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Volume de serviços prestados sobe 3,7% em fevereiro ante janeiro, aponta IBGE

Esta é a nona taxa positiva seguida; acumulado dos últimos 12 meses, porém, representa o resultado mais negativo da série histórica, com recuo de 8,6%

Por Daniela Amorim (Broadcast) e Guilherme Bianchini
Atualização:

RIO E SÃO PAULO - O volume de serviços prestados no País cresceu 3,7% em fevereiro em relação a janeiro. Após nove meses consecutivos de avanços, o setor enfim recuperou as perdas provocadas pela pandemia, e já opera em patamar 0,9% superior ao de fevereiro de 2020, antes que a crise sanitária se agravasse no Brasil, segundo os dados da Pesquisa Mensal de Serviços divulgados nesta quinta-feira, 15, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Terminal rodoviário em Brasília Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil - 8/10/2020

 

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O bom desempenho do setor de serviços surpreendeu analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que estimavam uma alta mediana de 1,30%.

“O cenário é de recuperação nos serviços prestados às empresas, mas de dificuldade nos prestados às famílias, com retomada consistente apenas depois de avanços na vacinação contra a covid-19”, disse o economista Rodolfo Margato, da XP Investimentos, em nota.

Para o economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, Alex Agostini, o cenário de preocupação para o primeiro semestre pouco se alterou com a melhora nos serviços em fevereiro.

“Foi surpreendente, mas é um ponto fora da curva. O setor respirou em fevereiro para mergulhar muito forte em março”, avaliou Agostini.

O crescimento em fevereiro foi resultado de avanços nas cinco atividades pesquisadas, mas teve um impulso maior da expansão do comércio eletrônico no País, apontou Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Serviços no IBGE.

A atividade de transportes, armazenagem e correios cresceu 4,4% em fevereiro ante janeiro. O subsetor de transporte terrestre avançou 5,5%, enquanto o de armazenamento, serviços auxiliares aos transportes e correio teve uma expansão de 4,4%, operando no patamar mais elevado da série histórica da pesquisa.

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“Foi pelo aumento do e-commerce. Pela necessidade de isolamento social, a adaptação que as empresas tiveram que fazer para colocar disponíveis seus produtos online fez que essas empresas que atuam nessa parte de logística e de transporte de cargas elevassem a receita desde junho de 2020”, explicou Lobo, lembrando que pequenos varejistas aderiram a parcerias com grandes varejistas para vendas no formato marketplace, ampliando assim o alcance aos seus produtos.

Na passagem de janeiro para fevereiro, os serviços prestados às famílias subiram 8,8%, puxados pelo subsetor de alojamento e alimentação (8,6%).

“É uma taxa contundente em termos de variação, mas vem depois de duas taxas negativas”, ponderou Lobo. “Esse mês de fevereiro foi o que antecedeu a intensificação de medidas restritivas contra a pandemia. Ainda havia mobilidade grande de pessoas pelas cidades, se refletindo nesse crescimento”, completou.

Os demais avanços ocorreram nos serviços profissionais e administrativos (3,3%), outros serviços (4,7%) e informação e comunicação (0,1%).

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“O resultado veio forte. A despeito de oito resultados positivos anteriores, (o setor de serviços) ultrapassa pela primeira vez o patamar pré-pandemia. Tem uma parte da explicação desse crescimento que parece mais perene, mais duradoura. A parte de logística e de transporte de cargas sustenta esse crescimento mais duradouro, mas a parte de serviços prestados às famílias, de serviços profissionais e complementares, ainda é duvidosa, ainda é muito factível de reversão a qualquer tempo”, alertou Lobo.

O pesquisador lembra que os serviços prestados presencialmente ainda têm um espaço importante a recuperar de perdas passadas, uma vez que as receitas das empresas que atuam nesses segmentos não apresentam ganho significativo e ainda dependem do avanço da vacinação, do registro de casos de covid-19, e do receio ou não da população em se resguardar em casa por temor à pandemia.

Rodrigo Lobo recomenda ainda cautela sobre os dados da série ajustada sazonalmente (mês contra mês imediatamente anterior), porque foi calculada com base em um modelo de ajuste sazonal que encontra dificuldades de apreender os efeitos da pandemia ao longo dos meses. O pesquisador ressalta que não há nada de errado com o modelo de ajuste sazonal em si, mas que comportamentos atípicos de consumo ao longo da pandemia podem explicar, por exemplo, quedas intensas nos serviços prestados às famílias nos meses de julho, dezembro e janeiro, tradicionalmente meses de férias escolares.

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“E essa taxa mais positiva no mês de fevereiro pode ter sido a ver com uma dificuldade do modelo de entendimento”, apontou Lobo. “Páscoa, carnaval, todos esses pontos estão inseridos e não podem ser expurgados na série. Esse é o modelo que foi proposto, a gente segue com ele”, acrescentou.

Com o avanço de fevereiro, os transportes passaram a operar 2,8% acima do nível pré-pandemia, de fevereiro de 2020, enquanto os serviços prestados às famílias ainda estavam 23,7% abaixo. Os serviços de informação e comunicação estão 2,6% acima do pré-pandemia, e o segmento de outros serviços está 1,0% além. Os serviços profissionais e administrativos estão 2,0% abaixo do patamar de fevereiro de 2020. 

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