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Valorização do real faz vendas da indústria caírem

Apesar da queda em abril, a tendência desse indicador é de alta. Nos quatro primeiros meses de 2006, as vendas reais tiveram uma expansão de 2,34% em relação aos últimos quatro meses de 2005

Por Agencia Estado
Atualização:

A valorização do real frente ao dólar fez com que as vendas da indústria de transformação recuassem 1,35% em abril, tomando como base março. Comparando o mês ao mesmo período do ano passado, a queda é ainda maior: 3,59%. Segundo a Confederação Nacional das Indústrias (CNI), responsável pelo cálculo, a desvalorização da moeda norte-americana faz com que a receita das empresas exportadores caia - o que reduz, por sua vez, os ganhos totais. No ano, até sexta-feira, o dólar acumula depreciação de 3,10% frente ao real. Apesar da queda em abril, a tendência desse indicador é de alta. Nos quatro primeiros meses de 2006, as vendas reais tiveram uma expansão de 2,34% em relação aos últimos quatro meses de 2005 (setembro a dezembro). No primeiro trimestre deste ano, por usa vez, a alta foi de 0,76% em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo a CNI, as vendas geralmente caem em abril, porque há menos dias na comparação com março. Em 2006, o efeito calendário foi mais acentuado, porque o mês de abril teve apenas 18 dias úteis - cinco a menos que março. Horas trabalhadas As horas trabalhadas na produção expandiram 0,69% em abril, em comparação a março. No ano, o crescimento é de 1,27% em relação ao mesmo período do ano passado. Para a CNI, o dado indica tendência de crescimento em 2006. Em relação a abril do ano passado, houve um recuo de 2,13%. "Após um período de retração, entre agosto de 2005 e janeiro de 2006, o número de horas trabalhadas na produção - medida aproximada de produção industrial - começa a esboçar uma trajetória de crescimento no início deste ano", explicou a nota de divulgação dos dados. Segundo o documento, o número médio de horas trabalhadas nos últimos três meses (entre fevereiro e abril) é 1,33% maior do que na média dos três meses precedentes "entre novembro de 2005 e janeiro de 2006". A CNI afirma no documento que os dados mostram que há sinais de que os estoques reduziram-se "significativamente" entre o fim de 2005 e o primeiro trimestre de 2006. Para a entidade, esta queda abre espaço para a continuidade de crescimento do setor, nos próximos meses. "Abre a possibilidade de que esse esboço de crescimento da produção industrial possa se consolidar em trajetória robusta nos próximos meses". Emprego Em contrapartida ao resultado das vendas, o emprego industrial aumentou em 1,04%, tomando como base março - a maior taxa para abril em toda a década. Em termos dessazonalizados, a expansão foi um pouco menor, de 0,55%. Mas mesmo assim, destaca a CNI, foi o maior avanço entre dois meses subseqüentes desde janeiro de 2005. De janeiro a abril deste ano, a criação de vagas no setor expandiu 0,85%, em comparação ao mesmo período do ano passado. Em abril a alta foi de 0,89%, em relação ao mesmo mês de 2005. Para a CNI, com o atual ritmo de crescimento, as perspectivas para o ano de 2006 devem se tornar mais favoráveis. Segundo a entidade, o mercado de trabalho passa por um "bom momento". "A expansão do emprego neste início de 2006 contrasta com a acomodação verificada em todo o ano de 2005. O emprego industrial cresceu pelo terceiro mês consecutivo. Em março já havia se expandido em 0,29% e, em fevereiro, 0,41%", afirma a nota da entidade. Na avaliação dos economistas da confederação, o crescimento surpreende. "Geralmente, o mercado de trabalho responde com defasagem ao aumento da atividade industrial. Em períodos de maior produção na indústria, o impacto sobre as horas trabalhadas tende a ser imediato. A contratação de mão-de-obra, por sua vez, acontece num segundo momento. Não é o que se observa no momento. O emprego industrial ampliou-se justamente com a recuperação da atividade industrial". Capacidade instalada A utilização da capacidade instalada da indústria subiu de 80,8% em março para 81,1% em abril - já descontados os ajustes sazonais. Sem o desconto, o setor operou com 80,5% da capacidade em abril, ante 81,8% em março. Segundo a CNI esse aumento não altera a trajetória de estabilidade do indicador, que desde setembro do ano passado está oscilando em torno de 81%. O economista da Unidade de Política Econômica da CNI, Paulo Mol, afirmou que esse dado mostra que a economia brasileira tem condições de crescer sem provocar pressões sobre a capacidade instalada. Ou seja, que não haverá riscos de restrição à oferta de produtos e, portanto, de elevação dos indicadores de inflação. Esse indicador ainda aponta que houve, no início deste ano, a retomada de projetos de expansão ou de modernização do parque fabril. "Ficamos tranqüilos com esse indicador", afirmou. Eleições De acordo com o gerente-executivo da área de pesquisa, avaliação e desenvolvimento da CNI, Renato da Fonseca, os investimentos no setor industrial têm se mantido favoráveis, mas cautelosos. Segundo ele, o ano eleitoral, não trará grandes incertezas, como na última eleição presidencial, quando um dos principais candidatos mostrava uma clara mudança no seu discurso sobre política econômica, em relação às suas posições anteriores. "Conhecemos os discursos dos dois candidatos e nada aponta uma mudança no rumo. Se aparecer um novo candidato com força eleitoral, essa avaliação certamente mudará", disse. Este texto foi atualizado às 14h17.

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