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Vislumbrando um futuro melhor

As economias avançadas e a China mostram uma queda significativa no número de casos e de mortes, permitindo a reabertura de suas economias

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Por Paulo Leme
Atualização:

Os danos causados pelo coronavírus são enormes. A nível mundial, o número de casos confirmados beira 7 milhões, enquanto que o número de mortos chega a 400 mil. Dada a escassez de testes, a Universidade de Miami estimou que o número real de casos talvez seja 16 vezes maior do que aqueles reportados pela Universidade de Johns Hopkins. 

Berço da pandemia, Wuhan testou 6,5 milhões de pessoas em duas semanas Foto: Retamal/AFP

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O outro lado da tragédia humana é a destruição de empregos, a falência de empresas que operam nos setores mais afetados pelo lockdown, e a pior recessão registrada desde a grande depressão de 1929. Por essas razões, em seu relatório de abril de 2020, o FMI previu que o PIB mundial cairá 3% e que este levará 18 meses até voltar ao nível registrado antes da pandemia. 

Vários dados, eventos clínicos e programas de estímulos fiscais e monetários divulgados desde abril me deixam mais otimista em relação ao futuro. As economias avançadas e a China mostram uma queda significativa no número de casos e de mortes, permitindo a reabertura de suas economias. O risco é que ainda não temos nem o volume de testes confiáveis nem os mecanismos de rastreamento adequados para debelar novos focos de infecção. 

Os dados de atividade econômica de alta frequência de China, EUA e Europa mostram que o processo de recuperação já começou, o que em grande parte é resultado da reabertura e dos programas de estímulos macroeconômicos. Alguns exemplos são a recuperação da produção industrial, vendas no varejo, consumo de energia, logística, congestionamento de trânsito, mobilidade das pessoas, e viagens. 

O valor dos programas de estímulos fiscais e monetários adotados pelas economias avançadas e, em menor grau, nas economias emergentes, é de tal magnitude que é provável que o mundo será capaz de evitar uma depressão econômica. Os bancos centrais têm cumprido à risca o seu papel de prestamista de última estância: eles reduziram as taxas de juros reais abaixo de zero; expandiram os seus balanços para comprar ativos de risco do mercado; e aumentaram as reservas bancárias, o que permite que os bancos possam expandir o crédito. 

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A atuação dos bancos centrais normalizou o funcionamento dos mercados financeiros e evitou uma grande crise bancária. Ao reabrir os mercados de capitais e de crédito, os bancos centrais ajudaram as empresas a aumentar o caixa. Isso permitirá que as empresas que mais foram afetadas pelo lockdown sobrevivam, o que é vital para reduzir o desemprego.

Mas o maior efeito da política monetária foi a forte recuperação dos mercados financeiros. Em menos de um mês, o índice da Bolsa americana S&P 500 caiu 34%; mas, alimentado pelo excesso de liquidez global, em dois meses o índice S&P 500 se recuperou, ficando só 6% abaixo do seu recorde de 3.393 pontos. 

As empresas que se mais beneficiaram do lockdown iniciaram a recuperação da Bolsa americana. Na medida em os primeiros sinais de reativação econômica vieram, o rally da Bolsa se estendeu para os setores que mais sofreram, tais como energia, bancos e viagens. Na sequência, os investidores se redirecionaram para o mercado de renda fixa, reduzindo o prêmio de risco das empresas no segmento de grau de investimento e depois de high yield. O próximo destino dos fluxos de capitais serão os emergentes. 

Nesse cenário mais otimista, é provável que a economia mundial cresça gradualmente a partir do 3.º trimestre de 2020 e que o crescimento do PIB mundial chegue a 6% em 2021. Essa recuperação é fundamental para reduzir o risco de instabilidade política advinda de protestos e distúrbios sociais, tais como os que estamos vivendo hoje nos EUA. 

Esse cenário positivo ainda é frágil e só vai se consolidar se atuarmos de forma científica para evitar novas ondas de contágio. Isso exigirá que os líderes políticos mundiais cumpram três tarefas.

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A primeira é seriedade na gestão pública, respeito às instituições e um espírito de cooperação entre as nações, evitando as perigosas guinadas protecionistas e promovendo o intercâmbio científico para encontrar tratamento e vacinas eficazes para combater o coronavírus. A segunda é investir na área da saúde, aumentando exponencialmente a quantidade e a confiabilidade dos testes e desenvolvendo mecanismos de rastreamento do coronavírus. A terceira é anunciar uma estratégia de saída para reduzir os elevados níveis da dívida pública, limpar o balanço dos bancos centrais e normalizar a política monetária. 

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