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Virando a mesa

Foto do author Celso Ming
Por Celso Ming e celso.ming@grupoestado.com.br
Atualização:

Com boa ajuda do Banco Central (BC), alguns dos maiores bancos brasileiros conseguiram reverter uma crise que poderia assumir proporções perigosas. Na semana passada, houve princípio de corrida aos passivos de alguns dos principais bancos, acionado pela boataria e, principalmente, pela desinformação. A questão mais séria não foi o envolvimento do setor com operações hipotecárias de alto risco no exterior. Foi a exposição a operações com derivativos no câmbio futuro. O imaginário compôs um quadro em que um punhado de grandes bancos tomou posições na perna errada da aposta cambial e caminhava vertiginosamente para o precipício. A resposta do Unibanco e do Itaú, dois dos visados pela boataria, foi acionar o que tem de ser feito nessas horas. Apelaram para a transparência e abriram suas contas. Anteciparam a divulgação dos balanços trimestrais e deram ampla publicidade às suas posições com derivativos de câmbio. O Bradesco não precisou antecipar seu balanço, mas também cuidou de que nenhuma dúvida pairasse sobre o assunto. Com isso, o banqueiro brasileiro, que cultiva um vício dos tempos em que a capacidade de enrustir era tida como virtude, deve ter entendido que é preciso ser mais franco com a sociedade e com o mercado. O BC contribuiu decisivamente para dissipar as especulações ao trabalhar com eficiência o número mágico que circulava na praça. Não eram US$ 50 bilhões as posições a descoberto com derivativos de câmbio? Pois, então, o mercado tem à disposição US$ 50 bilhões em títulos de dívida com correção cambial. Com isso, as águas do câmbio podem agora voltar ao leito anterior do rio. É cedo para tirar outras lições dos desdobramentos da crise até aqui, mas há pelo menos três avaliações a fazer. A primeira é a de que o governo exigiu coisas incompatíveis. De um lado, pretendeu que grandes bancos comprassem carteiras de crédito de pequenos e médios (há cerca de cem deles no País) e, ao mesmo tempo, reativassem suas próprias linhas de crédito. Assim, além de manter munição para combater a corrida a seu caixa, os bancos precisavam juntar recursos para comprar carteiras de empréstimo. Convenhamos que, assim, a reativação do crédito fica mais difícil. De outro lado, o BC conseguiu quebrar o tabu de que o compulsório (dinheiro do depositante que deve ser recolhido ao BC) mais alto do mundo (45%) pode ser reduzido sem que o sistema bancário desmorone. Os bancos puderam reduzir suas reservas (outro nome para o compulsório) desde que comprassem carteiras de crédito de outros bancos. Também foi incentivada a incorporação de instituições financeiras com crise de liquidez. O resultado dessa ação em pinça será forte concentração bancária, tanto no setor público como no privado. É um processo que parece inevitável. Mas a principal conseqüência será a redução da competição, que se pretendia ampliar para que pudessem cair também o spread (diferença entre juros de captação e juros nos empréstimos) e as tarifas, dois componentes que vêm aumentando substancialmente o custo de produção no Brasil. Confira Subindo - O Banco Central argentino vai tendo dificuldades para evitar a escalada do dólar no câmbio local. Apenas em outubro, a moeda americana já subiu 7,6% em relação ao peso. Essa alta empurra as exportações. No entanto, a queda dos preços em dólar das commodities é maior do que a desvalorização cambial na Argentina. O maior impacto dessa queda de preços ocorre na área fiscal. É o governo perdendo receitas com o Imposto de Exportações (retenciones), que correspondem a cerca de 13% de uma arrecadação anual de cerca de US$ 100 bilhões. E isso tem conseqüências políticas.

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