Publicidade

"Viver sem organismos financeiros é disparate", diz Duhalde

Por Agencia Estado
Atualização:

"Um disparate." Esta foi a definição do presidente Eduardo Duhalde sobre a possibilidade de que a Argentina possa prescindir da ajuda dos organismos financeiros internacionais. No meio de jornadas angustiantes nas quais o governo argentino tenta obter um acordo financeiro com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para evitar um default com os organismos financeiros internacionais, Duhalde declarou ao tradicional jornal "La Nación" que "nenhum país com as características da Argentina pode estar isolado da comunidade internacional". Duhalde admitiu que "é possível" que as demora em fechar um acordo com a Argentina, por parte do FMI, seja um sinal claro que o organismo financeiro somente pretenda negociar com o próximo presidente da República que será eleito em março do ano que vem e que tomará posse em maio de 2003. O presidente sustentou que está negociando com o FMI porque a democracia corre perigo. No entanto, Duhalde disse que há exigências do FMI que só podem ser aplicadas se não atingirem a sociedade: "Há coisas que a sociedade pode tolerar e outras que não. Temos que ter muito cuidado. Às vezes pretende aplicar-se medidas econômicas como se fossem possíveias, e não é exatamente assim." Em relação ao futuro, Duhalde não foi otimista: "Vamos enfrentar anos difíceis. Estamos tremendamente endividados e teremos que enfrentar esses compromissos." Mas em relação ao fechamento de um acordo, o governo argentino está otimista, e espera que na próxima terça-feira desembarque em Buenos Aires o próprio chefe do Departamento Ocidental do FMI o economista indiano Anoop Singh. A intenção da visita seria o de assinar o acordo técnico com a Argentina. Segundo o ministro do Interior, Jorge Matzkin, o acordo com o FMI "é iminente". No entanto, ressalvou um porém: "Isso, caso o Fundo não volte a puxar o tapete da Argentina." Inesperadamente, o presidente Duhalde anunciou que o embaixador argentino em Washington, Diego Guelar, foi substituído por um de seus principais braços-direitos, o vice-chefe do gabinete de ministros, Eduardo Amadeo. A intenção desta mudança é de colocar alguém de confiança na capital americana, que se dedique intensamente ao fechamento do acordo com o FMI, além de tentar obter novos créditos para a Argentina nos próximos meses. Além disso, Amadeo, ao contrário de Guelar, não é um admirador da Associação de Livre Comércio das Américas (ALCA). Nas últimas semanas, Amadeo fez ostensivos elogios ao Mercosul e ao presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Guelar, era considerado excessivamente pró-EUA, além de ser próximo ao ex-presidente Carlos Menem, a quem defendeu há poucos meses em uma carta enviada ao "The New York Times". Menem, por seu lado, é o principal arqui-inimigo que o presidente Duhalde possui dentro de seu próprio partido, o Justicialista (Peronista). Considera-se que se Menem vencer as eleições presidenciais de março do ano que vem, Guelar poderia tornar-se no novo chanceler argentino. Guelar foi embaixador no Brasil a meados dos anos 90, e que de lá saiu depois de um escândalo diplomático com o então diretor do Banco Central, Gustavo Franco, a quem chamou de "baixote" e "traiçoeiro". Posteriormente, disse que havia sido mal-interpretado porque não falava bem o idioma português. Ele também causou polêmica em sua estadia nos EUA. No início do ano, entrou na Casa Branca com uma vaca de pelúcia debaixo do braço, que seria entregue como presente ao presidente George Bush, como estratégia para que reduzisse as barreiras que o mercado americano possui para a carne argentina. A vaca, segundo ele, chamava-se "Valentina". Dias atrás, para o Halloween, foi visto em público disfarçado de Hannibal Lecter, personagem protagonista do filme de terror "O silência dos inocentes". Guelar possui um irmão fugitivo da Justiça argentina. Durante os anos 80, Guido Guelar envolveu-se em um dos principais escândalos bancários do país, o do "Banco del Oeste", cujo desfalque foi de 100 milhões de pesos. Especula-se que Guido resida nos EUA, onde seu irmão foi embaixador em duas ocasiões. Leia o especial

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.