A demissão de 17 pilotos da Varig, incluindo toda a diretoria da associação de pilotos da empresa (Apvar), não diminuiu o ânimo dos participantes do movimento patrocinado pela entidade e que tem provocado atrasos de até 3h30 nos vôos desde que começou, no sábado. O presidente da Apvar, Flávio Souza, um dos demitidos, afirmou nesta quinta-feira que os pilotos estão preparados para ficar durante anos no movimento que é estruturado em fases e deve chegar em abril ou maio à quarta e última fase, que prevê paralisações de até 48 horas. "Nosso movimento segue um padrão internacional desenvolvido nos Estados Unidos e na Europa todo baseado na paciência e na persistência", disse Souza. "A Air Canadá ficou na quarta fase por dois anos." Nesta sexta-feira, os pilotos vão dar entrada nas delegacias regionais do Trabalho (DRT) do Rio e de Brasília a pedidos de reintegração dos 17 que foram demitidos por justa causa, segundo Souza, sob a alegação de fazerem a apologia do movimento e coagirem outros a participar. "Essa demissão por justa causa é indefensável porque a Constituição garante esse tipo de atividade", disse Souza. Ele declarou considerar provável, "dada a administração da empresa", que haja outras demissões. Os cerca de 1.500 pilotos associados, porém, já estavam organizados antes mesmo das demissões para, mediante rateio, emprestar aos demitidos o equivalente ao salário líquido para reembolso depois que a Apvar conseguir acordo ou ganhar as ações trabalhistas correspondentes. O movimento está na primeira fase das quatro previstas. Nesta primeira, os pilotos estão fazendo estritamente o que está no contrato de trabalho, deixando, por exemplo, de pedir autorização de tráfego antes do horário da partida ou de chamar, antes de aterrissar, os serviços de terra para o desembarque. Na segunda fase, prevista para começar no mês que vem, os pilotos vão tomar iniciativas como voar por rotas mais longas em vez de direto entre um ponto e outro. A terceira fase deve durar apenas 15 dias e será de vôos mais rápidos. A quarta e última fase é de paralisações progressivas, que começam em duas horas por dia e vão duplicando até chegar a 48 horas seguidas, reiniciando depois em duas horas no dia seguinte. Ele afirmou que as associações de pilotos das 13 empresas estrangeiras que participam com a Varig da Star Aliance se comprometeram a apoiar o movimento e a não levar passageiros da Varig. Souza disse que, em novembro, a Varig se afastou das negociações que vinha tendo com os pilotos desde julho e colocou 50 pilotos da empresa em licença sem vencimentos e por tempo indeterminado, usando a licença como forma de evitar o pagamento de indenizações trabalhistas, e a partir daí não negociou mais. "A Varig tem dinheiro para patrocinar escola de samba, acredito que tenha também para pagar indenizações trabalhistas", disse Souza. Ele disse que a Apvar tinha proposto que as 50 demissões fossem divididas entre a Varig, a Rio Sul e a Nordeste que são as empresas da holding Rubem Berta. Segundo Souza, os pilotos da Rio Sul ganham 30% menos que os da Varig e os da Nordeste 15% menos que os da Rio Sul. Agora, uma das principais reivindicações dos pilotos, além da volta de negociações para manter o mercado de trabalho e o reajuste salarial, é a integração dos quadros das três empresas, com um plano de cargos e salários que considere experiência, idade e tempo de casa. "Embora seja proibido reduzir salários dentro de uma empresa, está havendo uma redução de salários dentro do grupo, pela redução de empregos na Varig", disse.