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Velocidade de deterioração do déficit preocupa economista

Ex-diretor do BC atribui aumento do saldo negativo à expansão da demanda

Por Leandro Mode
Atualização:

A velocidade com que o déficit em conta corrente brasileiro aumenta já leva diversos economistas a acender a luz amarela. Entre eles está José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central (BC) e sócio da MCM Consultores. "Não é uma fonte de preocupação se fizermos uma análise estática, que mostra que o déficit deve ficar em 2% do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano e será coberto pelo expressivo investimento externo", afirmou. "Mas a rapidez com que cresce assusta." Entre janeiro e abril, o saldo negativo alcança US$ 14,068 bilhões. Nos 12 meses encerrados em abril, é de US$ 14,65 bilhões. Senna discorda da avaliação de muitos especialistas - e também do Ministério da Fazenda -, segundo a qual a raiz do problema estaria na valorização do real. "Não é para o câmbio que temos de olhar, mas para o desequilíbrio entre poupança e investimento", defendeu. "Deveríamos promover a liberação das forças produtivas para possibilitar a elevação da oferta na economia brasileira." O ex-diretor do BC parte do princípio de que a pressão sobre as contas externas advém de um aumento da demanda que não tem sido coberto pela oferta. "Se compararmos os últimos nove meses com os nove meses imediatamente anteriores, veremos que a demanda se expandiu 9%", afirmou. "É praticamente uma taxa de crescimento chinesa." A saída, disse Senna, seria desacelerar a demanda ou aumentar a oferta. No segundo caso, as soluções envolveriam medidas cujo impacto seria sentido no balanço de transações correntes apenas no médio e longo prazos. Entre elas, o economista cita as reformas tributária e trabalhista, além da melhora do sistema educacional do País. Em relação à demanda, o ex-diretor do BC acredita que a única solução que poderia dar resultado no curto prazo seria a redução das despesas do governo. "Eu não teria dúvida em adotar medidas que representassem uma melhora da poupança do setor público", afirmou. Na prática, o economista defende que as contas do setor público tenham superávit nominal - ou seja, o resultado entre receitas e despesas deve ser positivo mesmo levando-se em conta o pagamento dos juros da dívida. Hoje, o governo federal faz superávit primário, conta que não inclui os juros.

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