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Vendas no varejo caem 0,1% em dezembro, interrompendo sete meses de alta

Resultado veio pior que o esperado por analistas do mercado; em 2019, o setor avançou 1,8%

Foto do author Márcia De Chiara
Por Daniela Amorim (Broadcast) e Márcia De Chiara
Atualização:

RIO - As vendas do comércio varejista caíram 0,1% em dezembro ante novembro, na série com ajuste sazonal, informou nesta quarta-feira, 12, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado foi menor que a mediana das estimativas do mercado financeiro, que era positiva em 0,20%, e interrompeu uma sequência de sete meses de crescimento, período em que acumulou avanço de 3,5%. 

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Na comparação com dezembro de 2018, sem ajuste sazonal, as vendas do varejo tiveram alta de 2,6% em dezembro de 2019. O resultado também veio pior que a mediana das estimativas dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast - o intervalo ia de 1,50% a 5,00%, com mediana positiva de 3,40%.

As vendas do varejo restrito acumularam crescimento de 1,8% no ano de 2019. As estimativas iam de alta de 1,70% a 2,10%, com mediana positiva de 1,90%.

No varejo ampliado, que inclui as atividades de material de construção e de veículos, as vendas caíram 0,8% em dezembro ante novembro, na série com ajuste sazonal. O recuo foi maior do que esperava o mercado financeiro de acordo com a mediana, que estava negativa em 0,20% nessa.

Na comparação com dezembro de 2018, sem ajuste, as vendas do varejo ampliado tiveram alta de 4,1% em dezembro de 2019. Nesse confronto, as projeções variavam de uma expansão de 3,70% a 7,60%, com mediana positiva de 5,40%.

No ano, as vendas do comércio varejista ampliado acumularam alta de 3,9%, perto da mediana das estimativas do mercado financeiro. As projeções iam de avanço de 3,40% a 4,40%, com mediana positiva de 4,0%.

Seis entre as oito atividades do varejo registraram perdas em dezembro na comparação com novembro, segundo o IBGE. “Depois de sete meses de crescimento, o varejo acomoda (em dezembro) num patamar elevado. Foi o setor dentro dos setores da economia que manteve crescimento por três anos consecutivos. Mesmo que tenha uma taxa menor de crescimento (em 2019), isso confirma a atividade do comércio como vetor de aceleração da atividade econômica”, ponderou Isabella Nunes, gerente da pesquisa no IBGE.

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Decoração de Natal em shopping de São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Os únicos dois segmentos com avanços em dezembro ante novembro foram móveis e eletrodomésticos (3,4%) e ivros, jornais, revistas e papelaria (11,6%). Para Isabella, o resultado pode mostrar uma contabilização no mês de dezembro de parte da receita obtida pelo varejo com as vendas da Black Friday, que ocorreu no último dia útil de novembro de 2019, no dia 29.

As perdas foram registradas nas vendas de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-1,2%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-2,0%), tecidos, vestuário e calçados (-1,0%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-10,9%), combustíveis e lubrificantes (-0,4%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,1%).

No comércio varejista ampliado, que recuou 0,8% em dezembro, o setor de veículos, motos, partes e peças encolheu 4,0%, enquanto material de construção teve redução de 1,1%.

Associação chegou a prever alta

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As vendas de Natal frustraram as expectativas do varejo. Um dia depois da data, a Associação de Lojistas de Shoppings (Alshop), por exemplo, projetou crescimento de 9,5% nas vendas em comparação com o ano anterior. Na época, houve um mal-estar. O presidente da Associação Brasileira de Lojistas Satélites (Ablos), Tito Bessa, contestou o número da Alshop e disse que não estava “em linha com os resultados dos seus associados”. Posteriormente, a Alshop revisou o crescimento para 7,5%. Na quarta, o Instituto IBGE mostrou que as projeções de várias entidades do varejo estavam superestimadas. Diante do resultado oficial, Bessa disse: “graças a Deus o IBGE veio abençoar a nossa fala”.

Em dezembro de 2019, o volume de vendas do varejo restrito, que não inclui veículos e materiais de construção, avançou só 2,6% em relação ao mesmo mês de 2018, segundo o IBGE. O resultado desconta a inflação.

A disparada da inflação em dezembro, que atingiu 1,15% – o maior resultado para o mês em 17 anos apurado pelo indicador oficial, o IPCA – e o uso pelo consumidor dos recursos extras do FGTS para quitar dívidas e limpar o nome são os motivos apontados por economistas para explicar o desencontro entre as projeções dos varejistas e a realidade.

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“Só pode ter sido isso, ninguém esperava uma inflação tão alta em dezembro”, afirma o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fabio Bentes. A entidade que representa todas as federações do setor, projetava avanço real de 5,2% só das vendas de produtos de Natal. A premissa da estimativa era que boa parte do FGTS iria para o consumo, mas isso não ocorreu. “Houve um exagero nas expectativas do uso do FGTS e do 13.º salário”, observa a economista da ESPM, Cristina Helena Pinto de Mello. 

De acordo com o diretor institucional da Alshop, Luis Augusto Ildefonso, a divergência entre os resultados do IBGE e os dados de sua entidade se deve ao universo pesquisado. Os números oficiais de vendas do varejo incluem também as lojas de rua, não apenas as de shoppings. Além disso, ele lembra que o consumidor de shopping normalmente tem maior renda em relação ao cliente do comércio de rua. A Abrasce, que reúne empreendedores de shoppings e registrou crescimento de 5,5% nas vendas em dezembro, usa parte do argumento da Alshop para justificar a divergência. Ela informa que o setor é 18,5% do varejo ampliado.

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