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Vendas do varejo recuam 1,3% em setembro, com avanço da inflação

Essa é a segunda queda seguida do setor, a maior para o mês da série histórica do IBGE, iniciada em 2000

Por Daniela Amorim (Broadcast)
Atualização:

RIO - O consumo de bens no País voltou a mostrar retração em setembro, sob impacto da alta dos preços na economia, que corroem o poder de compra das famílias. O volume vendido pelo comércio varejista encolheu 1,3% em relação a agosto, a queda mais acentuada para o mês em toda a série histórica da Pesquisa Mensal de Comércio, iniciada em 2000 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O recuo - mais que o dobro da mediana de -0,6% estimada por analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast - sucede um tombo de 4,3% no mês anterior. Em dois meses seguidos de redução, o varejo já acumulou uma perda de 5,6%. 

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“O número ficou obviamente mais fraco do que o esperado, mas já existia a expectativa de que os resultados não seriam bons”, disse o economista-chefe da gestora de recursos Greenbay Investimentos, Flávio Serrano. “A grande surpresa foi a maior dispersão das quedas, porque diversos outros segmentos caíram. Estamos vendo que os preços estão afetando negativamente a atividade varejista”, completou

A aceleração da inflação no País é um dos principais responsáveis pela perda de fôlego das vendas no comércio varejista, corroborou Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE. “Tem alguns fenômenos, mas a inflação certamente é o mais importante, particularmente nos últimos dois meses (agosto e setembro)”, disse. 

As vendas no segmento de hipermercados caíram 1,5% em setembro. Foto: Wilton Junior/Estadão - 21/10/2021

Segundo o pesquisador do IBGE, a inflação afeta mais o desempenho dos segmentos de combustíveis, supermercados, outros artigos de uso pessoal e doméstico (que inclui as lojas de departamentos), veículos e material de construção. Santos lembra que algumas atividades tiveram estabilidade na receita nos últimos dois meses, mas com volume de vendas negativo.

Seis das oito atividades que integram o comércio varejista registraram retração nas vendas em setembro: equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-3,6%), Móveis e eletrodomésticos (-3,5%), combustíveis e lubrificantes (-2,6%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-2,2%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-1,5%) e tecidos, vestuário e calçados (-1,1%). Duas atividades escaparam do vermelho, mas ficaram estagnadas: livros, jornais, revistas e papelaria (0,0%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,1%).

No comércio varejista ampliado, que inclui veículos e material de construção, houve recuo de 1,1% em setembro ante agosto. O segmento de veículos, motos, partes e peças registrou queda de 1,7%, enquanto material de construção caiu 1,1%.

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Entre os demais fatores que têm afetado o desempenho das vendas estão a estagnação nas concessões de crédito, a alta nos juros e a falta de renda para consumo, uma vez que o mercado de trabalho vem evoluindo sem melhora do rendimento médio do trabalhador, enumerou Cristiano Santos. 

Ele lembrou ainda que os serviços competem com o comércio pela renda disponível das famílias, e a alta recente do dólar também “diminui o ímpeto dos consumidores” por artigos importados, o que “pode influenciar em algumas cadeias” varejistas. 

“Quase não há mais relatos de impacto da pandemia na receita das empresas”, acrescentou Santos. Entre os informantes que justificaram ao IBGE a variação na receita em setembro, apenas 2,3% relataram impacto da pandemia de covid-19 sobre os negócios. No auge do choque provocado pela crise sanitária, em abril de 2020, esse porcentual era de 63,1%.

Santos reconhece que a maioria dos setores teve uma queda “muito forte” em setembro ante agosto, mas vê volatilidade elevada nos dados. Segundo ele, depois da recuperação que levou o varejo a patamares recordes recentemente, há um movimento de acomodação no nível de vendas, por conta da base de comparação elevada.

Após o recuo no volume vendido em setembro, o varejo passou a operar 6,8% abaixo do pico alcançado em novembro de 2020. O varejo ampliado está em nível 8,0% aquém do ápice registrado em agosto de 2012. / COLABOROU CÍCERO COTRIM 

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