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Uruguai quer levar guerra da celulose à cúpula de Brasília

País teme que piquetes na fronteira causem prejuízos

Por Agencia Estado
Atualização:

O governo do presidente Tabaré Vázquez pretende levar a Guerra da Celulose - que trava contra a Argentina há mais de um ano - à cúpula do Mercosul, que será realizada em Brasília nos dias 14 e 15 de dezembro. Segundo informações extra-oficiais em Montevidéu, o governo Vázquez já encaminhou um pedido ao governo brasileiro para que a disputa uruguaio-argentina seja analisada e debatida nessa cúpula. A ofensiva de Vázquez é múltipla, já que também encaminhou um pedido à Organização dos Estados Americanos (OEA) para que intervenha no caso. Ele sustenta que a crise com a Argentina causou perdas de mais de US$ 400 milhões ao Uruguai. Vázquez teme que os manifestantes argentinos que se opõem à construção de fábricas de celulose no lado uruguaio da fronteira realizem neste verão piquetes que levem a economia do Uruguai à asfixia. O presidente uruguaio afirma que os piquetes, que no verão passado bloquearam duas das três pontes que unem os dois lados da fronteira, ferem o espírito do Mercosul, de livre circulação de bens e pessoas. O pivô original do conflito era a construção de duas fábricas de celulose no município uruguaio de Fray Bentos, sobre o rio Uruguay, na fronteira entre os dois países. Os habitantes argentinos da região da divisa se assustaram com a construção das fábricas, se mobilizando para impedi-la. Do lado argentino os habitantes - respaldados enfaticamente pelo presidente Néstor Kirchner - argumentavam que as empresas causariam um "apocalipse" ambiental e econômico. Do lado uruguaio, o argumento de defesa era que as empresas não poluiriam (pois seguiriam rígidos padrões ambientais europeus) e que elas constituíam o maior investimento privado da história do país, no total, de US$ 1,8 bilhão, o equivalente a 13% do Produto Interno Bruto. Desde o ano passado, Kirchner atacou a instalação das empresas, chegando a pedir à Corte Internacional de Haia que emitisse um parecer contra o Uruguai (foi derrotado) e ao Banco Mundial, para que suspendesse os créditos às fábricas (foi parcialmente derrotado). No entanto, as pressões serviram para que uma das duas fábricas, a espanhola Ence, anunciasse sua partida de Fray Bentos, levando consigo um investimento de US$ 600 milhões. A outra fábrica, da finlandesa Botnia, continua sua construção e está na mira do presidente argentino. Kirchner, que no semestre passado ocupou a presidência pro-tempore do Mercosul, também se opôs a idéia de que o caso fosse discutido entre os sócios do bloco. A expectativa de Vázquez é que o Brasil, atualmente com a presidência pro-tempore, aceite que a Guerra da Celulose possa ser debatida dentro do Mercosul (até o momento, o Brasil preferiu ficar fora do conflito, para evitar irritar o turbulento Kirchner). No entanto, o governo argentino rejeita categoricamente a possibilidade de intermediação. O chanceler Jorge Taiana deixou claro nesta semana que não quer terceiros envolvendo-se na Guerra da Celulose: "trata-se de uma controvérsia bilateral".

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