Publicidade

Vale quer ser a maior mineradora do mundo, diz presidente

Companhia estréia ações na Euronext Paris e torna-se a 1ª empresa brasileira listada na bolsa francesa

Por Daniela Milanese
Atualização:

"Queremos ser a maior mineradora do mundo". Com essa declaração, o presidente da Vale, Roger Agnelli, marcou nesta segunda-feira, 21, o evento de estréia das ações da mineradora na Euronext Paris, a primeira empresa brasileira listada na Bolsa francesa. Há grande expectativa em relação à estratégia de aquisições da Vale, que acaba de levantar cerca de US$ 12 bilhões com uma oferta global de ações. Entre os possíveis alvos da Vale, estão a americana Freeport McMoran, a chilena Antofagasta, a mineradora Anglo American e a anglo-suíça Xstrata. Porém, Agnelli não quis fazer nenhum comentário sobre o assunto. "É horrível estar em período de silêncio em um momento tão excitante como este", afirmou durante o evento, referindo-se à regra imposta pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). "Não posso falar nada", disse. Segundo o executivo, atualmente a Vale "ainda" é a segunda maior mineradora do mundo, além de ocupar a primeira posição no ranking das empresas privadas no Brasil. Ele classificou como "muito bom" o resultado da captação da companhia. Na verdade, a Vale levantou menos do que o previsto, em meio à turbulência externa. O objetivo era captar US$ 15 bilhões - ainda falta o lote suplementar que pode ser exercido pelo banco coordenador. "Infelizmente, o mercado...", disse Agnelli, sem completar a frase, mas referindo-se à situação criada pela crise de crédito nos Estados Unidos. Demanda Apesar da crise, o presidente da Vale afirmou que a demanda no mercado de matérias-primas (commodities) continua forte, puxada pelos países da Ásia, América Latina e Europa. "Não podemos reclamar do mercado." Para ele, a crise nos Estados Unidos é uma preocupação para o curto prazo, mas não afeta os negócios da Vale. Conforme o diretor de Relações com Investidores da empresa, Roberto Castello Branco, os EUA não são um mercado relevante para a companhia no segmento de minério de ferro. Castello Branco disse que não vê inversão da atual tendência das commodities. "Quando você vai para lugares como a China, Oriente Médio, Índia e Vietnã, percebe que não há bolha, a demanda é real", afirmou. "Não é um processo cíclico, é uma mudança estrutural (no mercado de commodities)." Atualmente, o maior projeto da Vale é uma operação de níquel na Nova Caledônia (colônia francesa na Oceania), cujos investimentos somam US$ 3,2 bilhões. Segundo Agnelli, a produção começa em novembro deste ano. "Será nossa maior operação de níquel do mundo", afirmou, destacando esse fator como ponto de relação entre o Brasil e a França. Bolsa francesa A rivalidade histórica entre a França e a Inglaterra se manifestou hoje no evento de estréia das ações da Vale na Euronext Paris. A ministra de Finanças da França, Christine Lagarde, afirmou que Londres fez todos os esforços para conseguir ter a mineradora brasileira em seu pregão, mas a França venceu a batalha. "Hoje a Vale dá uma passo além com a listagem em Paris, e não em Londres", afirmou o vice-presidente Executivo da Nyse Euronext, Jean-François Théodore, arrancando risos dos participantes do evento. A ministra francesa disse que o objetivo da Euronext Paris é se tornar mais flexível para as empresas estrangeiras. "Queremos atrair mais companhias de países emergentes", afirmou. A fusão entre a Nyse e a Euronext acabou facilitando esse processo. Isso porque os reguladores europeus passaram a aceitar a mesma documentação exigida pelo órgão regulado do mercado mobiliários americano, a SEC, com somente algumas informações adicionais. Além disso, em Paris, desde o início do ano as companhias podem apresentar a documentação em inglês, e não mais em francês, o que acelera a listagem e reduz os custos. O presidente da Vale afirmou que a proibição para a existência de duas classes de ações impediu a listagem da empresa na Bolsa de Londres. A mineradora tem papéis ordinários (ON) e preferenciais classe A (PNA), mas a praça londrina exige apenas um tipo. "A não ser que fosse uma exceção, mas seria difícil conseguir isso da Bolsa de Londres", explicou. Com tradição em mineradoras, já que abarca as gigantes BHP Billiton e Rio Tinto, a Bolsa de Londres (LSE, na sigla em inglês) tinha forte interesse em listar os papéis da Vale. Executivos da instituição têm feito viagens ao Brasil para atrair companhias nacionais. Segundo Agnelli, a escolha de Paris se deveu à proximidade após a fusão entre a Nyse e a Euronext, pois a Vale está listada em Nova York. Ele também citou o relacionamento com o país, ao considerar que o maior cliente da mineradora brasileira é a Arcelor Mittal, atualmente nas mãos do indiano Lakshmi Mittal. "Mas eu sinto a Arcelor como uma empresa francesa." Apesar de o evento de estréia ter sido nesta segunda, os negócios com as ações da Vale em Paris já foram liberados na última sexta-feira (dia 18). Segundo o diretor de Relações com Investidores, Roberto Castello Branco, o volume foi muito baixo e os papéis ficaram praticamente estáveis, com ganho de cerca de 0,20%. "Roma não foi construída em um dia, isso é um processo", afirmou, sobre a construção de liquidez. Para ele, a listagem em Paris dá mais uma alternativa aos investidores, que podem comprar as ações da Vale em reais na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), em dólares na Bolsa de Nova York (Nyse) e agora em euros na Euronext.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.