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Vale passa a Petrobrás em valor de mercado

Indefinição quanto à capitalização da estatal fez com que suas ações caíssem mais de 3% ontem, na Bovespa

Por Kelly Lima e Nicola Pamplona
Atualização:

As incertezas em relação à capitalização de Petrobrás derrubaram as ações da estatal no pregão de ontem da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Os papéis caíram mais de 3%, refletindo a divulgação de divergências quanto ao valor das reservas que serão usadas na cessão onerosa. Ontem, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) recebeu relatório preliminar da certificadora das reservas, mas a ordem é manter sigilo sobre os números. As ações preferenciais (sem direito a voto) da Petrobrás fecharam em queda de 3,25%. Já as ordinárias caíram 3,65%. Os papéis da estatal contribuíram para o recuo de 1,11% do índice Bovespa, também influenciado pelo mau desempenho de Nova York. Com a queda acumulada no ano, o valor de mercado da Petrobrás caiu R$ 94 bilhões, e está em R$ 253,132 bilhões, o que fez a estatal perder o posto de maior empresa da América Latina para a Vale, cujo valor de mercado está em R$ 254,914 bilhões. Há grandes dúvidas no mercado sobre a viabilidade da operação de capitalização dos preços sugerido pela consultoria Gaffney Cline Associates (GCA), contratada pela ANP, para a venda do poço Franco à estatal - segundo reportagem publicada ontem pelo Estado, a empresa chegou a US$ 10 a US$ 12 por barril. A Petrobrás, por sua vez, teria uma avaliação entre US$ 6 a US$ 8. "Acredito que qualquer valor acima de US$ 7,50 (o barril) seria prejudicial à Petrobrás e seus acionistas", diz o economista-chefe da corretora Banif, Oswaldo Telles. O risco, segundo os analistas, é a grande diluição dos minoritários. "Talvez o mercado não tenha forças para acompanhar a operação e a liquidez pode ser baixa, o que elevaria a fatia do governo na estatal para perto de 50%", comenta o operador da Um Investimentos, Paulo Hegg. Em nota, a Petrobrás afirmou que o valor final não foi definido e qualquer número será "mera especulação". A ANP recebeu ontem relatório preliminar da GCA, que será entregue ao governo. Procurada, disse que não vai divulgar detalhes. Há uma recomendação para evitar vazamento de informações. Foram proibidos os contatos com jornalistas. Fontes próximas, porém, dizem que o governo já começou a estudar uma alternativa entre o laudo apresentado pela GCA e o da consultoria contratada pela Petrobrás, a De Golyer & McNaughton. A ideia é alterar o prazo para o desenvolvimento da área, que possibilitaria trazer o preço do barril a valor presente líquido para a casa dos US$ 8 a US$ 8,50. "É como se eu tivesse que pagar US$ 10 ao longo de um período. Posso pagar US$ 1 ao ano em dez anos, ou US$ 0,50 em 20 anos", disse a fonte, lembrando que será abatida a inflação no período do desenvolvimento. Está praticamente descartado reduzir o volume de petróleo da Petrobrás, hipótese levantada por analistas como alternativa para reduzir o valor da capitalização. A preocupação do mercado baseia-se na conclusão de que, se o valor ficar entre US$ 10 a US$ 12, o lançamento de ações deverá subir ao máximo do limite previsto em assembleia de acionistas (US$ 85 bilhões), o que deve dificultar a entrada de minoritários. Daí a rejeição às ações da estatal neste momento. "A indefinição do processo de capitalização e a ingerência política estão afugentando compradores", diz o chefe da mesa de operações da HSBC Corretora, Frederico Soares. Ele lembra que os fundos estrangeiros, que têm 1/3 das ações, não devem mostrar interesse por uma capitalização com barris acima de US$ 7. No segundo trimestre, o fundo do megainvestidor George Soros vendeu todas as ações da Petrobrás, tida como uma de suas apostas até o início do ano. / COLABORARAM ANDRÉ MAGNABOSCO, BETH MOREIRA E OLÍVIA BULLAEm quedaR$ 253,132 bi é o valor de mercado da Petrobrás após as quedas na cotação de suas ações este ano na BovespaR$ 254,914 bi é o valor de mercado da Vale, que superou a Petrobrás

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