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Volatilidade transparente

Especialistas comparam as moedas digitais com o mercado de ações

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Por Redação
Atualização:
Getty Images 

As oscilações na cotação dos criptoativos ocorrem por diversos fatores e, diferentemente do mercado de ações, mesmo que o valor despenque as corretoras de criptomoedas seguem operando sem interrupções. “As criptomoedas têm alta volatilidade por vários motivos. A falta de lastro, algo físico para a precificação, falta de informação mais detalhada e sensibilidade com notícias. Por exemplo, se começa a subir muito, as pessoas tendem a vender para obter o ganho naquele momento e isso mexe com o preço”, explica Ale Boiani, CEO do 360iGroup.

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João Canhada, CEO da Foxbit, considera que a dinâmica de mercado é muito parecida com a do mercado de ações – efeitos regulatórios, guerras e câmbio afetam diretamente o preço do ativo. “Estava recentemente em um grande evento  onde um assessor me questionou sobre o caso de um ativo digital cair expressivamente e, sinceramente, respondi para ele que não tem grandes diferenças de uma ação de uma grande varejista brasileira.” Os eventos que tornaram o mercado acionário difícil no último ano, segundo Canhada, também atingiram as criptomoedas no curto prazo. Juros fixos em alta e fatores políticos não mudam o fundamento do bitcoin como ativo escasso, e o mundo segue carente de ativos verdadeiramente escassos. “Eu ainda prefiro confiar na matemática e no software do que em decisões políticas alheias à vontade popular; óbvio que no curto prazo, enquanto o bitcoin busca se provar como reserva de valor, teremos muita volatilidade no mercado, mas o futuro dessa tecnologia continua sendo brilhante”, considera Canhada.

Os fundamentos para análise de valor, porém, são bem diferentes. No mercado tradicional, a análise é fundamentalista com base em dados fornecidos pelas empresas. Esses dados são auditados e tornam possível uma análise mais consistente de curto, médio e longo prazos. No caso dos criptoativos, existe um valor intrínseco ligado a tecnologia atuante, time, disrupção tecnológica e à capacidade de mudar o rumo atual. “Alguns criptoativos possuem análises mais simples em que é possível verificar se o ativo está valorizado demais ou desvalorizado demais frente ao valor atual”, diz Hugo Trombini, head de criptomoedas da Hurst Capital.

“No caso das criptos, elas não têm correlação com o restante dos mercados. Por isso são interessantes como diversificação”, diz Ale. Thales Freitas, CEO da Bitso Brasil, concorda que o investimento em criptomoedas deve ser usado para aplicação de longo prazo e como uma opção de diversificação, alocando apenas parte da carteira nesse ativo. Ele sugere algo entre 5% e 10% do portfólio.

Além disso, assim como na Bolsa de Valores, o investidor tem de estar preparado para altas e quedas bruscas do mercado. Freitas lembra, por exemplo, o caso da Amazon. Quando a empresa surgiu na década de 1990, a ação começou valendo poucos centavos, chegou a US$ 5 para cair para US$ 0,40 nos anos 2000 e hoje está em mais de US$ 130.  “Saber qual o seu perfil de risco, a idade também é importante, os mais novos podem tomar mais risco. Mas a melhor decisão é aquela que parte da informação. Investir muito em conhecimento, entender fundamento, o que está por trás de cada protocolo e começar a investir aos pouquinhos é importante”, aconselha Freitas. Para ele, daqui a 10 anos os criptoativos farão parte do dia a dia.

Pedro de Luca, head de criptomoedas da Levante Investimentos, afirma que o mercado de cripto muito provavelmente é o segmento de ativos em que as informações aprofundadas de cada uma das moedas são mais fáceis de ser encontradas. “Transparência faz parte do ‘ethos’ cripto. Os principais projetos permitem que qualquer um, a qualquer momento, veja as transações que ocorrem, mudanças internas nos protocolos, entre outras possibilidades”, diz.

Ele afirma que existem diversas empresas de big data que coletam essas informações e as agrupam em gráficos. Essas empresas angariam as informações diretamente do blockchain de cada criptoativo. “Qualquer interessado pode conseguir a cópia do histórico desses blockchains e mantê-los atualizados de forma gratuita”, diz Luca.

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