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Valor de empresas do setor elétrico caiu até 90% na bolsa

Por Agencia Estado
Atualização:

A privatização das empresas do setor elétrico brasileiro rendeu ao governo brasileiro, especialmente aos governos estaduais, US$ 30 bilhões na segunda metade dos anos 90. Se os compradores quiserem revender essas empresas não conseguirão, em muitos casos, nem 10% do valor aplicado, conforme as cotações atuais das ações dessas empresas nas bolsas de valores. É o caso da Light, que atua na região metropolitana do Rio de Janeiro. A estatal francesa EDF gastou mais de US$ 3.094 bilhões para assumir o controle da distribuidora. Atualmente, porém, o interessado poderia comprar todas as ações da empresa por US$ 307 milhões. As empresas privatizadas foram principalmente as do setor de distribuição, que eram controladas pelos governos estaduais. Apenas algumas empresas de grande porte, como é o caso da Cemig (Minas Gerais), Copel (Paraná) permaneceram estatais, ao lado de outras menos atraentes, especialmente as localizadas no norte e nordeste, que não atraíram compradores. As grandes geradoras, como Furnas, Chesf e Eletronorte, continuaram estatais, fazendo com que o setor elétrico brasileiro atingisse uma configuração híbrida, em que 80% da geração são de empresas estatais e apenas 20% do setor privado. Na distribuição, porém, ocorre justamente o contrário, com o setor privado respondendo por mais de 80% do total. Receita Segundo dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a receita total dos leilões de privatização do setor elétrico, mais as dívidas transferidas das estatais, somou US$ 29,563 bilhões. Desse total, cerca de US$ 22 bilhões são referentes à receita dos leilões de 22 empresas estatais, a maior parte distribuidoras. Além disso, os compradores assumiram mais US$ 7 bilhões de dívidas, que foram transferidas dos governos para os compradores. As cotações nas bolsas brasileiras nem sempre indicam o valor real das empresas, mas servem como referência da expectativa dos investidores quanto às possibilidades das empresas ganharem dinheiro. E o exemplo da EDF/Light não é o único. A discrepância mais gritante é encontrada na Centrais Elétricas do Mato Grosso (Cemat), comprada pelo Grupo Rede por US$ 353 milhões, com dívidas de U$ 461 milhões. Com base nas cotações atuais, a distribuidora que atende o estado de Mato Grosso, poderia ser comprada por irrisórios US$ 9 milhões. É evidente que se fosse possível adquirir, de fato, o controle das empresas com base nas ações negociadas nas bolsas, é provável que esse valor fosse maior. Mas não deixa de indicar o baixo interesse do investidor pelo papel, refletindo as perspectivas de baixa rentabilidade para a empresa. Estrangeiros Os estrangeiros foram os grandes compradores das empresas do setor elétrico brasileiro, ficando com mais da metade das 22 estatais vendidas. É o caso da Gerasul, antiga Eletrosul, comprada pela Tractebel por US$ 1 bilhão e com dívidas de US$ 880 milhões. Hoje, pelo preço da Bovespa, essa empresa valeria apenas US$ 564 milhões. Isso apesar de ser uma das maiores geradoras do País, atendendo os consumidores do Rio Grande do Sul. A Coelba, da Bahia, foi comprada pela espanhola Iberdrola por US$ 1,598 bilhão (além de mais US$ 213 milhões de dividas). Hoje o valor de mercado oscila em torno de US$ 215 milhões. A Eletropaulo Metropolitana, cuja compradora AES está em apuros hoje com o montante devido ao BNDES, custou US$ 3,018 bilhão com o valor pago no leilão mais dívida transferida. Foi o segundo maior valor pago a uma estatal de energia, perdendo apenas para a Light.

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