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'Vejo o futuro da Europa com otimismo cauteloso'

Ex-secretário do Ministério da Fazenda da Espanha, Campa diz que seu país fez um grande ajuste na economia real

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Por Raquel Landim
Atualização:

Ao contrário de seus pares, o economista José Manuel Campa está "cautelosamente" otimista com o futuro da Europa. Ele diz que os europeus promoveram reformas importantes e que, se forem capazes de convencer o mundo de que o projeto do euro é "irreversível", a região vai voltar a crescer.

Campa assistiu à crise europeia de um de seus epicentros, porque ocupou o cargo de secretário de Estado no Ministério da Fazenda e Administração Pública da Espanha entre 2009 e 2011.

Ele diz que seu país "fez um grande ajuste na economia real" e ressalta que o crescimento das exportações é o segundo maior da Europa, perdendo apenas para a Alemanha.

Na semana passada, a União Europeia anunciou a criação do supervisor bancário único do bloco. Professor da escola de negócios IESE da Universidade de Navarra, Campa fez parte do grupo de altos especialistas que discutiu o tema.

Por quanto tempo a Europa permanecerá estagnada?

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O crescimento da Europa vai depender de tomarem decisões na direção correta, fomentado a integração e a flexibilização a economia. A Europa está fazendo ajustes estruturais maiores do que outras zonas do mundo. Com as reformas que estão sendo implementadas, se os europeus forem capazes de convencer os mercados da credibilidade do projeto do euro, o potencial de crescimento da economia é maior do que muita gente pensa em dois ou três anos. Um crescimento entre 2% e 3% da zona do euro seria razoável.

O senhor vê com otimismo o futuro da Europa?

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Vejo com um otimismo cauteloso. É importante que decisões supranacionais e nacionais gerem uma confiança plena no mercado de que o projeto do euro é irreversível. Isso depende de bastante trabalho nos próximos 12 a 15 meses.

Quais políticas são fundamentais para gerar crescimento?

Foram tomadas decisões muito importantes recentemente como a criação do supervisor bancário europeu. Sem dúvida, é importante reestruturar o setor público na periferia da Europa, mas também são necessários ajustes no centro do continente, em particular nos países que aparentemente vão bem como Alemanha, Holanda e até a França. Esses países devem contribuir com medidas para o crescimento europeu.

Qual é a sua avaliação sobre o supervisor bancário europeu?

É um primeiro passo muito positivo. Mas faltam outros aspectos importantes da união bancária. Precisamos também da fusão dos fundos de garantias de depósitos que estão em nível nacional e, em alguns países, até regional. É muito importante fazer a supervisão dos bancos, mas também é preciso deixar claro o que fazer quando há problemas. Essa decisão permanece dentro dos Estados.

Há risco de algum país abandonar o euro?

A possibilidade de algum país abandonar o euro é nula. Essa foi a mensagem dos líderes europeus, que foi parcialmente compreendida pelo mercado.

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Quanto tempo vai demorar para a Espanha se recuperar?

A Espanha está fazendo um ajuste muito grande em sua economia real. O ajuste no setor exportador é sem precedentes. O crescimento das exportações da Espanha é o segundo maior da Europa, atrás apenas da Alemanha. No setor imobiliário, que foi o mais superdimensionado, o ajuste já foi feito. Também já ocorreu uma grande parte do ajuste do setor público. O que falta é residual. A questão é que a Espanha vive crescimento econômico negativo. Os economistas distinguem entre os déficits públicos cíclicos e os estruturais. Boa parte do déficit da economia espanhola já vem pelo componente cíclico. 2013 ainda vai ser um ano de recessão, por causa da consolidação fiscal, mas nos anos seguintes podemos esperar crescimento.

A Espanha pode sobreviver sem um resgate da UE?

O governo mandou uma mensagem clara de que não vai solicitar o apoio. Os programas são custosos politicamente.

O Fed decidiu condicionar juros a taxa de desemprego. Foi uma decisão correta?

Foi uma decisão muito valente. Na Espanha, temos desemprego de 25% e juros reais de mais de 5%. O Fed teve sensibilidade e apontou numa direção importante. O objetivo da economia é gerar bem-estar e emprego para os cidadãos.

Há riscos de gerar inflação?

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Claro. Mas, se não tiver riscos na vida, já estaria tudo pronto.

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