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Vale compra minas de carvão na Colômbia

Elas custaram US$ 300 milhões e vão abastecer usina térmica no Pará

Por David Friedlander
Atualização:

A Vale anunciou na noite da última terça-feira a compra de duas minas de carvão na Colômbia, por US$ 300 milhões. Adquiridas da Argos S.A., uma das maiores produtoras de cimento da América Latina, as minas farão parte de uma operação maior - destinada ao fornecimento de energia para novos projetos no Pará, onde a Vale planeja investir R$ 20 bilhões nos próximos cinco anos. O carvão da Colômbia vai abastecer uma termoelétrica que a mineradora está construindo em Barcarena, a 40 quilômetros de Belém (PA). Com a energia produzida nessa usina, a mineradora pretende levar adiante seu projeto de ampliar a produção de níquel, cobre e minério de ferro no Pará. O pacote comprado na Colômbia inclui a mina a céu aberto de El Hatillo, que este ano deverá produzir 1,8 milhão de toneladas, a mina de Cerro Largo, em fase de exploração, e um porto no Caribe. De acordo com informações da Vale, o carvão colombiano oferece uma relação custo-benefício acima da média. Seria mais rentável e menos poluente que a maioria. A mineradora tinha a opção de importar o produto. Preferiu comprar as minas para ter controle sobre o fornecimento. Além da usina de Barcarena, a mineradora tem intenção de construir outras duas termoelétricas a carvão no Nordeste. Na ótica da Vale, as usinas térmicas a carvão são uma alternativa à construção de hidrelétricas, que levam mais tempo para serem aprovadas e construídas. Nas últimas semanas, a Vale foi muito criticada - por sindicalistas, membros do governo e até pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva - por ter demitido 1,3 mil funcionários e ter parado ou diminuído o ritmo de minas e projetos. A empresa afirmou que as demissões foram conseqüência da modernização tecnológica de seus processos, que eliminou funções e deixou várias pessoas ociosas. As minas desativadas, por sua vez, eram antigas, tinham custo de extração elevado e só fizeram sentido enquanto a bolha das commodities jogou os preços na estratosfera. Numa entrevista recente concedida ao Estado, o presidente da Vale, Roger Agnelli, afirmou que, por serem de maturação demorada, os investimentos da mineradora foram mantidos, apesar da crise. A mineradora aposta na retomada da venda de minério a partir do segundo trimestre de 2009, quando seus clientes deverão ter acabado com seus estoques de matéria-prima e precisarão fazer a reposição. Se a previsão não se confirmar, segundo Agnelli, a Vale reduzirá o ritmo dos investimentos. O negócio com a Argos marca também, segundo a Vale, uma nova política de crescimento. Até o começo da crise, em setembro, a mineradora tinha uma atitude agressiva, que previa a aquisição de concorrentes. A compra de seu último alvo, a anglo-suíça Xstrata, sexta maior do mundo, fracassou porque os controladores da mineradora rival pediram mais do que os brasileiros estavam dispostos a pagar. Hoje, a Vale prefere apostar em negócios menos ambiciosos e mais localizados, que completem seus projetos. Dinheiro para isso não falta. Antes da crise, a Vale foi ao mercado e captou US$ 12,5 bilhões. Agora, tem US$ 14 bilhões em caixa para aplicar. "Tem muita coisa à venda. Não vamos sair comprando, mas, se aparecer uma boa oportunidade, a gente aproveita", disse Agnelli na entrevista ao Estado.

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