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Vendas da indústria caem 1,49% no semestre

Segundo a CNI, a tendência negativa se deve em grande parte à valorização do real. A moeda brasileira chegou a valer 15% a mais sobre o dólar no período, o que prejudicou as exportações

Por Agencia Estado
Atualização:

As vendas reais da indústria acumulam queda de 1,49% no primeiro semestre do ano. A informação, divulgada nesta segunda-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), utilizam com base o mesmo período do ano passado. Ainda no primeiro semestre, as horas trabalhadas na produção aumentaram 0,66% no primeiro semestre e o emprego cresceu 1,42%. Analisando junho isoladamente, as vendas reais cresceram apenas 0,30% em termos dessazonalizados, enquanto que as horas trabalhadas na produção caíram 0,04%. O emprego industrial apresentou leve queda, de 0,01% em relação a maio. Na comparação com junho de 2005, no entanto, as vendas reais tiveram queda de 3,75% e as horas trabalhadas diminuíram 1,15%. O emprego nesse mesmo período subiu 1,29%. Apesar da tendência, as vendas na indústria de transformação tiveram uma variação positiva pelo terceiro trimestre consecutivo. No segundo trimestre de 2006, as vendas expandiram-se 0,39%. Na avaliação da CNI, a tendência das vendas industriais é de crescimento ainda que de forma gradual. Em relação às quedas de 3,75% apresentadas em junho ante o mesmo mês do ano passado, e de 1,49% ano acumulado no primeiro semestre, a CNI explica que elas se devem em grande parte à valorização do real. Segundo a CNI, houve uma valorização do real frente ao dólar de quase 15% no primeiro semestre de 2006 na comparação com o mesmo período de 2005, o que impactou negativamente o faturamento das empresas exportadoras. A CNI também destaca que a estabilidade nas horas trabalhadas em junho na comparação com maio é um contraponto aos crescimentos ocorridos em abril e maio na comparação com os meses anteriores. O número de horas trabalhadas, que mede a produção industrial, ampliou-se 1,88% no segundo trimestre de 2006 em relação ao primeiro trimestre deste ano. Segundo a entidade, é um crescimento relevante não só pela intensidade mas também porque interrompe uma seqüência de três trimestres em queda. Em relação à queda de 1,15% nas horas trabalhadas na comparação com junho de 2005, a CNI explica que a variação negativa deve-se ao feriado de Corpus Christie que neste ano ocorreu em junho e em 2005 foi em maio. Capacidade instalada O índice de utilização da capacidade instalada da indústria de transformação em junho atingiu 82,3% em termos dessazonalizados - o porcentual mais alto para um mês em 2006. No entanto, afirma a CNI, esse aumento do indicador não altera a trajetória de estabilidade do índice de utilização da capacidade instalada observado desde o fim de 2005. Segundo a CNI, as empresas operaram no segundo trimestre com uma utilização média de 81,7%. Esse patamar mantém-se estável há três trimestres. Em maio de 2006 e em junho de 2005 a capacidade instalada era de 81,8%. Campanha eleitoral O economista chefe da CNI, Flávio Castelo Branco, afirmou que o quadro industrial no terceiro trimestre do ano não deve ser muito diferente do registrado no segundo trimestre. Segundo ele, a indústria deve continuar mostrando crescimento, mas num ritmo moderado. Castelo Branco afirmou que a campanha eleitoral deve refletir um pouco nos números do terceiro trimestre já que as eleições levam a uma elevação das contratações temporárias, o que, na sua avaliação. provoca um aumento do consumo interno. O economista destacou que as posições da economia no terceiro trimestre não devem se alterar. Segundo ele, o processo de queda nas taxas de juros deve continuar, além da valorização do real frente ao dólar. Certo conforto Já o economista Paulo Mol, também da CNI, destacou que os dados da balança comercial, que mostram crescimento da importação de bens de capital, dão um "certo conforto" porque indicam que os empresários continuam realizando investimentos. Ele afirmou que a entidade não tem ainda como precisar o ritmo de maturação desses investimentos. Mol ressaltou que embora a indústria tenha mostrado dinamismo no primeiro semestre, o crescimento entre os setores é muito heterogêneo. "A média indica um caminho mas não quer dizer que todos os seguimentos estejam nesta direção", disse. Ele lembrou que os setores afetados pelo câmbio e que têm perfil de pequenas e médias empresas estão tendo mais problemas porque, além de perderem mercado externo, estão enfrentando a concorrência das importações no mercado interno. Citou como exemplo os setores moveleiro, calçados e têxteis que têm apresentado quedas na produção e nas vendas muito profundas. Por outro lado, disse que os setores com perfil de grandes empresas e mais ligados à economia internacional estão indo muito bem, como os setores sucroalcooleiro, de refino de petróleo e de extrativismo mineral. Contratações Segundo Mol, esta heterogeneidade também é sentida na contratação de empregados. Ele destacou que tem havido uma concentração de contratação nas grandes empresas exportadoras. Disse que os dados do primeiro semestre em relação ao emprego surpreenderam porque mostraram uma expansão acima do esperado. No segundo trimestre, houve um crescimento de 1,03% ante ao primeiro trimestre de 2006, o que significa um ritmo de expansão semelhante ao observado no final de 2004 e início de 2005, quando o emprego expandia-se a uma taxa superior a 4% ao ano. Ele destaca que a expansão do emprego no primeiro semestre de 2006 contrasta com a falta de dinamismo do mercado de trabalho no último semestre de 2005. Castelo Branco citou como exemplo da heterogeneidade na contratação da indústria os dados apresentados pela Fiesp, que mostram que 80% das novas contratações ocorridas nos últimos doze meses encerrados em junho em são Paulo ocorreram no setor sucroalcooleiro. Este texto foi atualizado às 12h57.

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