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Violência pode tirar encanto de país emergente do Brasil

Onda ataques de facções criminosas afastam investimentos, dizem investidores

Por Agencia Estado
Atualização:

Os investidores internacionais deram pouca importância para a onda de violência que atingiu o Rio de Janeiro em dezembro, mas podem repensar a situação caso haja implicações mais amplas sobre o crescimento econômico do Brasil. Os ataques no Rio mataram pelo menos 19 pessoas e levaram a Força Nacional de Segurança para a cidade apenas meses depois do fim dos atentados em São Paulo, nos quais cerca de 200 pessoas morreram em maio do ano passado. A violência causou medo no País, mas pouco afetou os mercados financeiros devido ao ambiente de liquidez abundante. No entanto, os investidores podem começar a prestar mais atenção conforme os riscos afetem a economia brasileira caso os recursos globais sequem. "Em tempos de abundância você faz um retorno decente, independentemente da violência, da corrupção e de muitas outras coisas. A maré alta levanta todos os barcos", disse Alberto Ramos, economista para América Latina do Goldman Sachs em Nova York. Embora a violência no Brasil não seja nova, disse ele, a onda mais recente preocupou os investidores porque pode aumentar o custo de se fazer negócios em um país onde as taxas de juros e os impostos já são altos. "Se houver menos liquidez, as pessoas vão olhar para outras coisas. É interessante estar nos mercados emergentes? E aqueles que têm custos maiores, por exemplo devido à violência, serão os primeiros a sofrer mais do que os outros países." O Brasil tem recebido fortes investimentos, oferecendo rendimentos atraentes sobre os títulos de dívida, apesar de estar abaixo do investment grade. Entretanto, o País luta contra uma dívida líquida do setor público de 49,3% do PIB e crescimento econômico inferior aos dos colegas emergentes, como Rússia, Índia e China. "Quando o nível de crime exige medidas extras de segurança, isso aumenta o custo dos negócios. E é claro que a violência afeta o dia-a-dia e a segurança e a saúde das pessoas. Isso as torna menos produtivas", disse Morgan Harting, analista de ratings da Fitch, em Nova York. Violência diária Não é novidade que as maiores cidades brasileiras enfrentem esse tipo de violência urbana. Décadas de desigualdade social, negligência e grupos criminosos cada vez mais poderosos deixaram os brasileiros expostos a ondas esporádicas de ataques. A questão para os analistas é se os atentados mais recentes são novos de alguma forma e se existe perspectiva de mudança. "Talvez nós não devêssemos tomar essa estrada apocalíptica, dizendo que tudo vai virar uma Colômbia e que será tudo um caso de anarquia", disse Fiona Macaulay, palestrante no Departamento de Estudos da Paz da Universidade de Bradford, na Inglaterra. "Uma visão mais comedida é de que ainda é um problema administrável que precisa de compromissos políticos e institucionais sérios para ser resolvido." Infelizmente, dizem analistas, a situação é mais complicada. O governo federal não está preparado para gastar significativas somas de dinheiro em segurança, afirmam eles, e a rivalidade entre polícias civil e militar e entre governos estaduais e nacional têm tornado mais difícil a aplicação da lei. No ano passado, o governo Lula investiu 466 milhões de reais em segurança nacional. Nicholas Watson, analista especializado em Brasil da Control Risks, uma consultoria de risco para negócios sediada em Londres, continua cauteloso sobre o cenário de segurança do País, mas afirmou que a decisão do novo governo do Rio de Janeiro de pedir ajudar federal é um fator positivo. "Eu não vejo grandes melhorias na situação de segurança, mas ela não representa risco tão alto que torne os negócios no Brasil impossíveis", disse Watson. O governador do Rio, Sergio Cabral, pediu tropas do governo federal depois que grupos vinculados ao tráfico de drogas atacaram postos policiais no Estado e mataram várias pessoas, incluindo sete civis que foram queimados vivos dentro de um ônibus. Watson afirmou que a violência não deve fazer com que negócios deixem o Brasil, mas ela deve impactar investimentos futuros.

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