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Valor de mercado da Bovespa volta ao nível pré-quebra do Lehman

Empresas com ações negociadas na bolsa brasileira valiam sexta-feira quase R$ 1,7 tri; analistas já temem bolha

Por Renée Pereira
Atualização:

O valor somado das empresas que têm ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) já voltou ao nível em que se encontrava no fim de agosto, antes, portanto, do aprofundamento da crise global, em 15 de setembro, com a quebra do banco Lehman Brothers. Desde o pior momento desse período, em outubro, o valor de mercado da bolsa cresceu R$ 460 bilhões. Quase 70% do montante foi conseguido nos últimos dois meses, quando uma onda de otimismo trouxe de volta ao País o investidor estrangeiro. O ritmo acelerado, no entanto, acendeu um sinal de alerta entre os analistas, que temem o risco de uma nova bolha, pois os dados reais da economia não têm avançado na mesma velocidade. Levantamento da empresa de informações financeiras Economática mostra que, na sexta-feira, o valor de mercado da bolsa paulista atingiu R$ 1,7 trilhão - nível semelhante ao do fim de agosto. A retomada começou a ser desenhada com robustez em abril, quando o valor das empresas listadas na bolsa estava em R$ 1,3 trilhão. "Foi uma grande surpresa. Ninguém acreditava num movimento tão forte e tão rápido como o que ocorreu no último mês", afirmou o executivo-chefe da BRZ Investimentos, Marcos Falcão. Efeito disso foi uma valorização de 42,05% do Ibovespa em 2009 - bem acima dos índices americanos e europeus. Com o risco de quebradeira do sistema financeiro praticamente eliminado, os investidores saíram à caça de aplicações com retornos mais atrativos. Nessa busca, o Brasil acabou sendo beneficiado pelas boas expectativas de crescimento da economia e por um quadro fiscal positivo, segundo avaliação do economista da Opus Investimentos José Marcio Camargo. Além disso, a alta das commodities no mercado internacional beneficia as empresas brasileiras, que dominam o Ibovespa. Cerca de 60% das empresas negociadas na bolsa têm alguma ligação com o mercado de commodities. De olho nesse potencial, os estrangeiros bateram recorde mensal de investimentos na Bovespa em maio - o saldo de compras e vendas ficou positivo em R$ 6,08 bilhões. A grande dúvida neste momento é se a retomada do mercado acionário está exageradamente otimista ou se é consistente. Essa questão está associada ao fato de que o ritmo de melhora da economia real não está compatível à euforia dos últimos meses. Deve-se ponderar, entretanto, que os investidores antecipam movimentos, explicam os economistas. "A pergunta é até quando eles vão continuar comprando ações sem que os dados reais não confirmem as expectativas", questiona o gestor de fundos multimercados da BRZ Investimentos, Jorge Dib. Na opinião dele, diante dos últimos indicadores e da alta da bolsa, muitos papéis acabaram ficando caros para os investidores. Na teoria, novas compras apenas se justificariam com novos indicadores de melhora. Neste segundo trimestre, os dados de produção industrial e desemprego vem demonstrando recuperação, mas de forma bastante lenta. Ainda assim, há alguns setores, como o elétrico e eletrônico e máquinas e equipamentos, que estão em situação bastante delicada, com nível de atividade em queda. Os economistas acreditam que a melhora da economia doméstica será mais consistente a partir do último trimestre do ano. "Até lá, teremos muita volatilidade nos mercados acionários", diz o estrategista do Banco WestLB do Brasil, Roberto Padovani. Na avaliação dele, a euforia dos investidores não é compatível com o nível de insegurança em relação à economia americana. Por isso, ele acredita que pode haver muitos altos e baixos nos próximos meses, conforme a divulgação dos indicadores. "Não podemos esperar que a trajetória seja contínua", observou. Mesma opinião é compartilhada pelo professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Ernesto Lozardo. Para ele, as economias mundiais ainda estão muito frágeis, com desemprego alto e perda elevada de riqueza. "A migração dos investimentos do dólar para o mercado acionário não está baseada em fundamentos econômicos. Com a liquidez mundial, eles precisam remunerar seu capital. A alternativa é a bolsa, já que os juros estão baixos." Nesta semana, dois eventos importantes devem ser acompanhados de perto pelos investidores. O primeiro deles é o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre do ano - que vai revelar uma nova retração da economia. O resultado tende a influenciar a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), sobre a taxa de juros do País, hoje em 10,25% ao ano. A sinalização dada pelo BC poderá intensificar ou diminuir o movimento dos investidores nas próximas semanas. Outro indicador do apetite dos investidores será o resultado das próximas ofertas de ações que serão feitas por empresas brasileiras, como MRV, Gafisa e VisaNet, entre outras. O sucesso dessas emissões poderá incentivar outras companhias a desengavetar projetos de oferta pública inicial (IPO, sigla em inglês), abortados com a deterioração do cenário internacional. A medida beneficiaria a recuperação da economia nacional, já que eleva o volume de crédito no País.

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