
15 de agosto de 2015 | 02h03
Com 3.600 apartamentos, o complexo do Projeto Ilha Pura é erguido por um consórcio formado pelas construtoras Odebrecht e Carvalho Hosken. Os trabalhadores saíram de Estados como Maranhão, Paraíba, Bahia e Espírito Santo. Receberam a promessa de alojamento, refeições e reembolso de passagem da empreiteira Brasil Global, que presta serviço para o consórcio.
“Havia baratas, ratos e esgoto nas residências, muitos dormiam no exterior do imóvel, tamanha a sujeira”,disse a procuradora do trabalho Valéria Correa, responsável pela investigação.
A Brasil Global também deixou de pagar o aluguel como foi acordado. Houve um caso de até 30 pessoas viverem no mesmo imóvel.
Os contratos dos funcionários foram rescindidos. A empreiteira pagou cerca de R$ 70 mil por férias, 13º salário e FGTS. Também teve de reembolsar os operários pelos gastos com a passagem aérea para o Rio de Janeiro, custear o retorno para os Estados de origem e hospedá-los em hotel. O acordo, assinado na semana passada, foi divulgado ontem.
Os procuradores do MPT vão ingressar com ação para cobrar indenização por danos coletivos e individuais. A Brasil Global se recusou a indenizá-los por esses danos. Também vão investigar a responsabilidade solidária das construtoras que atuam nas obras na Vila Olímpica. Apurarão ainda outras irregularidades trabalhistas, como atraso no pagamento de salários, ausência de intervalo para descanso intrajornada e não pagamento de verbas rescisórias. Cerca de 300 operários trabalham para a Brasil Global.
O Projeto Ilha Pura informou que o consórcio “mantém procedimentos rigorosos” nas relações trabalhistas. “Sobre as acusações que envolvem a Global Brasil Serviços, a Ilha Pura esclarece que apura as informações e que está à disposição para colaborar com as autoridades. A empresa afirma que o respeito à legislação trabalhista é uma prioridade em suas obras, onde já atuaram mais de 18 mil pessoas”, diz a nota. A Brasil Global não se pronunciou até a conclusão desta reportagem.
O Ilha Pura será um condomínio de 31 edifícios, em uma área de 820 mil metros quadrados. Durante a Olimpíada, 11 mil atletas se hospedarão no local, em apartamentos que têm entre 77 metros quadrados e 230 metros quadrados.
Em recente entrevista à BBC Brasil, o empresário Carlos Carvalho, dono da Carvalho Hosken, defendeu que o complexo residencial seja destinado a moradores de alto poder aquisitivo e pediu a retirada de favelas do entorno, como a Vila Autódromo. “Você não pode ficar morando num apartamento e convivendo com índio do lado, por exemplo. Nós não temos nada contra o índio, mas tem certas coisas que não dá. Você está fedendo. O que eu vou fazer? Vou ficar perto de você? Eu não, vou procurar outro lugar para ficar”, disse. As declarações foram criticadas na organização da Olimpíada. Colaborou Danielle Villela
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