néstor Kirchner, que desde o ano passado exige, sem sutilezas, o fim da construção de duas outras fábricas de celulose sobre o rio Uruguai. Ambas fábricas (uma pertencente à empresa finlandesa Botnia, e a outra à espanhola Ence) estão sendo construídas no município uruguaio de Fray Bentos, localizado na frente da cidade argentina de Gualeguaychú. A terceira fábrica da discórdia - com a autorização do Ministério do Ambiente e o Ministério da Pecuária e Agricultura - será construída pela empresa sueca Stora Enso sobre o rio Negro, entre as cidades de Paso de los Toros e San Gregorio de Polanco. A fábrica será abastecida com madeira removida de 100 mil hectares destinados ao reflorestamento. A decisão de Vázquez também irritou os habitantes argentinos da fronteira, que ameaçam realizar novos protestos. Os habitantes de Gualeguaychú, a principal cidade do lado argentino, reunidos em uma assembléia popular, realizaram entre dezembro e março piquetes em duas das três pontes que ligam os dois países. Os argentinos, o presidente Kirchner incluído, alegam que as fábricas causarão um "apocalipse ambiental" que levará ao "colapso econômico" da região da fronteira. Já os uruguaios afirmam que as fábricas não poluem, pois supostamente contam com tecnologia de ponta, além de sustentar que precisam dos investimentos das fábricas (um total de US$ 1,8 bilhão, o equivalente a 13% do PIB uruguaio) para recuperar a austera economia do país. Durante o verão, um dos protestos reuniu mais de 100 mil pessoas na ponte que liga Gualeguaychú com Fray Bentos (Gualeguaychú tem apenas 80 mil habitantes). A paralisação quase que total do tráfego de turistas e mercadorias quase asfixiou a economia uruguaia, que registrou perdas de US$ 500 milhões. "O Uruguai está sendo vítima de um verdadeiro bloquei econômico", reclamou Vázquez. Kirchner, que por questões eleitorais apoiou os piqueteiros, jamais enviou a polícia para dispersar os bloqueios nas pontes. O governo uruguaio argumenta que Kirchner, com essa atitude, foi cúmplice da violação de um dos princípios do Mercosul, o da livre circulação de pessoas e mercadorias. Efeito Carrozzo Na quinta-feira, a Corte Internacional em Haia emitirá um parecer sobre a construção das fábricas de Fray Bentos. Em Buenos Aires, o governo está confiante de que o tribunal decidirá a suspensão das obras. Na contra-mão, em Montevidéu existe confiança de que o parecer - que não contemplará apelos - será favorável ao Uruguai. O temor é de que um parecer a favor dos uruguaios exalte os argentinos, que voltariam aos piquetes. Manifestantes argentinos prometem realizar um grande protesto contra Vázquez nos dias 20 e 21, durante a reunião de cúpula de presidentes do Mercosul, que será realizada na cidade argentina de Córdoba. Na cúpula, Vázquez receberá a presidência pro-tempore do bloco. Os manifestantes prometem mobilizar milhares de pessoas. A idéia é importunar o presidente uruguaio durante a reunião de cúpula, no centro de convenções de Córdoba e também ao longo de seu repouso, no Hotel Holliday Inn. Em maio, os gualeguaychenses chamaram a atenção de todo o mundo durante a reunião de cúpula da América Latina e Europa realizada em Viena ao colocar, inesperadamente, a curvilínea Evangelina Carrozzo, rainha do carnaval da cidade, na frente dos chefes de governo ostentando apenas um minúsculo biquíni e um cartaz com os dizeres "não às fábricas de celulose que poluem". A imagem da jovem morena argentina percorreu o planeta, despertando a atenção para o conflito ambiental-econômico que ocorre entre a Argentina e o Uruguai. Os manifestantes afirmam que pretendem repetir o "Efeito Carrozzo", e assim, conseguir mais respaldos para sua causa.

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