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Valorização do real eleva lucro de empresas

Resultados do segundo trimestre ?compensam? perdas do final de 2008

Por Marianna Aragão
Atualização:

Empresas brasileiras que amargaram prejuízos bilionários no final do ano passado, quando a subida do dólar fez explodir suas dívidas em moeda estrangeira, estão vendo o jogo se inverter nos últimos meses. Com a valorização do real frente à moeda americana - de cerca de apenas 15% no segundo trimestre deste ano -, elas voltaram a apresentar lucros gordos em seus balanços. Braskem, Aracruz, Usiminas, Votorantim Celulose e Papel (VCP), Klabin e Gol são algumas das companhias que mostraram bom desempenho graças ao efeito cambial. Na petroquímica Braskem, por exemplo, o lucro líquido no segundo trimestre chegou a R$ 1,156 bilhão, em boa parte impulsionado pelo câmbio. Segundo analistas, as empresas estão recuperando parte do prejuízo sofrido no pior período da crise - em dezembro, o dólar chegou a R$ 2,50. "Há uma descompressão dos resultados", afirma o economista Fábio Silveira, da RC Consultores. A Braskem havia registrado perdas de R$ 2,14 bilhões no quarto trimestre de 2008. A redução do endividamento, porém, foi apenas um alívio no resultado das empresas. Isso porque boa parte delas continua sofrendo com outros efeitos da crise, como a redução da demanda mundial. A própria desvalorização do dólar também teve seu lado negativo, na medida em que reduziu as receitas com as vendas externas. "As empresas exportadoras estão passando por um momento difícil. O ganho financeiro com o câmbio foi apenas uma espécie de compensação", afirma Silveira. A Usiminas é um exemplo desse descompasso. A siderúrgica teve um dos piores resultados operacionais de sua história no segundo trimestre deste ano, com queda de 38% nas vendas em relação ao mesmo trimestre de 2008. A geração de caixa (Ebitda) também caiu, de R$ 1,423 bilhão para R$ 117 milhões. Ainda assim, registrou lucro líquido de R$ 369 milhões no período. "Não estamos satisfeitos com a qualidade da recuperação, ela é muito mais financeira do que operacional", resumiu o presidente da Usiminas, Marco A. Castello Branco, ao comentar os resultados da companhia, no final de julho. Na Aracruz, o o lucro líquido foi de R$ 595,5 milhões, um crescimento de 127% ante o mesmo período de 2008. Enquanto isso, a margem Ebitda despencou de 40% para 26%, e a receita caiu 12%. O mesmo ocorreu com a VCP: lucro de R$ 533 milhões e redução da margem Ebitda de 34% para 23%. A Braskem e a Gol, que tiveram melhora operacional no último trimestre, são as exceções a essa regra. Além do lucro líquido de R$ 354 milhões, fruto do impacto da valorização do real em sua dívida, a Gol teve um resultado operacional positivo de R$ 89,9 milhões. "Conseguimos recuperar parte do impacto negativo que tivemos quando o dólar foi a R$ 2,30", afirmou o presidente da Gol, Constantino de Oliveira Junior, na divulgação do balanço esta semana. Para o analista de investimentos da Spinelli Corretora, Jayme Alves, porém, as empresas não podem contar com a "ajudinha" do câmbio em seus próximos resultados. "Pode haver algum ganho no terceiro trimestre, porque o dólar continuou caindo depois de junho.Mas (a desvalorização) é um movimento temporário." Na avaliação de Carlos Coradi, da Engenheiros Financeiros & Consultores (EFC), o lucro financeiro apurado pelas empresas é irreal. "É um lucro ao sabor do câmbio, que está totalmente fora do lugar." NÚMEROS R$ 1,15 bilhão foi o lucro líquido da Braskem no segundo trimestre de 2009 15% foi a desvalorização média do dólar entre abril e junho R$ 369 milhões foi o lucro líquido registrado pela Usiminas no segundo trimestre 38% foi a queda nas vendas da empresa

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