Publicidade

Volume é cada vez menor na Bolsa

O volume médio diário de negócios na Bolsa em janeiro deste ano é 33,62% menor do que a média de janeiro de 2000. Acredita-se que haveria uma entrada mais forte de recursos por parte dos fundos de pensão quando a taxa de juro real fosse menor do que 10% ao ano.

Por Agencia Estado
Atualização:

A baixa atratividade da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) na comparação com os investimentos em renda fixa tem diminuído o interesse dos investidores pelo mercado de ações. Esta tendência pode ser comprovada pela queda no volume médio diário dos negócios na Bolsa. Em janeiro de 2000, este volume era de US$ 322,414 milhões. No ano seguinte, também em janeiro, a média diária do volume negociado foi de US$ 298,145 milhões - uma queda de 7,52% em relação a 2000. Em janeiro deste ano, a Bolsa apresentou uma média diária em US$ 214 milhões. A queda foi de 28,22% em relação a janeiro de 2001 e 33,62% na comparação com mesmo período de 2000. Outro obstáculo para o aumento dos negócios com ações é o desconhecimento do investidor sobre o investimento. Analistas afirmam que é o investidor não hesita em entrar em uma sociedade com familiares para a formação de uma microempresa, mas demonstram forte resistência para comprar ações. "Existe a visão de que o mercado de ações é um cassino", declara o chefe de análise de investimentos do Banco Safra, Sérgio Goldman. Mesmo os fundos de ações, uma das maneiras mais simples para a compra de ações, não têm atraído investidores. Segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), hoje estas carteiras detêm um patrimônio líquido de R$ 21,605 bilhões. Estes recursos representam uma parcela de 6,1% dos recursos de toda a indústria de fundos. Antes da crise da Ásia, em meados de 1997, esta parcela estava em torno de 12%, segundo Goldman. Ontem, uma reportagem publicada pelo jornal norte-americano The Wall Street Journal mostrou que nos Estados Unidos a situação é bem diferente. Lá, 50% dos investimentos em fundos estão alocados em carteiras de ações. O nível mais alto foi 59% em dezembro de 1999. O estrategista de renda variável do JP Morgan, Pedro Martins Júnior, destaca que, no Brasil, além da falta de conhecimento deste mercado, a capacidade de poupança do brasileiro é muito pequena, dado que o nível de renda do brasileiro é muito baixo. "Também há a visão das empresas que não vêm o mercado de ações como fonte de recursos e o investidor não é caracterizado como parceiro da empresa", declara Goldman, do Banco Safra. Para o diretor de renda variável da BankBoston Asset Management, Júlio Ziegelmann, o baixo valor das ações é outro fator que inibe a entrada de novas empresas na Bolsa e afugenta as que já têm papéis negociados, provocando muitas vezes o que os investidores chamam de fechamento de capital. Ou seja, o controlador da empresa recompra as ações. Recursos dependem de fundos de pensão e menores custos "Um caminho para o aumento do volume de negócios na Bolsa é a entrada mais forte de recursos institucionais, o dinheiro dos fundos de pensão. Mas, para isso, precisa haver uma redução dos juros reais no País. Pontualmente, há fatores externos e internos que deixam os investidores inseguros em relação ao risco do mercado de ações" afirma o executivo do Banco Safra. O estrategista de renda variável do JP Morgan destaca que os fundos de pensão têm metas atuariais a cumprir e, quando a renda fixa apresentar um ganho inferior ao objetivo de rentabilidade destas carteiras, a Bolsa pode começar a receber recursos deste segmento. Atualmente o objetivo de rendimento dos fundos de pensão é uma taxa de juros anual de 6% mais a variação de um índice de inflação. A diminuição dos custos no mercado de ações também seria um fator positivo para o aumento do volume de negócios. Atualmente os investimentos são taxados pela incidência da Cobrança Provisória sobre Movimentação Financeiro (CPMF), de 0,38% sobre o total aplicado. Neste ano, a alíquota do Imposto de Renda (IR) para o mercado de ações passou de 10% para 20% sobre o ganho, mesma alíquota que incide sobre as aplicações em renda fixa. Mercado exterior também desvia recursos internos Para fugir destes custos, muitos investidores têm optado pelo mercado de American Depositary Receipt (ADR). São papéis emitidos por bancos norte-americanos que representa ações de uma empresa fora dos Estados Unidos, inclusive as brasileiras. Alguns destes papéis já são mais negociados no mercado exterior do que na Bovespa. Segundo apuração do editor Alaor Barbosa, este é o caso da Aracruz, a primeira empresa brasileira que emitiu ADRs. No mês passado, os negócios com títulos da empresa negociados em Nova York somaram US$ 80 milhões, enquanto na Bovespa giraram um volume de US$ 14,2 milhões. Na mesma situação está a Embraer, que negociou em janeiro US$ 94,3 milhões em Nova York e US$ 80 milhões na Bovespa. Veja nos links abaixo mais informações sobre o principal obstáculo para a recuperação da Bolsa que, na opinião dos analistas, é a elevada taxa de juros real. Veja também quais as medidas adicionais que especialistas deste mercado propõem para aumentar a atratividade do mercado de ações.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.