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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Voto e vísceras

Eleitor continua pouco ligado ao conteúdo das propostas e dos programas de governo e falta debate consistente

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Atualização:

Também desta vez, conquistará o voto do eleitor aquele que conseguir trabalhar principalmente as emoções. A lógica e a racionalidade continuam sendo instrumentos indispensáveis de convencimento, mas não são o principal, pelo qual o eleitor fará sua opção. As pessoas votam guiadas pelas vísceras e não pela mente.

Os presidenciáveis Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) Foto: Nelson ALMEIDA / AFP

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Esta é a principal razão pela qual o eleitor continua pouco ligado ao conteúdo das propostas e dos programas de governo. Os próprios candidatos pouco se dão ao trabalho de elaborar e de debater propostas consistentes.

A do candidato Jair Bolsonaro (O Caminho da Prosperidade) é um amontoado de frases dispostas em arquivos de PowerPoint, que não aprofunda o que sugerem. Sobre a reforma da Previdência Social, por exemplo, há lá uma afirmação de que a solução consistirá em abandono do atual sistema de repartição, em que o trabalhador da ativa ajuda a pagar a aposentadoria de quem já se retirou do mercado, e pela adoção do sistema de capitalização, por meio do qual o trabalhador da ativa mais seu empregador contribuirão para uma conta de investimento do próprio trabalhador. Sua aposentadoria será baseada no saldo que estiver depositado em sua conta. Mas os grandes problemas desse sistema são ignorados. O programa não diz quem pagará as aposentadorias dos já retirados, uma conta que hoje ultrapassa os R$ 500 bilhões por ano.

O programa do PT já sofreu três ou quatro maquiagens e também continua vago e pouco convincente. Para evitar medidas impopulares, rejeita tanto a reforma da Previdência quanto a política de austeridade (teto dos gastos), inevitável diante da necessidade de conter o rombo fiscal. Afirma que tudo será naturalmente resolvido quando o crescimento econômico voltar. Mas ninguém fica sabendo como será reativado o crescimento econômico. Enfim, o programa do PT continua ruim.

Como nenhum dos dois candidatos à Presidência delineou o que pretende em matérias de políticas públicas, não há, também, como saber quais, afinal, serão as escolhas e até que ponto confiar na sua eficácia.

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De todo modo, a grande fonte de incertezas consiste em saber até que ponto o vencedor poderá contar com uma sólida base parlamentar, não só para distribuir a conta imediata da crise entre a população, mas, também, para aprovar as reformas que deverão encontrar soluções aos problemas de longo prazo.

Do ponto de vista de quem tem um patrimônio familiar a administrar e está em busca de um porto seguro, a vitória de Jair Bolsonaro, hoje muito mais provável, não acabará com as incertezas. Durante uns dias, o mercado financeiro deverá comemorar a rejeição das escolhas do PT. Nessas condições, o retorno das barbeiragens do governo Dilma será uma hipótese descartada. Mas outras barbeiragens podem acontecer. Um vez encerrada a apuração deste domingo, será preciso saber como os problemas serão equacionados e, a partir daí, quem vai ganhar e quem vai perder com o novo jogo. E este equacionamento não será suficiente para afastar outros riscos, especialmente, o da eventualidade do agravamento da crise da economia mundial, num ambiente de deterioração fiscal, aumento dos juros, guerra comercial e de avanço dos partidos fascistas em todo o Ocidente.

» Sinal de reação

A Receita Federal divulgou nesta quarta-feira a arrecadação de tributos do mês de setembro. Este foi o 11º mês seguido de crescimento, já considerada a correção da inflação. O avanço de 6,21% em 2018 – ante janeiro a setembro de 2017 – foi influenciado pelos principais indicadores macroeconômicos, em especial os relacionados ao consumo, à produção industrial e às importações. No mês de setembro, o resultado foi impulsionado pela arrecadação de tributos cobrados das empresas, que cresceu 21,34%.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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