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Wall Street: desemprego deve subir, mas retomada não cessará

Especialistas acreditam que a recessão nos EUA já chegou ao fim, mas dados sobre emprego devem piorar

Por Nalu Fernandes e da Agência Estado
Atualização:

A taxa de desemprego nos Estados Unidos deve voltar a subir e, se confirmada esta expectativa, não significará que a recessão continua ou que a economia norte-americana interrompeu a trajetória de retomada, que provavelmente teve início neste semestre, avisam analistas em Wall Street. "Enquanto a mídia e os políticos focaram na queda da taxa de desemprego, os economistas focaram no corte menor de vagas (payroll)", afirma o economista-chefe do Nomura Securities, David Resler, sobre o relatório de emprego referente ao mês de julho, divulgado na semana passada, que mostrou um corte de 247 mil postos de trabalho, ante expectativa de redução de 275 mil vagas.

 

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Em Nova York, é consensual entre os economistas que a recessão nos EUA já deve ter chegado ao fim. Os profissionais vinham antecipando desde o início deste ano que isto estava para ocorrer neste segundo semestre. A maioria deles, no entanto, não está convencida de que o pico para a taxa de desemprego estaria em 9,5%, conforme registrado em junho, e tornam a advertir sobre o entusiasmo ligado ao leve recuo de 0,1 ponto porcentual da taxa de desemprego em julho, que ficou em 9,4%, ante expectativa de alta para 9,7%.

 

Segundo os analistas em Wall Street, o relatório de emprego corrobora as evidências de fim da recessão, mas não pelo comportamento da taxa de desemprego. O payroll é o item do relatório de emprego que é considerado como o centro desta evidência, com o abrandamento no corte de postos de trabalho. "Duvidamos que a taxa de desemprego tenha atingido o pico em 9,5%.

 

Usualmente, a taxa atinge o pico algum tempo depois de uma série de avanços no payroll", acrescenta Resler.

 

O payroll revelou corte de 247 mil postos de trabalho em julho, ante número superior a 400 mil vagas fechadas em junho. O economista-chefe do braço de pesquisa do First Trust Advisors, Brian Wesbury, acredita que o payroll deverá parar de mostrar redução de postos de trabalho apenas no fim deste ano. Do lado da taxa de desemprego, no entanto, a expectativa é de novos avanços.

 

Vale lembrar que o pequeno alívio na taxa de desemprego no mês passado é amplamente atribuído ao declínio na força de trabalho como porcentual da população economicamente ativa (PEA). O número ficou em 65,5% em julho, 0,2 ponto porcentual abaixo do registrado em junho. A preocupação sobre a celebração em torno do pequeno alívio no nível da taxa de desemprego tem raiz na provável frustração que deverá ocorrer se a taxa de desemprego voltar a avançar, conforme prevê a maioria em Wall Street. Se muitos passaram a apostar que a recessão está acabando com base no leve declínio na taxa de desemprego em julho, é provável que passem a acreditar que a recessão não acabou quando a taxa voltar a avançar. Mas Wesbury destaca a percepção de que "a economia está em uma recuperação de formato V". E avisa que "ainda vai levar algum tempo para que a recuperação se traduza em ganhos de postos de trabalho".

 

Já o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA deve voltar a crescer no terceiro trimestre deste ano, mas a retomada em 2010 deve ser anêmica, acrescenta o economista-sênior do Goldman Sachs, Andrew Tilton. Isto deve fazer com que a taxa de desemprego rume dos atuais 9,4% para 10,25% até o fim do ano que vem. Ele espera agora o mesmo tipo de recuperação sem empregos que ocorreu nos dois ciclos econômicos mais recentes, quando companhias evitaram contratar mais trabalhadores até que aumentos na demanda estivessem bem definidos. Este comportamento, acrescenta ele, mina a recuperação, prolongando a defasagem entre o ponto mais baixo registrado pelo PIB e o pico da taxa de desemprego.

 

"A recessão está morta. Longa vida para a recuperação", declarou Dean Maki, do Barclays Capital, em nota para clientes. No entanto, esta constatação não impede o analista, assim como a maioria em Nova York, de prever que a taxa de desemprego ainda irá avançar mais e apenas deverá começar a cair de forma sustentável em 2010. "Esperamos avanço (da taxa) no segundo semestre de 2009 e começo da queda em um ritmo regular no primeiro trimestre de 2010", escreveu, ao projetar o pico da taxa em 10% no fim deste ano.

 

Para 2010, então, ele estima que a taxa de desemprego deve iniciar trajetória de declínio, saindo dos 10% antecipados para fechar o último trimestre do mesmo ano em 9,2%. Sobre a tendência da taxa de desemprego nos próximos meses, Christopher Rupkey, do Bank of Tokyo-Mitsubishi, relembra um trecho do depoimento do presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, em julho. "Mesmo que a economia comece a avançar em termos de produção, o desemprego vai permanecer elevado por um tempo. Assim, não será sentida como uma economia realmente forte", disse o chairman ao Congresso, no dia 21 do mês passado, citado pelo economista.

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