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Varig precisa de pelo menos US$ 40 mi para negociar frota

Novos donos da Varig têm 30 dias para retomar as rotas da companhia, que incluem mais de 30 cidades no Brasil e mais de 20 no exterior

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois de uma longa e turbulenta jornada, a Varig foi, enfim, vendida. O que todos se perguntam agora é: o que será da nova Varig? Os novos donos, os sócios da VarigLog, têm 30 dias para retomar as rotas da companhia, que incluem mais de 30 cidades no Brasil e mais de 20 no exterior. Caso contrário, serão repassadas às concorrentes. Para conseguir retomar ao menos parte dessa malha de vôos, a empresa tenta negociar cerca de 30 aviões com as empresas de arrendamento. A conta para assinar esses novos contratos começa em US$ 40 milhões - considerando um primeiro aluguel e dois meses de depósito, para uma frota hipotética de 20 aviões para o mercado doméstico e 10 para o mercado internacional. Os novos investidores terão agora de demonstrar o tamanho e a urgência do apetite financeiro. "Empresa de leasing de avião é como banco e companhia de seguro: se os novos investidores demonstrarem que têm dinheiro, eles mudam o discurso e sentam para conversar", afirma o consultor Paulo Bittencourt Sampaio. "Ainda não ficou claro qual o grau de compromisso dos novos investidores", afirma o professor do Ibmec São Paulo, Sérgio Lazzarini. Fundo abutre Conhecido no mercado financeiro dos EUA como fundo "abutre", pela atração por negócios de altíssimo risco, o Matlin Patterson - sócio americano da VarigLog na Varig - tem exibido retornos da ordem de 40% nos últimos dez anos. No entanto, estima-se que de cada dez investimentos que o fundo faz em empresas falidas, uns três, no máximo, se transformam em máquinas de fazer dinheiro. Para a Varig recuperar a capacidade de gerar caixa, será preciso muito trabalho. A empresa, que até três anos atrás gerava R$ 9 bilhões, hoje quase só tem despesas. Apesar de a VarigLog ter adquirido, por R$ 500 milhões, uma empresa sem dívidas, sobraram alguns penduricalhos. Será preciso demitir e indenizar funcionários, além das despesas para pôr a frota em dia. As empresas de leasing também condicionam a renovação ou assinatura de novos contratos ao pagamento de aluguéis atrasados, uma conta que já passa de US$ 60 milhões. Será preciso, ainda, um esforço grande para devolver à marca Varig a confiança do passado. "A Varig era vista com muito carinho pelo consumidor brasileiro", diz o sócio-diretor da consultoria de marcas Top Brands, Marcos Machado. "Mas o massacre diário de más notícias no último ano prejudicou bastante a companhia e vai demorar um tempo até que as pessoas voltem a confiar." Na sua opinião, se a empresa recuperar a eficiência operacional, com regularidade e pontualidade, o passageiro voltará. "Não adianta cair na tentação de fazer uma campanha de mídia anunciando que tudo vai mudar. Se o passageiro não perceber uma mudança efetiva na operação, ele não vai voltar." A Varig volta ao mercado em um momento de forte demanda e de concorrência bastante capitalizada. Enquanto o mercado caminha para um crescimento de 20% no ano, a TAM cresce mais de 30% e a Gol, acima de 50%. Para recuperar mercado, ela vai precisar colocar muita oferta e crescer bem acima da média do mercado. "Para conseguir ganhar mercado, ela terá de colocar uma oferta muito grande de aviões e provocar uma guerra de preços", avisa um executivo da concorrência. De uma participação de quase 50% há uma década, desde que adotou o plano de contingência, em 21 de junho, reduzindo a malha em quase 80%, a empresa viu sua fatia de mercado encolher para menos de 5%. E os primeiros sinais de que a nova Varig irá tentar recuperar os passageiros pelo bolso já foram dados na Ponte Aérea Rio-São Paulo, a rota mais rentável. Se antes da crise elas custavam por volta de R$ 500 cada perna, no aeroporto é possível comprar o bilhete por R$ 190. Para o analista Paulo Bittencourt Sampaio, há ainda bastante espaço para uma reativação da Varig. "Uma retomada da Varig pode estimular a competição, ajudando a reduzir preços e a estimular ainda mais a demanda", diz.

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