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Veja como ficam os entraves econômicos do governo Trump com a posse de Biden

Segundo especialistas, disputa econômica entre EUA e China certamente continuará, mas impactos no Brasil, que ainda sonha com a entrada na OCDE, são incertos

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Por Luciana Dyniewicz
Atualização:

A saída, nesta quarta-feira, 20, de Donald Trump da presidência dos Estados Unidos, vai deixar algumas lacunas a serem preenchidas pelo governo de Joe Biden. Entre elas, está a guerra comercial travada com a China, que segundo especialistas consultados pelo Estadão, não deve sair de foco com a chegada do democrata. Também fica no radar o apoio prometido por Trump para ajudar o Brasil a entrar na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

No entanto, se o governo Trump foi marcado pelos grandes escândalos políticos, os próximos quatros do democrata na presidência deverão ser bem menos barulhentos, mas com grandes disputas nos bastidores, segundo aponta Matias Spektor, professor de Relações Internacionais da FGV. Veja mais logo abaixo:

Donald Trump vai deixar a Casa Branca, mas os resquícios de sua administraçãovão permanecer. Foto: White House via EFE

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OCDE: 'Existe o apoio verbal e o engajamento'

Em março de 2019, quando o presidente Jair Bolsonaro fez sua visita oficial aos EUA, ele anunciou que o Brasil abriria mão de vantagens que tinha na Organização Mundial do Comércio (OMC) e, em troca, receberia apoio americano para o País poder fazer parte da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)

O professor Matias Spektor, da FGV, acha difícil que o governo Bolsonaro continue tendo apoio americano com a mudança na presidência. “Se havia alguma chance disso com Trump, agora não está mais na agenda. Não consigo imaginar nenhum líder entregando ao Brasil uma coisa dessas no governo Bolsonaro. A imagem do Bolsonaro no mundo é péssima e o Biden só vai fortalecer essa tendência.”

Na visão do advogado Welber Barral, secretário de Comércio Exterior do Brasil entre 2007 e 2011, porém, é difícil um país retirar o apoio depois que ele já foi dado publicamente. “Agora, existe apoios e apoios. Existe o apoio verbal e o engajamento. Isso dependerá do relacionamento bilateral com Brasil, que ainda precisa ser construído”, afirma.

Guerra comercial: Disputa ficará nos bastidores da diplomacia

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A guerra comercial entre Estados Unidos e China, deflagrada por Donald Trump, não vai recuar, segundo analistas. A disputa geopolítica entre as potências deve continuar, mas de forma mais discreta, isto é, nos bastidores da diplomacia, e não no Twitter.

No governo Trump, principalmente em 2019, a guerra desencadeou uma desaceleração do comércio internacional global, prejudicando também o Brasil de modo geral. A produção agrícola brasileira, sobretudo a de soja, no entanto, se beneficiou quando China decidiu reduzir as compras dos EUA. Por enquanto, diz Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, não é possível cravar se algum segmento brasileiro vai ganhar com a nova fase da disputa. “Isso dependerá de acordos que China e EUA fizerem.” A tendência, acrescenta, é que a disputa se torne mais previsível.

Para Matias Spektor, o discurso de Biden sugere que os EUA tentarão usar a abertura comercial como arma. Isso só será possível, no entanto, se ele conseguir manter a maioria no Congresso daqui a dois anos, quando haverá eleições parlamentares. Como o país está polarizado, nada é garantido.

Tecnologia 5G: Regras ainda serão objeto de discussão

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Donald Trump vinha pressionando o Brasil – e o mundo todo – para banir a empresa chinesa Huawei sob a alegação de que ela atua como braço de espionagem do Partido Comunista Chinês. Alinhado a Trump, o presidente Jair Bolsonaro trabalhava para que a Huawei ficasse de fora do leilão de 5G no País. Segundo apurou o Estadão, porém, hoje, a tendência é que Bolsonaro desista do banimento.

Analistas acreditam, no entanto, que o assunto não será encerrado facilmente. “Há regras que ainda serão objeto de discussão. O tema vai longe. Trump vinha fazendo muita pressão. A dúvida é: qual relevância Biden dará ao assunto?”, questiona Welber Barral.

Para Livio Ribeiro, economista do Ibre/FGV, o banimento da chinesa também dependerá da política externa brasileira. “(A chegada de Biden) exige um reposicionamento do Itamaraty para que o Brasil não fique isolado. A diplomacia vai continuar na linha que estava ou se moldará aos fatos?” Na América Latina, com exceção do México, os países têm liberado a atuação da Huawei.

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