Para o presidente do Insper, o economista Marcos Lisboa, a saída de Joaquim Levy da Fazenda encerra um período de tensão no governo. Agora é preciso aguardar para saber os rumos da política econômica.
Qual a sua leitura para a saída de Joaquim Levy da Fazenda?
Existia claramente uma tensão. O governo fez a gestão numa direção, na campanha disse que ela tinha sido bem sucedida e não havia crise. Após a eleição, houve uma tentativa de fazer um meio ajuste, mas que se inviabilizou.
Mas o que deu errado?
Em primeiro lugar, acho que o diagnóstico da gravidade estrutural do problema fiscal não estava claro. Acreditou-se que a agenda de um ministro da Fazenda seria suficiente para fazer o ajuste. Não era. A dinâmica do gasto público requer mudanças estruturais.
À medida que isso ficou claro para o governo, levou a uma tensão permanente, com revisões da meta e toda a discussão de como fazer o ajuste neste e no ano que vem. Tudo isso mostrou que haviam visões diferentes. Por um lado, os que defendiam medidas estruturais, que interrompam a trajetória de alta do gasto e da dívida pública e, por outro lado, uma visão de que a situação não é tão grave assim.
Levy e Nelson Barbosa que assume o cargo, estavam do mesmo lado?
Não vou personalizar. Eu acho que idas e vindas do governo mostram que existia uma dúvida sobre a necessidade de um ajuste estrutural. No início, acreditou-se que seria possível fazer um primário, assim, de 1%, com o receituário adotado em outros momentos de desequilíbrio fiscal do passado. Não deu. É preciso uma agenda de governo, mas nisso está a contradição: como você faz uma agenda dessas num governo que fez o contrário nos últimos quatro anos e que prometeu outra coisa na campanha? Isso gera contradição na política. O governo agora fez uma escolha.
A escolha de Barbosa para substituir Levy é isso?
Eu não gosto de falar de nomes. O que eu acho é que a agenda de mudança estrutural do fiscal não andou. Enquanto essa agenda não andar, a crise vai continuar se agravando. Não basta a meta. É preciso fazer reformas para que o gasto obrigatório pare de crescer acima do PIB (Produto Interno Bruto), em particular o gasto com a previdência.
Sem personalizar: Levy tem um estilo, Barbosa, outro. Feita a escolha, para onde a política econômica caminha?
O Nelson esteve no governo anterior. Mas a gente precisa trabalhar com o benefício da dúvida: esperar que o novo ministro se manifeste e aguardar para ver o que ele fará.