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Werlang defende a autonomia do BC já

Por Agencia Estado
Atualização:

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva deve conceder o mais rapidamente possível a autonomia operacional para o Banco Central (BC), na opinião de Sérgio Werlang, diretor do Banco Itaú. Werlang é ex-diretor de Política Econômica do Banco Central. Ele foi o diretor do BC mais diretamente envolvido na implantação do sistema de metas de inflação no Brasil, em 1999. Para Werlang, o mercado está inseguro quanto à autonomia do Banco Central no governo Lula - isto é, a liberdade do BC para fixar a taxa básica de juros (Selic) e usar outros instrumentos de política monetária, sem se preocupar com a opinião do Executivo e dos políticos. "É muito importante fazer a autonomia o mais rápido possível, porque há sempre a desconfiança de que há interferência no BC", disse o diretor do Itaú. Werlang acha que a desconfiança sobre a autonomia do Banco Central para usar todas as armas de combate à inflação é um dos fatores que vêm levando as expectativas inflacionárias a continuar subindo nas últimas semanas. O diretor frisa que aquela desconfiança não é necessariamente uma opinião pessoal dele - "o que eu acho ou deixo de achar não tem a menor importância" -, mas uma sensação que permeia o mercado. Desta forma, o diretor do Itaú acha má idéia a estratégia - que teria sido considerada nos últimos dias entre as forças políticas que dão sustentação ao governo petista - de adiar o projeto de autonomia do BC, e concentrar os esforços no desenho e aprovação da reforma da Previdência. Por este raciocínio, o governo precisa poupar seu cacife político diante da série de propostas que vêm provocando resistência das alas mais à esquerda do PT. A reforma da Previdência, peça vital para dar ao mercado segurança sobre a solvência fiscal do País a médio e longo prazos, seria mais importante do que a autonomia operacional do BC, que, na prática, significaria apenas colocar na letra da lei o que pode (e já estaria sendo) ser informalmente outorgado pelo presidente da República. Além disto, existe o fator extra de que a autonomia do Banco Central é um conceito particularmente rejeitado pela ala mais radical do PT. Estratégia errada Para Werlang, a estratégia de postergar a autonomia legal do BC, se implementada, será um grande equívoco. Ele acha que Previdência e Banco Central são assuntos independentes, que devem ser tocados em paralelo. O atraso na implementação da autonomia do BC, para ele, pode trazer muita dor de cabeça para o PT, porque provocará mais inflação ou mais necessidade de juros altos para combatê-la. Segundo Werlang, a gestão de Armínio Fraga, no governo de Fernando Henrique Cardoso, conquistou credibilidade para a idéia de que, mesmo sem uma lei formal, havia de fato autonomia operacional no Banco Central. O BC do PT, porém, não estaria herdando automaticamente aquela credibilidade específica, mesmo com todas as declarações naquele sentido feitas pelo atual presidente, Henrique Meirelles, e pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Deste modo, a única forma de dar certeza ao mercado de que a autonomia operacional existe de fato é fazer com que ela exista de direito, aprovando-a em lei.

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