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Zona do euro entra em recessão

PIB da região, que reúne os 15 países que adotam a moeda única, caiu 0,2% no terceiro trimestre do ano

Por Jamil Chade
Atualização:

Nas principais capitais européias, os primeiros ventos gelados do inverno no Hemisfério Norte começavam ontem a assustar e pareciam anunciar o que todos temiam: a primeira recessão da história de uma década da zona do euro. Segundo dados oficiais da União Européia, o bloco de 15 países que usam o euro entrou em sua primeira recessão desde que a moeda comum foi criada. No terceiro trimestre, a economia da região caiu em 0,2%. Como é a segunda queda consecutiva, a recessão foi confirmada. A UE anunciou que vai adotar uma pacote de medidas no dia 26 para estimular a economia da região. Mas, divididos, os países do bloco ainda mantêm iniciativas isoladas para proteger suas indústrias. O impacto da crise originada nos Estados Unidos está sendo amplo: redução de créditos, empresas fechando as portas, desemprego e, agora, recessão. "A crise é chocante para os europeus, porque ocorreu de forma abrupta", disse Jan Herbermann, especialista de negócios do jornal alemão Handelsblatt. "As pessoas esqueceram o que é uma depressão profunda. Crises sempre ocorreram nas últimas décadas, mas não nesta magnitude. Isso será novidade para muitos." A recessão ainda é anunciada às vésperas do encontro em Washington em que os europeus pretendem usar para começar a refundar o sistema financeiro internacional. Como pano de fundo para a crise está a tentativa de estabelecer maior cooperação para evitar que um desequilíbrio em uma economia importante, como a americana, acabe levando todos a uma recessão. Para o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, "ninguém deve esperar um milagre imediato do encontro". A realidade é que a economia européia sofrerá alguns meses antes que a arquitetura mundial seja refeita. Uma das economias mais afetadas será a da Alemanha, com queda de 0,5% no terceiro trimestre. Segundo o Commerzbank, a economia alemã ainda sofrerá contração de 0,8% nos três últimos meses do ano - nem o Natal salvará. Há menos de três meses, a chanceler Angela Merkel tentava garantir à sua população e a futuros eleitores em 2009 que a Alemanha "não entraria em recessão". O Reino Unido e a Irlanda também entraram em recessão. Na Itália, o PIB recuou 0,5% no terceiro trimestre, a maior queda desde 1998. No segundo trimestre, a economia já havia encolhido 0,4%. A recessão é a primeira desde 2005. Mas a queda promete ser mais profunda. Na comparação com o terceiro trimestre de 2007, o PIB italiano caiu 0,9%, a maior perda desde 1993. A Espanha vive um clima de fim de festa, depois de anos de boom imobiliário. A contração do PIB foi de 0,2% no terceiro trimestre. O país só não entrou em recessão porque no segundo trimestre avançou 0,1%. A queda, porém, é a maior em 15 anos e a onda negativa deve continuar até o fim do ano. A última retração ocorreu em 1993. Desta vez, o fim do boom imobiliário gerou queda na demanda. Portugal conseguiu evitar uma queda. Mas estagnou. O PIB da Holanda também ficou estável no terceiro trimestre deste ano em comparação com o segundo. A Hungria teve de aceitar contração de 0,1% no PIB, depois de um crescimento de 0,4% no segundo trimestre. Entre as grandes economias européias, a França é a única que escapou, por enquanto, da recessão. Mas conseguiu um crescimento insignificante de 0,1% no terceiro trimestre. Para a revista The Economist, a França apenas "adiou o inevitável". Ontem, a Renault voltou a cortar sua produção de carros. No segundo trimestre, a economia francesa havia registrado contração de 0,3%. Em toda a Europa, os dados apontam para uma situação cada vez mais crítica em 2009. Nos 27 países da União Européia, a contração do PIB foi de 0,2% no trimestre passado. O bloco ainda não entrou em recessão, mas essa realidade pode ocorrer já no quarto trimestre. Para 2009, a previsão é de que a recessão continue na zona do euro. Em todo o ano de 2008, o crescimento da zona do euro será de 1,2%, de 0,1% em 2009 e de 0,9% em 2010. Em 2007, a alta foi de 2,7%. Enquanto isso, as empresas consideradas sólidas da região mostram sinais de fraqueza. A Bulgari, terceira maior fabricante de jóias do mundo, cortou as metas de expansão ante a queda do consumo. A Holcim, segunda maior empresa de cimentos do mundo, anunciou que está fechando uma fábrica na Espanha. A Basf da Alemanha anunciou novas demissões, enquanto a Michelin cortou a produção e postos de trabalho. Como um sinal da crise, a Associação de Fabricantes de Carros da Europa anunciou ontem que a venda de carros novos caiu 14% em outubro, depois de um recuo de 8% em setembro e 15% em agosto. Na Espanha, a queda de vendas chega a 40% em outubro, contra 23% no Reino Unido. Mas um dos poucos impactos positivos está sendo sentido no euro, com uma desvalorização de 25% em relação ao dólar em quatro meses. Para analistas, isso pode acabar ajudando as exportações do continente.

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