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Vale pretende liquidar operação de compra da Inco

Segundo o diretor financeiro da mineradora, Fábio Barbosa, isso inclui também a emissão de ações novas, além de títulos de dívida

Por Agencia Estado
Atualização:

A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) examinará "todas as alternativas" para liquidar a operação de compra da mineradora canadense Inco, anunciada nesta sexta-feira em US$ 17,8 bilhões. A explicação é do diretor financeiro da mineradora, Fábio Barbosa, em entrevista coletiva encerrada neste mesmo dia. Isso inclui também a emissão de ações novas, além de títulos de dívida. Ele não vê problemas na estruturação da operação e informou que os quatro bancos que assessoram a Vale na oferta já estão montando estratégias para isso. "São muitas opções e o mercado é muito criativo. Acreditamos que esse período de dois anos do empréstimo-ponte será mais do que suficiente para encontrarmos a melhor alternativa para a empresa", comentou. Cada banco está disponibilizando uma linha de crédito de até US$ 4,5 bilhões para a Vale. Barbosa informou que as agências de rating estão colocando a Vale em "credit watch", para possível reavaliação de risco, mas ele considera o movimento "natural". "É uma operação grande e importante para a companhia. Mas avaliamos que será favorável aos acionistas", comentou. Ele observou que a operação só se tornou viável pelo fato de a Vale ter se tornado "investment grade", o que reduziu os seus custos financeiros e ampliou as fontes de financiamento. "Essa seria uma operação impensável há dois anos", observou. Além dos diretores da Vale, estavam presentes na entrevista o presidente do Santander, Gabriel Jaramillo, do ABN Amro, Fábio Coletti Barbosa, do UBS, Alexandre Bettamio e do Credit Suisse First Boston ( CSFB), José Olímpio Pereira. "Os bancos que nos apoiaram na operação até agora já estão buscando alternativas, após a operação da companhia", comentou o presidente da Vale, Roger Agnelli. BNDES Segundo Agnelli, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) entrou em contato com a Companhia Vale do Rio Doce, colocando-se à disposição na operação de compra da Inco. Ele não sabe se a Vale vai precisar dos recursos do banco estatal de fomento, mas ressaltou que o apoio poderá ser incluído no pacote que a empresa pretende estruturar nos próximos dois anos. Ele acredita que a operação será concluída, apesar de o preço de oferta, de 86 dólares canadenses por ação, estar abaixo dos preços vigentes no mercado secundário. "Não pretendemos entrar em guerra de preços. Achamos que o valor é alto, mas o ativo é bom. É um preço justo", comentou. Alta dos preços Aproveitando a ocasião, Agnelli informou acreditar que o atual ciclo de alta de preços das commodities deverá se manter nos próximos anos. "A demanda continua muito forte, tanto por minério de ferro quanto por níquel e acreditamos que esse movimento continuará forte pelo menos até 2010", disse. Ele atribuiu o movimento atual à ausência de investimentos em expansão de recursos minerais nas últimas décadas. "Nos últimos meses aumentou muito a disputa por recursos naturais. É só verificar o comportamento das fusões e aquisições em andamento", observou. O presidente da Vale fez essas colocações respondendo à pergunta se a Vale não estaria comprando um ativo "no pico dos preços", com um pesado volume de desembolsos. "O ativo (a Inco) é caro, mas é um bom ativo. Acho que é o preço justo", complementou. No caso do níquel há um outro aspecto, assinalou. É que o sulfeto, um dos ingredientes para a produção do níquel, está com as suas reservas quase esgotadas em todo o mundo. Por isso, novos projetos terão de utilizar outras tecnologias, encarecendo o processo. "A Inco tem uma das melhorias tecnologias no beneficiamento do níquel. E isso dará vantagem adicional à nova empresa", afirmou. Ele lembrou que o cobre ficou "anos e anos" com preços depreciados, ocorrendo o mesmo com diversos outros minerais. Sede Agnelli ainda afirmou que a Vale pretende manter a sede da Inco no Canadá e também a marca Inco. O presidente da Petrobras considera que a Inco tem um "excelente quadro técnico" o que irá contribuir para o desenvolvimento da própria Vale. "São mais de 100 anos de experiência em níquel. É uma experiência única no mundo", destacou. Ele