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Uruguai mais perto de acordo de livre comércio com os EUA

Empresas se instalam em território uruguaio de olho no mercado americano

Por Agencia Estado
Atualização:

O Uruguai está se preparando para assinar, no dia 27 de janeiro, o Acordo Marco de Comércio e Investimentos (mais conhecido por sua sigla em inglês, TIFA, de "Trade and Investment Framework Agreement") com os EUA. O acordo - que determina um amplo leque de tarifas e impostos, além de incluir garantias para investimentos - seria um passo crucial para assinar, posteriormente, um eventual Tratado de Livre Comércio (TLC) com o governo do presidente George W. Bush. O governo americano enviará no dia 26 o vice-representante de Comércio dos EUA, John Veroneau para assinar o acordo de TIFA. O governo do presidente socialista Tabaré Vázquez mantém um intenso flerte com os EUA desde o final do segundo semestre de 2005, quando integrantes de seu gabinete deixaram claro que estavam analisando seriamente o aprofundamento dos laços comerciais com os Estados Unidos. Mercosul Esse vínculo com os EUA, dependendo de seu formato, passaria por cima dos acordos do Mercosul. O TIFA é uma versão light, enquanto que o TLC colocaria o Uruguai em rota direta de colisão com o Brasil e a Argentina. Os governos destes países indicaram que não permitirão que o Uruguai permaneça no Mercosul caso assine um TLC com os EUA. Por este motivo, diante das crescentes perspectivas de que o Uruguai dê adeus ao bloco do Cone Sul e se aproxime dos EUA. E 2006 foi o ano de diversas compras de empresas uruguaias por parte de investidores estrangeiros, além da instalação de novas empresas nesse país. Enquanto parecia um sólido integrante do Mercosul, as empresas estrangeiras preferiam investir no Brasil ou na Argentina. A partir do momento em que cresceram as perspectivas de que o Uruguai adotasse uma postura "à chilena" (ou seja, um país que não está dentro de nenhum bloco, mas conta com dezenas de TLCs com outros países), o "sex appeal" uruguaio cresceu substancialmente. Quase todas as empresas que desembarcaram em território uruguaio no último ano estão de olho na potencial abertura que teriam para o mercado americano. Investida estrangeira Um relatório recente elaborado pelo jornal El País, de Montevidéu, indicou que o ano foi marcado pela tendência da presença de estrangeiros nas operações de compras de empresas. Uma delas foi a brasileira Petrobrás, que adquiriu a rede de postos de gasolina da Shell. A empresa também ficou com o controle da Gaseba, a distribuidora de gás canalizado em Montevidéu. O Banco Itaú comprou as unidades do Bank Boston em território uruguaio. A First Data International, líder no processamento de operações e pagamentos eletrônicos adquiriu a Argencard do Uruguai (e também a mesma empresa na Argentina). Diversas empresas americanas adquiriram frigoríficos no Uruguai, e até o empresário argentino Franco Macri, dono da companhia Socma, anunciou uma joint-venture com a empresa chinesa Chery para a fabricação de automóveis em território uruguaio. O desembarque chinês no Uruguai está dando o que falar, pois foi encarado como a ponta de lança de um avanço chinês mais significativo que ocorreria nos próximos anos da região, além de colocar os EUA na mira chinesa. Além da chegada dos chineses, está crescendo a presença de grandes empresas de celulose no país, que há 16 anos prepara-se para ser uma potência regional nessa produção. Além de empresas como a finlandesa Botnia, cuja polêmica fábrica (que está causando um grave conflito com a Argentina há um ano e meio) está em construção, e a espanhola Ence (que está procurando uma nova localização nesse país para sua empresa de celulose), também anunciou no ano passado seu desembarque no Uruguai a sueca Störa. Além de ter a ambição de ser um pólo de celulose no futuro próximo, o Uruguai também planeja ser um grande centro de desenvolvimento de softwares. A idéia é utilizar - como forma de atrair investidores - o elevado nível educacional de seus habitantes (comparado com outros países da América Latina), a pequena população, a inexistência de conflitos sociais violentos e as posições políticas moderadas dos principais partidos. Trampolim O embaixador dos EUA em Montevidéu, Frank Baxter, indicou há uma semana e meia que todas as energias estão focalizadas na assinatura do TIFA. Segundo o embaixador americano, "o Uruguai é um exemplo de um país democrático, e por isso esperamos que o relacionamento com os EUA seja cada vez maior". Baxter também recordou que "muitos TLC começaram com um TIFA". O TIFA consiste na determinação dos dois governos de concretizar avanços substanciais nas relações de comércio e investimento, a criação de um Conselho Bilateral de Alto Nível (que ficará encarregada de implementar as ações para avançar nesse caminho). O eventual TLC com os EUA causou divergências dentro do gabinete Vázquez. No entanto, os setores mais poderosos estão a favor de manter - e aprofundar - o flerte com Washington. O chanceler Reinaldo Gargano é um dos que preferem evitar problemas com o Mercosul. Na contra-mão está o poderoso Ministro da Economia, Danilo Astori, defensor enfático do TLC com os EUA. Este acordo até conta com a simpatia do Ministro da Agropecuária, o ex-líder guerrilheiro tupamaro José Mujica, que sustenta que o Mercosul não está proporcionando ao Uruguai tudo o que inicialmente estava previsto. O tom decepcionado de Mujica com os vizinhos é o que predomina nesse pequeno país, que sente-se colocado de lado das grandes decisões tomadas pelo Brasil e a Argentina dentro do Mercosul. Para complicar, as relações uruguaias com a Argentina estão em seu pior momento em mais de um século e meio por causa da denominada "Guerra da Celulose". Simultaneamente, existe decepção com o Brasil (por causa da neutralidade do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no conflito argentino-uruguaio sobre a celulose, além de barreiras comerciais impostas por Brasília que Montevidéu considera injustas). Parceria com o Chile Enquanto termina os detalhes para assinar um acordo de comércio e investimentos (TIFA) com os EUA, o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez retomará nesta semana as conversas com o governo da presidente chilena Michelle Bachelet para a assinatura de TLC entre os dois países. Neste caso, o Uruguai não precisaria de uma autorização do Mercosul, já que o Chile é um país associado ao bloco do Cone Sul. No entanto, após a assinatura, o governo uruguaio encaminhará os detalhes ao Mercosul para provar que não afeta a união alfandegária. A idéia original é que o acordo seja anunciado oficialmente durante a visita que o presidente Vázquez realizará à Santiago do Chile em março. Segundo os analistas uruguaios, a assinatura do TLC com o Chile servirá, para o Uruguai, de contrapeso à relação bilateral crescente entre a Argentina e o Brasil, fato que costuma deixar de lado os pequenos do bloco - isto é, o Uruguai e o Paraguai - de fora das principais decisões do Mercosul.

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