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Vale perdeu R$ 12,6 bilhões em valor de mercado desde o acidente da Samarco

Ações ordinárias da mineradora caíram 15,9% na esteira da tragédia ambiental em MG; companhia, assim como suas rivais, já vinha enfrentando cenário difícil em função da queda no preço do minério de ferro e das perspectivas de desaceleração na China

Por Mariana Durão
Atualização:

RIO - Atingida ao longo do ano pela derrocada dos preços do minério de ferro, a Vale passou a ter um fator extra de pressão sobre seu desempenho na bolsa após o acidente com a Samarco. Nos quinze dias desde a tragédia ambiental com a barragem da empresa em Mariana (MG) os papéis da mineradora brasileira amargaram uma queda acumulada de 15,86% (ON) e 13,78% (PNA), enquanto o Ibovespa subiu 0,9%. Controladora da Samarco ao lado da BHP Billiton, a Vale perdeu R$ 12,6 bilhões em valor de mercado desde o último dia 4, véspera do desastre, segundo dados da consultoria Economática.

Analistas do setor destacam que a Vale, assim como suas concorrentes, já vinha enfrentando um cenário difícil em função das perspectivas de desaceleração da economia da China – maior consumidora global de minério – e da deterioração da cotação de seu principal produto. Não é à toa que R$ 37,1 bilhões de seu valor de mercado na Bolsa foram pelo ralo em 2015, caindo para os atuais R$ 70,5 bilhões. O caso Samarco adiciona novo componente a esse cenário difícil, em especial por causa das incertezas em relação às penalidades que serão aplicadas à empresa e ao tempo para a retomada da operação.

No ano, a Vale perdeu R$ 37 bilhões em valor de mercado diante dos preços baixos das commodities Foto: Tasso Marcelo|Estadão

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Em teleconferência com investidores na última segunda-feira, o diretor executivo de finanças da Vale, Luciano Siani, admitiu que a grande incógnita para o futuro da Samarco é o valor a que chegarão multas e indenizações. O seguro contratado não é suficiente nem mesmo para arcar com a multa de R$ 250 milhões imposta pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).

Além dela, a empresa fez um acordo preliminar de R$ 1 bilhão com o Ministério Público para reparar danos. O limite é incerto. Só nesta quinta-feira, 19, o governo de Minas multou a Samarco em R$ 112 milhões e a Justiça Federal determinou que adote medidas para que a lama que atingiu o Rio Doce não chegue ao mar, sob pena de multa diária de R$ 10 milhões.

“A Vale está em seu inferno astral. O estrago vai ser grande e diferido ao longo do tempo”, diz o analista Pedro Galdi, da WhatsCall. Ele explica que em princípio a Samarco ainda tem recursos – o caixa somava R$ 2,1 bilhões ao fim de 2014 – e pode gerar caixa com a venda de serviços e energia elétrica, mas a questão é se e quanto tempo levará para retomar a produção.

A dívida bruta da Samarco em 2014 era de R$ 11,6 bilhões, com vencimentos de R$ 1,2 bilhão previstos para este ano. Em um exercício simples, em tese, a Samarco chegaria a 2016 com uma dívida de R$ 10,4 bilhões.

A Vale ainda não fez os cálculos de quanto terá que provisionar em seu balanço por causa do episódio.

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Custos. Coordenador do curso de Ciências Econômicas da escola de negócios Ibmec-RJ, Luiz Ozório destaca que a mineradora terá também custos indiretos, como um provável aperto da fiscalização do poder público na área ambiental. A companhia tem 168 barragens e diques cadastrados no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). “O mercado já está precificando um aumento dos custos com a questão ambiental.”

Para o economista do Ibmec, há ainda um fator intangível: a percepção do investidor em relação à imagem da companhia. A Vale fez questão de separar sua atuação da Samarco, informando ser uma “mera acionista” da fabricante de pelotas no primeiro momento. “Existe uma questão emocional, acionistas que não querem deter participação em companhias envolvidas em problemas com o meio ambiente”, frisa.

Na conferência com analistas, Siani repetiu diversas vezes que a Vale vai prestar o apoio necessário para que a Samarco se reerga. O presidente da BHP, Andrew Mackenzie, disse que a companhia está comprometida em levar a Samarco de volta aos trilhos e não considerou sair da joint venture, ao contrário do que fez em Papua Nova Guiné após o rio Fly ser poluído com rejeitos de uma mina de cobre. Vale e BHP decidiram contratar investigação externa sobre o rompimento da barragem, disse o presidente do conselho da BHP, Jac Nasser. Segundo ele, acionistas estão apreensivos em relação aos dividendos da mineradora.

Captação. Em meio ao caos, a Vale informou a captação de R$ 1,5 bilhão, por meio da emissão de uma Nota de Crédito à Exportação com o Banco do Brasil. O objetivo da operação, fechada no dia 11, é reforçar seu capital de giro, e amparar a produção de bens destinados à exportação, diz a companhia. Segundo a Vale, o negócio tem custos atrativos se comparados à taxa média paga em outras captações. / COM INFORMAÇÕES DA REUTERS E DA DOW JONES

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