lembrou que no Brasil há carência de quadros especializados no setor mineral, afirmando que as faculdades brasileiras graduam poucos profissionais a cada ano. Outro ponto que ele considera positivo é que a Vale passará a atuar no Canadá. Segundo Roger, aquele país tem uma "boa experiência" no setor mineral, o que contribuirá para facilitar as operações da empresa brasileira, no seu esforço de globalização. "É um sonho poder atuar no Canadá", comentou Roger várias vezes na entrevista coletiva. E ele considera que a atuação conjunta da Vale com a Inco tornará o grupo praticamente imbatível no setor de níquel. A Inco tem as melhores e maiores reservas desse mineral em todo o mundo", complementou. Estratégia de globalização Se a Companhia Vale do Rio Doce concluir a compra da mineradora canadense Inco a empresa dará um salto expressivo na sua estratégia de globalização. Atualmente os ativos no Brasil representam cerca de 98% dos ativos totais da companhia e a Europa tem outros 2%, além de participações residuais em outros países, inclusive os Estados Unidos, com a siderúrgica Califórnia Steel. Se concluir a compra da Inco, a participação dos ativos no Brasil cairá para 60%, com a América do Norte (Canadá) passando a representar 27%, a Ásia com 5%, a Europa com 3% e o resto do mundo com os demais 5%. Essa diversificação será facilitada pela atuação da Inco em outros países. Os dados foram apresentados pela empresa na manhã de hoje quando a diretoria da companhia comentou a oferta de compra da Inco e simulam a posição no final do ano passado.Além disso, haverá uma diversificação geográfica nas receitas. Atualmente as maiores vendas da Vale concentram-se na Ásia, que respondeu por 28% do total no final do ano passado, a Europa com 28%, o Brasil com 27%, a América do Norte com 10% e os demais países do mundo com os 6% restantes. Na nova empresa (juntando-se Vale e Inco) haverá aumento das participações da Ásia e da América do Norte e menor participação do Brasil. Na nova configuração a Ásia passaria a responder por 30% das receitas totais, a Europa com 25%, o Brasil com 20%, a América do Norte por 17% e os demais países do mundo pelos restantes 8%. Ainda conforme os dados divulgados pela Vale, haverá uma redução expressiva da participação do minério de ferro nas receitas da nova empresa. Atualmente, os metais ferrosos (minério e pelotas) respondem por 74% das receitas, o alumínio por 11%, as atividades de logística (ferrovias) por 9%, o cobre por 3% e os outros metais por 3%. Na nova configuração, os metais ferrosos continuariam predominando, mas com participação reduzida para 56%, com o nível assumindo a segunda posição (20%), seguida de alumínio (8%), logística (7%), cobre (5%), cobalto (1%), PGM (1%) e outros metais por 2%. Outra vantagem para a companhia, é que a Vale terá mais poder de barganha nas negociações com os clientes, especialmente as grandes siderúrgicas. O níquel é um dos principais componentes na indústria do aço, observou. Com isso, a Vale poderá oferecer minério de ferro, pelotas, manganês, ferro ligas, carvão metalúrgico (no futuro), além do níquel. Produção Conforme o material divulgado na manha desta sexta, a nova empresa produziria 402 mil toneladas de níquel, o que é quase o dobro da segunda colocada. Além das reservas da Inco, o presidente da Vale observou que a própria estatal tem projetos para esse metal, citando as minas de Vermelho, Água Branca e São João do Piauí. A produção atual, porém, é irrelevante e só começaria a crescer a partir de 2007, com o projeto São João, do Piauí. A segunda colocada em produção seria a Norilsk Nickel, com 265 mil toneladas, seguida de BHP Billiton (214 mil), Falconbridge (120 mil) e Eramet (100 mil toneladas), conforme dados referentes ao final de 2005. A "nova CVRD", segundo Roger, será a maior empresa do mundo em minério de ferro e pelotas; a segunda maior em níquel, com potencial para ser a maior produtora, devido às reservas de que já dispõe; a número 2 em manganês e ferro ligas e, no futuro, deverá ser a número 2 em bauxita e número 3 em alumina. No caso de bauxita e alumina a melhoria nas posições seria resultante dos projetos já em andamento (pipeline), especialmente Paragominas I, II e III, Alunorte (6 e 7) e ABC. Este texto foi atualizado às 15h32.

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