O ministro do Comércio Exterior dos Estados Unidos, Robert Zoellick, ficou satisfeito com a conversa que teve nesta segunda-feira com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na residência oficial da embaixada do Brasil em Washington. "Foi um bom encontro", disse um funcionário americano. "Eles discutiram a situação do comércio em seu conjunto, o papel que a administração brasileira vê para o comércio em sua estratégia econômica e como a Área de Livre Comércio das Américas se encaixa nessa estratégia". Zoellick aceitou, em princípio, um convite do chanceler Celso Amorim, seu principal interlocutor no governo brasileiro, para fazer uma visita a Brasília no final de maio para discutir a fase final das negociações do acordo com a Alca, que é co-presidida pelo Brasil e EUA. Do ponto de vista dos EUA, a reunião com Palocci, realizada a pedido de Zoellick, é parte dos preparativos para as conversas que o representante americano terá no Brasil no mês que vem e que são vistas pelos dois lados como decisivas. O governo americano procurou descrever a co-presidência brasileiro-americana na Alca, até agora, como uma experiência positiva. Mas o impasse nas negociações sobre subsídios agrícolas na Rodade de Doha da Organização Mundial de Comércio, a relutância de Washington em discutir este e outros temas sistêmicos no âmbito regional, como quer o Brasil, e as divergências dentro do governo brasileiro sobre a Alca põem em dúvida no futuro do acordo, que os 34 países membros comprometeram-se a concluir até janeiro de 2005. Com esse pano de fundo, funcionários dos dois governos disseram que a conversa entre o chefe do USTR e o ministro da Fazenda foi importante porque colocou a discussão sobre comércio entre os dois países e o debate sobre a Alca no contexto mais amplo da estratégia macroeconômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O secretário de Assuntos Internacionai do ministério da Fazenda, Otaviano Canuto, ofereceu uma dimensão da visão oficial brasileira sobre a Alca que não tem figurado nos debates sobre a Alca. Em palestra promovida pelo Centro de Estudos Estratégicos Internacionais e pelo Diálogo Interamericano, o alto funcionário disse que o Brasil "é pelo livre comércio" e lamentou que os grandes obstáculo às liberalização residam hoje "nas nações desenvolvidas". Sobre a Alca, Canuto lembrou que os efeitos comerciais de um acordo serão sentido no futuro, pois o calendário de liberalização em discussão estende-se por mais de dez anos. Mas ele deixou claro que há razões mais imediatas, além dos efeitos comerciais do acordo, que orientam o interesse do Brasil em engajar-se nas negociações. "À medida em que avançarmos nesse processo de negociação, isso provavelmente se refletirá na taxa (internacional) de juros" do País, disse Canuto.