Publicidade

Volkswagen se torna um pesadelo para a Porsche

Endividada, Porsche pode ser incorporada pela rival

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Quando Wolfgang Porsche soube que a fábrica de carros esportivos da sua família, antes obcecada pela ideia de comprar a Volkswagen, teria agora de implorar por dinheiro à gigante rival, ele quase desmaiou. "Ele ficou absolutamente pálido", disse uma pessoa informada sobre a reunião secreta, da qual participaram executivos de ambas as empresas. "Foi como se ele tivesse sido informado sobre o falecimento de um ente querido." No dia seguinte, 23 de março, aparelhos de fax em várias regiões da Alemanha imprimiram um papel que os membros do conselho da Volkswagen deveriam assinar: um empréstimo de emergência no valor de US$ 977 milhões oferecido à Porsche por sua antiga presa - a Volkswagen. A reunião realizada no gabinete do governador do Estado da Baixa Saxônia, onde se localiza a Volkswagen, pôs fim efetivamente à ousada tentativa da Porsche de se tornar a maior montadora da Europa. E as consequências da expansão excessiva da família Porsche vão além, pois sua fábrica de carros, apesar de ainda lucrativa, enfrenta o final iminente da sua tão festejada independência. O sr. Porsche está prestes a aceitar que a sua empresa seja integrada à Volkswagen, o contrário da tão esperada aquisição nos moldes de um Davi versus Golias. Como mais um item do constrangimento, a Porsche busca agora investidores de fora e um resgate do governo. "Isto está se transformando, no nível financeiro, em uma aquisição ao contrário", disse Arndt Ellinghorst, chefe de pesquisas automotivas da Credit Suisse em Londres. "A Porsche tem dívidas e a VW dispõe do luxo do dinheiro." A Porsche informou ontem que as suas vendas nos últimos nove meses tiveram queda de 15%, totalizando 4,6 bilhões. A empresa reiterou que a renda e os ganhos sofreriam reduções este ano, com base na "péssima movimentação de vendas" nos primeiros três meses de 2009. A fabricante de carros esportivos deu início a negociações exclusivas com a Autoridade de Investimentos do Catar, fundo soberano do emirado do golfo pérsico. O fundo poderia adquirir até 25% das ações da Porsche com direito a voto, as quais há muito mantêm a família Porsche instalada no controle da empresa. O Catar poderia investir até 5 bilhões na empresa, estimam os analistas, ajudando a aliviar o fardo de até 9 bilhões em dívidas que a Porsche somou para adquirir 50,76% da Volkswagen. Para manter-se em funcionamento até a conclusão do negócio, a Porsche solicitou um empréstimo de 1,75 bilhão a um fundo estabelecido em março pelo governo alemão para ajudar as empresas durante a crise financeira. O pedido está em fase de avaliação em Berlim. A reviravolta surpreendente é o mais novo capítulo numa longa história de disputas entre os clãs Porsche e Piëch - ambos descendentes de Ferdinand Porsche, criador do fusca da Volkswagen na década de 1930. Depois da 2ª Guerra Mundial, o filho de Ferdinand Porsche, Ferry, montou sua própria empresa, que se tornou a Porsche. A filha do sr. Porsche, Louise, casou-se com Anton Piëch, um advogado de Viena; o filho deles, Ferdinand, é hoje presidente da Volkswagen e membro do conselho da Porsche. "A questão, afinal, envolve estes clãs", disse Stefan Bratzel, da Universidade de Economia e Ciências Aplicadas em Bergisch-Gladbach, perto de Colônia. "Trata-se de uma rixa entre os Porsche e os Piëch, que pertencem a uma mesma família - mas talvez seja justamente isso o que torna o conflito tão acirrado."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.