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Vendas do varejo têm queda recorde de 16,8% em abril

Com o fechamento do comércio por causa da pandemia de coronavírus, resultado é o pior da série histórica do IBGE, iniciada em 2001; analistas projetam recuperação lenta

Foto do author Thaís Barcellos
Por Daniela Amorim (Broadcast) e Thaís Barcellos (Broadcast)
Atualização:

RIO e SÃO PAULO - Afetado pela pandemia do novo coronavírus, o tombo recorde nas vendas em abril levou o varejo brasileiro a operar no patamar mais baixo já registrado, segundo os dados da Pesquisa Mensal de Comércio, iniciada em 2001 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O comércio varejista teve uma queda de 16,8% em abril ante março. No varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, o volume de vendas caiu 17,5%, também a maior perda da série.

O resultado ajuda a balizar a magnitude do choque causado pela pandemia do coronavírus na economia e é condizente com um recuo de 7,5% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, diz Luis Bento, analista da gestora Rio Bravo Investimentos.

Loja da Rua 25 de Março, no centro de São Paulo, reabre no dia 10 com fila de consumidores na calçada. Foto: Werther Santana/Estadão - 10/6/2020

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“Abril foi realmente o fundo do poço da atividade em 2020, mas, diferentemente do mercado, estamos mais céticos sobre a velocidade de retomada a partir de maio, porque acreditamos que houve destruição de capacidade produtiva”, explicou Bento, que espera alta de 3,2% do PIB em 2021. “A atividade não deve voltar ao nível pré-coronavírus nem neste nem no próximo ano.”

O mau desempenho já tão extremo no varejo em abril pode amenizar a variação das vendas na pesquisa referente a maio, segundo Cristiano Santos, analista do IBGE. “Se minha loja de tecidos fechou, ela fica no zero em abril. Se ela tiver receita zero de novo em maio, ela já chegou no patamar zero dela. Se não houve em maio nenhum tipo de estratégia distinta de jogar a receita para cima, as empresas que estão fechadas permanecem no mesmo patamar”, explicou Santos, referindo-se à série histórica com ajuste sazonal, ou seja, maio em comparação com abril.

Para o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, o varejo ainda deve ter desempenho fraco em maio, com a manutenção do fechamento do comércio não essencial nas capitais e início de quarentena nas cidades de interior. A retomada da atividade se daria apenas em junho, favorecida pela base de comparação baixa, mas seguindo uma trajetória gradual, já que o aumento do desemprego e a queda da renda devem manter os consumidores cautelosos. “Deve levar muito tempo para recuperar o nível de atividade que foi perdido em março e abril”, previu.

Setores

Na passagem de março para abril, todas as atividades do varejo restrito e do varejo ampliado registraram perdas: tecidos, vestuário e calçados (-60,6%), livros, jornais, revistas e papelaria (-43,4%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-29,5%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-29,5%), móveis e eletrodomésticos (-20,1%), artigos farmacêuticos, perfumaria e cosméticos (-17,0%), combustíveis e lubrificantes (-15,1%), supermercados (-11,8%), veículos (-36,2%) e material de construção (-1,8%).

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Segundo Cristiano Santos, a queda no volume vendido foi recorde em abril ante março em sete atividades. As exceções foram os segmentos de móveis e eletrodomésticos, veículos e material de construção. “Sendo que as outras que não tiveram (recorde de queda em abril) é porque o ponto mais negativo foi o anterior, o de março”, ressaltou.

As medidas de isolamento social para conter a disseminação da covid-19 estão por trás das perdas, mas a redução na massa de renda dos trabalhadores também ajudou a reduzir o volume vendido pelas atividades essenciais que continuaram em funcionamento, como os supermercados e farmácias. As vendas dos supermercados foram prejudicadas ainda pela antecipação de compras em março, com as famílias buscando estocar alimentos e produtos de limpeza para uso durante a pandemia.

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