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Volta dos investimentos estrangeiros não é certa com a reforma da Previdência

Cenários locais e externos podem frustrar investidor que entrou na B3 esperando crescimento econômico

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Por Talita Nascimento
Atualização:

Depois do rombo em 2018 com mais de R$ 11,5 bilhões de saldo negativo de investimentos estrangeiros no País, 2019 - ano em que se esperava a volta desse capital - já soma mais de R$ 3,5 bilhões negativos no saldo do primeiro semestre. Mesmo sem recuperar as saídas do ano passado, porém, a Bolsa brasileira segue em alta, chegando a fechar acima de 100 mil pontos na última quarta-feira, 19. A aprovação da reforma da Previdência, que move as expectativas locais, no entanto, pode não ser suficiente para manter o fôlego de subida do Ibovespa e trazer os estrangeiros de volta: o que pode frustar a confiança local.  

Para André Perfeito, economista chefe da Necton, mesmo com a aprovação do texto da Previdência, a volta dos investidores de outros países não se daria imediatamente. “O Brasil não vai começar a crescer no dia seguinte.” Ele lembra que “os investidores estrangeiros tendem a não comprar ativos quando eles estão caros” e que, uma vez que a bolsa subiu sem o aquecimento esperado da Economia, essa volta fica ainda mais difícil.

Com juros baixos, bolsa cresce pela busca de melhor rentabilidade Foto: Renato S.Cerqueira/Futura Press

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O economista diz que, ao fim de 2019, os investidores locais serão levados a repensar suas posições. “Boa parte da sustentação da Bolsa vem de afrouxamento monetário. Os juros baixos são consequência da atividade econômica fraca. Esse processo de queda gera o efeito riqueza: as pessoas acham está tudo bem porque a bolsa está subindo, mas não gera sustentação”, diz. “No fim do ano saberemos o tamanho dessa discussão”, completa.

Em relação à reação dos investidores externos com a aprovação da reforma, o mercado tem visões mais otimistas. É o caso de Rafael Passos, analista da Guide Investimentos. Para ele, com a melhora da expectativa sobre a situação fiscal do país que a reforma traria, tanto o investidor local, com ainda mais confiança, quanto o estrangeiro, fariam a bolsa continuar o movimento de alta. “O crescimento da bolsa é sustentável justamente porque ainda não temos os estrangeiros. Ainda temos cerca de R$ 100 bilhões para entrar no Brasil com esses investimentos”, diz. Apesar do otimismo local, o analista admite que o atual cenário externo gera incertezas do que pode acontecer no decorrer do tempo.

Exterior

“Minha preocupação é com o exterior, não com a situação doméstica. A atividade econômica e a pressão inflacionária ainda é fraca lá fora. Por enquanto, estamos surfando essa onda e as ações são a melhor expectativa de ganho para o investidor, mas ninguém sabe no que isso vai dar.” Ele explica que não há como excluir os investidores de fora do país da conta. “O Ibovespa só vai se sustentar se o gringo voltar. No caso de um ajuste monetário lá fora, teremos problema. Mas não é o que esperamos no momento.”

A atenção ao cenário dos Estados Unidos e da Europa e à perspectiva de redução de crescimento da economia mundial é também um dos fatores apontados por William Eid, coordenador do Centro de Estudos de Finanças da FGV, para a constante saída dos investidores estrangeiros do País. Com a economia internacional em possível perspectiva de crescimento mais lento, somado às tensões entre China e Estados Unidos, que influenciam os países emergentes, os investidores tiram dinheiro dos lugares mais arriscados”, diz.

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Ele considera ainda que as próprias altas da Bolsa brasileira levam parte dos fundos internacionais a tirarem recursos daqui. “Em um fundo com determinada porcentagem de risco, quando o ativo brasileiro se valoriza muito, o gestor tem de realocar os recursos para respeitar os padrões pré-estabelecidos”, diz.

Para o professor, o investidor que segue apostando no Ibovespa ainda se submete ao que chama de “incerteza radical”. “Tivemos melhoras na condução do governo, mas a presidência ainda faz declarações complicadas. Se amanhã ou depois um twitte mexe com os ânimos do mercado, ou a reforma é aprovada com um tamanho inferior ao que se espera, esse investidor pode se frustar”, argumenta.

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