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Veja como o dólar se tornou a moeda de referência mundial

Até a 1ª Guerra, economias usavam padrão-ouro; conferência de Bretton Woods, em 1944, mudou o cenário

Por Giuliana Vallone
Atualização:

O dólar passou a ser referência em todo o mundo ainda na primeira metade do século XX, quando o padrão-ouro, adotado até então, fracassou. Até o início da Primeira Guerra Mundial, as instituições financeiras de cada país adotavam uma taxa fixa para suas moedas em relação ao outro. As negociações comerciais eram feitas respeitando esse preço fixo, impedindo que alguns países mexessem em sua taxa de câmbio para aumentar suas exportações e reverter déficits comerciais, e, assim, garantindo a estabilidade da economia.

 

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"Qualquer desequilíbrio nas economias deveria ser revertido com política monetária (aumento ou queda de juros) ou fiscal (alterações de impostos), e não através do câmbio", explica o professor de História Econômica da FEA-USP, Renato Colistete. Nos anos em que esse padrão vigorou, os países mantinham grande parte de suas reservas internacionais em ouro.

 

Com o início da Primeira Guerra, em 1914, o padrão-ouro caiu, refletindo os grandes desequilíbrios causados por ela nas economias ao redor do mundo. Começou, então, um difícil período de transição. "Houve um período de transição sofrido, doloroso, complexo, muito conflituoso entre a Primeira Guerra até a Segunda Guerra, quando começa a gestão novo padrão monetário", diz Colistete.

 

As discussões sobre o novo modelo começaram ainda durante a Segunda Guerra Mundial, e consolidou-se, nesse período, a visão de que a melhor estratégia seria algo similar à adotada durante o padrão-ouro, com uma taxa de câmbio fixa, baseada em uma moeda forte. "A moeda seria obviamente do país que fosse considerado capaz de ser o regente da orquestra, naquela época, os Estados Unidos", afirma.

 

Ainda em meio ao conflito mundial, 730 delegados de 44 países se reuniram em julho de 1944 em Bretton Woods, nos Estados Unidos, para definir uma nova ordem econômica mundial, que ajudaria a restabelecer o capitalismo mundial. Os líderes partiram de duas propostas iniciais, uma norte-americana, do oficial do Tesouro dos Estados Unidos Harry White, e uma britânica, do conhecido economista John Keynes.

 

Mais abrangente, segundo Colistete, a proposta de Keynes tinha como centro criação do International Clearing Union (ICU), que teria o papel de gerar e regular o crédito com o objetivo de evitar flutuações econômicas muito grandes, como ocorreram no período entre as guerras. Além disso, seria criada uma nova unidade monetária, o bancor.

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A proposta de White mantinha a vinculação do câmbio com o ouro, mas o dólar seria a única moeda com valor diretamente fixado em ouro (US$ 35 por onça de ouro). A partir daí, todos os outros países teriam um valor fixo para a sua moeda frente à divisa norte-americana.

 

As ideias norte-americanas acabaram prevalecendo, devido à importância dos Estados Unidos no cenário pós-guerra. "A economia americana se fortaleceu pela guerra, se beneficiou das encomendas. A rigor, foi aí que os Estados Unidos saíram da Grande Depressão", afirma o historiador.

 

Além disso, as conclusões de Bretton Woods incluíam a criação do Fundo Monetário Internacional (FMI), que administraria o sistema de pagamentos internacional e determinaria as cotações das moedas de outros países frente ao dólar. A cota de participação de cada país no fundo dependia de seu poder econômico, o que fez com que os Estados Unidos tivesse, naquela época, e até hoje, grande parcela do poder decisório.

 

Um outro órgão de supervisão, o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (International Bank for Reconstruction and Development, ou Bird), hoje conhecido como Banco Mundial, também foi criado na conferência de Bretton Woods.

 

O fim do acordo

 

Esse regime de câmbio fixo vinculado ao dólar que, por sua vez, era ligado ao ouro, durou até o início da década de 1970, quando alguns países como Canadá, Inglaterra e Japão começam uma onda de fuga dessa paridade.

 

Um dos problemas do sistema de Bretton Woods, de acordo com Colistete, era que ele era dependente da situação econômica dos Estados Unidos. Após a Segunda Guerra, houve uma escassez grande de dólares no mundo, e os países precisavam da moeda para adquirir os principais produtos que gostariam de importar, que eram norte-americanos. Para gerar dólar, os países precisavam gerar receitas com exportações para os Estados Unidos.

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Com a recuperação mundial, os países começam a ter superávits crescentes com os EUA, o que significa uma inundação de dólares no mundo. Isso acaba fazendo com que a moeda perca seu poder de se tornar um meio de pagamento internacional confiável.

 

"Os agentes começaram a apostar na possibilidade de que o dólar pudesse ser desvalorizado, porque os EUA estavam com um déficit tão grande que seria fatal que tivessem que corrigi-lo desvalorizando a moeda no futuro. Desvalorizar o dólar significava o fim do regime de câmbio fixo. Já nos anos 60 a situação era potencialmente explosiva e ela degringola completamente nos anos 70", explica o professor da USP.

 

Em 1971, o presidente norte-americano Richard Nixon rompeu unilateralmente o acordo, sob pressão internacional. Com o Choque do Petróleo, em 1973, o sistema de Bretton Woods é deixado oficialmente de lado, e passa a vigorar o regime de câmbio flutuante que conhecemos hoje.

 

A partir daí o mercado, a intervenção do governo e os interesses diante de suas contas externas, são quem determinam a cotação das moedas frente ao dólar. "Se o país está com déficit comercial, a tendência é que eles adotem políticas mais agressivas para desvalorizar suas moedas, para exportar mais e corrigir esse déficit. Começa a haver uma situação de disputa potencial entre os países para corrigir seu desequilíbrios comerciais e no balanço de pagamentos por meio da desvalorização da moeda, que era exatamente o que se procurava evitar antes", diz Colistete.

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