Três indicadores apurados por instituições diferentes mostram que as vendas na semana do Dia das Mães foram menores do que em 2014. O resultado reflete o cenário de crise, marcado pela combinação de inflação alta com aumento do desemprego, baixo nível de confiança do consumidor e taxa de juros ascendente.
A Serasa Experian, que acompanha as vendas à vista e a prazo, registrou queda de 2,6% no número de consultas em comparação ao mesmo período do ano passado. Foi a primeira retração de vendas por ocasião do Dia das Mães em 13 anos, quando a empresa especializada em informações econômico-financeiras começou a acompanhar as vendas da data.
"Com esse resultado negativo de vendas do Dia das Mães, aumentam as chances de que o PIB (Produto Interno Bruto) do 2.º trimestre do ano seja negativo, caracterizando uma recessão técnica, já que há consenso no mercado de que o PIB do 1.º trimestre ficou abaixo do de 2014", afirmou o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi. Ele disse que a venda do varejo é um termômetro importante do ritmo da economia. "Quando as vendas caem (no comércio), isso significa menos pedidos para a indústria e também menos demanda de serviços."
Já para a Boa Vista SCPC, a queda foi menor comparada à registrada pela Serasa. O total de consultas para vendas a prazo e à vista na semana do Dia das Mães recuou 1,2% em relação a 2014. Também foi a primeira retração de vendas para a data desde 2008, quando começou a ser apurado o indicador. "Esse resultado não destoa do que houve nas últimas datas comemorativas do comércio varejista e reforça o cenário de desaceleração", afirmou Flávio Calife, economista da Boa Vista.
Ele disse que ainda é cedo para projetar queda no ano de vendas do varejo restrito (que não inclui automóveis e material de construção) e retração do PIB do 2º trimestre.
Uma enquete feita pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo mostra queda no valor médio do gasto este ano - de R$ 57 em 2015 ante R$ 65 em 2014. A combinação da pesquisa da Boa Vista com a enquete da Federação do Comércio indica que o varejo deixou de faturar R$ 7 bilhões no Dia das Mães deste ano.
A prazo.
De acordo com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e o SPC Brasil, as consultas para vendas financiadas no Dia das Mães deste ano tiveram o segundo recuo consecutivo. Neste ano caíram 0,60% em relação a 2014, depois de terem recua do 3,55% no ano anterior. "A freada foi em 2014, agora a queda é menor, mas o patamar de vendas é baixo, porque se trata de uma queda sobre outra queda", disse a economista-chefe, Marcela Kawauti. Como o Dia das Mães é a segunda melhor data para o varejo, ela disse que, com esse resultado, é possível que o varejo restrito feche o ano no vermelho.
Essa também é a avaliação do economista da Confederação Nacional do Comércio, Fábio Bentes. Ele projetou alta de 0,3% do varejo restrito para 2015, mas vai mudar a estimativa para queda de 0,3% em breve.